Terminaram as Jornadas (JMJ). Muito mais do que o "espectáculo" televisivo, meticulosamente montado e com muita treta pelo meio, interessou-me seguir as palavras de Francisco, o Papa "que veio do fim do Mundo". Há muito tempo que o faço, distante dos rituais, mas pelo apreço que tenho pela profundidade das suas intervenções ditas de forma simples, incisivas, dirigidas para dentro e para fora da Igreja, o seu pensamento que traduz e contextualiza a Palavra, pelo apreço que mantenho pelo Homem que espeta o dedo, "sem medo", nas feridas políticas que sangram, não com paleios fúteis, mas com a determinação que "os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e estruturas económicas injustas, que originam as grandes desigualdades".
Circunscrevo-me à Diocese do Funchal, a esta região minúscula de Portugal. Aqui sempre vivi e acompanhei os seus líderes. Com alguma atenção, com as devidas excepções que a regra quase sempre impõe, tenho, obviamente, uma leitura, mesmo que mínima, de todo o espaço nacional. Mas não quero generalizar. Fico-me por aqui e, portanto, não vou lá atrás. Fico-me, apenas, pelos Bispos do período democrático desta Região: D. Francisco Antunes Santana (1974-1982); D. Teodoro de Faria (1982-2007); D. António José Cavaco Carrilho (2007-2018); D. Nuno Brás da Silva Martins (2018-). E, naturalmente, interrogo-me sobre o que fizeram e o que deixaram portador de futuro. No essencial, que razões os levaram a não assumirem um claríssimo compromisso com a Palavra, a não serem os percursores do discurso de Francisco, antes terem optado pela rotina embrutecedora, estupeficadora e cristalizadora de uma Igreja que antes devia ser libertadora, agregadora e frontal relativamente aos "falsos crentes".
Ficaram, grosso modo, pelos rituais, pelo martírio do medo, do pecado e até pela perseguição a quem pensasse de uma forma diferente à luz da Palavra do Evangelho. Exemplo maior o que fizeram ao Padre José Martins Júnior. Foi necessária uma resiliência de quase 50 anos, um estoicismo de quem sempre interpretou que o sentido da Igreja é para "todos, todos, todos", na sua absoluta negação de ser funcionário e pela convicção que "é um escândalo ir à igreja e depois odiar os outros". Cinquenta anos de perseguição e de maledicência e ainda não lhe pediram perdão, sublinho! Mas outros andaram e andam por aí, uns que, voluntariamente, deixaram a sua vocação, porque desencantados com catalogações políticas diversas e cansaço por violação das suas consciências, outros que continuam, embora olhados de esguelha, porque animados do sentimento do Papa Francisco, de que "é preciso perder o espírito de resistência à mudança". Curvo-me perante estes, os que já faleceram e alguns de infinita coragem.
Caiu o pano das Jornadas. Tempo agora para "todos" olharem para dentro e deixarem de brincar aos santinhos e aos rituais. É a Palavra, a Mensagem que interessa. E isso impõe ser frontal, dizendo não e apontando que há muito reizinho nu. É tempo de colocar muita gentinha em sentido, doa a quem doer e sem deles falar. Sem joguinhos político-partidários, sempre escondidos mas sempre com o rabo de fora, para que "todos, todos, todos" sintam, na esteira do Papa Francisco que "ser cristão não se reduz a cumprir mandamentos" (...) e que "a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração."
Ilustração: Google Imagens.
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