Já vai na ONU... como se não tivéssemos mais nada que nos preocupar do que com a história que enche páginas, telejornais, debates, comentários, redes sociais em polvorosa, movimentos diversos de defesa disto e daquilo, todos com os cabelos em pé, tudo por causa de um beijo dado no meio de um incontido momento de esfusiante alegria. Que ele devia ter evitado, não apenas pela posição que ocupa, mas pelo significado e repercussões públicas, obviamente que sim; que devia coibir-se pelo respeito à mulher-atleta, certamente que todos estaremos de acordo. Mas daí ao chinfrim que daquela acção resultou, parece-me exagerado. Um centímetro ao lado da boca e já ninguém falaria do assunto. A não ser que o passado da personalidade em questão seja pouco recomendável.
Tenho o maior asco pela violência sobre as mulheres, o maior vómito pelas atitudes, sobretudo masculinas, que menorizam, sublinho, o valor da Mulher, em todos os campos, a maior repugnância contra situações que inferiorizam a Mulher no reconhecimento familiar, social, salarial e político, enfim, sintetizo, ambos os géneros, seja qual for a identidade sexual, merecem-me o maior respeito enquanto seres humanos.
Já vi fotografias, na prática desportiva, de homens beijando-se, mulheres beijando-se, homens e mulheres apalpando-se, situações que me podem levar a dizer que "não havia necessidade", porém, a expressão das emoções enquanto resposta do corpo aos estímulos (conquista de um campeonato do Mundo) deve, julgo eu, ser equacionada e enquadrada num espaço que não me parece ser de "agressão sexual", mas sim de esfusiante e incontrolável alegria. Repito, a não ser que o autor seja portador de um histórico condenável! Aí a história é outra, porque pode pressupor uma intencionalidade.
Mais grave e sobre o qual ninguém fala é o seu gesto obsceno a dois passos da Rainha Letícia. Essa situação pareceu-me de uma gravidade extrema: pelo gesto ordinário e ofensivo e pelo facto de saber que hoje nada escapa às câmaras que transmitem o acontecimento.
Por mim, aquela situação, não é que me passe ao lado, mas coloco-a na dimensão de um espectáculo mundial medíocre. E por falar de beijos, entre outros, prefiro apreciar o de Gustav Klimt que já por três vezes apreciei na galeria de Belvedere (Viena) ou, então, a monumental obra escultórica em mármore que tive a oportunidade de, recentemente, voltar a apreciar no museu de Rodin, em Paris. Esses sim, são beijos que espelham muito mais do que a atitude impensada de uma qualquer figura do futebol.
Regressando ao início, mais preocupado estou com a(s) guerra(s) que assolam o planeta, com a fome que grassa no mundo, com todos os que hoje estão confrontados com pornográficas taxas de juro na habitação, com os especuladores que fazem dinheiro com o nosso dinheiro, a banca, por exemplo, com os salários de miséria, com o negócio da droga, com o avassalador número de jovens que não estudam nem trabalham, com as políticas de governos que apenas olham para a manutenção do seu poder, com a corrupção, com a violência gratuita a todos os níveis, com as alterações climáticas, com a morte às centenas de migrantes, esses sim, entre muitos outros, parecem-me ser situações que deviam merecer um outro olhar acutilante da comunicação social.
Ilustração: Google Imagens.
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