Caríssimo Amigo Engº Arlindo Oliveira.
Relativamente ao meu último texto, aqui publicado, li e reli o comentário que muito agradeço. Discutir e debater são dois aspectos distintos. O meu Amigo não discute (isso enquadra-se nas ninharias de café); antes debate, o que implica âmbitos de opinião mais extensos e complexos.
É evidente que o nosso País enferma de um gravíssimo problema estrutural. Não tem existido, em quem governa, nem inteligência nem coragem para ser prospectivo. Trazer o futuro ao presente, desenhando-o e planeando-o, não tem constituído, como vulgarmente se diz, "a praia dos políticos portugueses". Vamos, cronicamente, adiando e adiando, metendo pelo meio discursos que só aparentemente são sensatos. Por isso, a sensação que resta é que, em quase tudo, gostamos mais das "águas mornas", dos interesses e privilégios do que romper com o passado que possibilite traçar um caminho de sucesso. E assim, muitas vezes, o povo, manipulado, até vota contra os seus interesses. E esse caminho, o do desenvolvimento, como sabemos, leva anos, muitos anos para desenhá-lo, elaborá-lo e construi-lo com a necessária solidez. Porém, ficamos com o sentimento que as gerações passam e as múltiplas dependências e atrasos persistem. É um triste facto (ia dizer fado!) que me leva a dizer que muitos dos problemas estruturais que hoje enfrentamos têm razões intencionalmente "escondidas" a montante. É a ordem estabelecida que prevalece. Tem interessado que assim seja. Genericamente, apreciamos e engolimos mais o mediático do que interessados estamos em montar as peças interdependentes do puzzle que vise uma sociedade globalmente decente e feliz.
No sector pelo qual tantas vezes escrevo e tenho opinião (Educação), atente-se, como mero exemplo, no quadro angustiante, conceptualmente paupérrimo em função do que deveria ser uma Educação portadora de futuro, a montante e a jusante do sistema. Não existe um pensamento estrutural sobre a(s) cultura(s) que torne a prazo esta sociedade menos dependente, mais rica e, logicamente, menos assimétrica. Uma coisa é ter o direito constitucional à escolaridade, outra é perceber o que lá se faz e para que aquilo serve na vida! É, assumo, doentia a mentalidade permanentemente indigente na qual vivemos.
Portanto, Amigo, que tudo isto tem uma natureza estrutural, eu sei. O que não posso é admitir, enquanto cidadão português e europeu, que a Banca nos explore até ao tutano. Com o nosso próprio dinheiro, sublinho. E que o BCE estabeleça normas, clara e doentiamente especulativas, como se a nossa economia fosse exactamente igual à dos outros.
Enfermamos de dois males (entre muitos outros, claro): por um lado, de um pensamento estrutural, que nos poderia levar a um patamar de riqueza; por outro, do capitalismo selvagem, de bocarra larga que, ao contrário de gerar desenvolvimento (sentido qualitativo), antes provoca o empobrecimento dos cidadãos.
Por isso, regresso aos milhões da Banca, enquanto uma das partes do processo. A sensação que transporto é que, antes, entrávamos numa instituição bancária para comprar dinheiro, com interesse e respeito bilateral na negociação; hoje, entramos já com os braços no ar porque somos, claramente, assaltados e sem meios de defesa. E nem precisam de cobrir o rosto. É às claras. Até para levantar uma certa quantia do seu dinheiro o depositante tem de pagar!
Depois, Caríssimo Amigo Arlindo, pergunto, tarde ou cedo, não querem que as pessoas se revoltem, seja com coletes amarelos ou de qualquer outra cor? Obviamente que têm de se revoltar. Isto acontecerá quando descobrirem a verdadeira letra da "canção do bandido".
O problema é que quem aufere 1 620,42 € de salário diário (CL) dificilmente tem espaço mental para pensar na vida dos outros, adoptando políticas equilibradas.
Um grande abraço.
Ilustração: Google Imagens.
Ilustração: Google Imagens.
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