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segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Por uma questão de princípio...

 

Na passada semana, certamente para melhor posicionar-se na grelha de partida das eleições presidenciais, o Dr. Marques Mendes assumiu estar a pensar na sua candidatura à Presidência da República. Durante a semana li várias abordagens feitas por articulistas e comentadores. É óbvio que a figura em questão está no seu direito de anunciar a sua ambição, de forma subtil ou não, no tempo que, estrategicamente, entende ser o melhor. Pese embora tal eleição só tenha lugar em 2026. Faltam dois anos e meio. Eu sei que ainda não é candidato, apenas fez a primeira aproximação, como quem apalpa o terreno eleitoral, ressalvando "se for útil para o país". Sublinho uma vez mais que está no seu direito. Porém, ao "propor-se" também devia arcar com as consequências da sua posição, obviamente amadurecida.



Ora, ontem, vi-o, novamente, na SIC, a comentar a actividade política. Desde logo, ele é Conselheiro de Estado, um "órgão político de consulta do Presidente da República, por ele presidido". E um Conselheiro de Estado, desde logo, sustento, devia manter um distanciamento que oferecesse garantia de reserva e independência. O Conselho de Estado não é uma instituição de somenos importância. 

Isto é, ao Domingo assisto a um "conselheiro" a manifestar-se, às vezes directamente, sobre uma dada actuação, inclusive do Presidente da República e, na Segunda-feira, vejo-o sentado na mesa do Conselho de Estado, como se as suas opiniões já não fossem conhecidas. Aliás, vejo "conselheiros", por claros posicionamentos partidários, hoje, baterem forte no governo através de um dado comentário e, no dia seguinte, apresentarem-se à volta da mesa do Conselho de Estado, onde deles seria esperar distanciamento, independência e respeitabilidade. Enfim, são vários os casos. 

Considero que esta miscelânea não é minimamente saudável para a vivência democrática e respeito pelas instituições. Um Conselheiro de Estado deve ser uma referência, uma personalidade para quem se olhe e nos conceda segurança. Estar sentado em três cadeiras (a de comentador, a de conselheiro e a de pré-candidato), nas barbas do Presidente da República, parece-me ser, no mínimo, de pouca elegância. Por isso, embora esteja no seu direito de querer traçar o seu futuro político, repito, devia arcar com as consequências da sua atitude, saindo de Conselheiro e de comentador.

Entendo assim porque sempre entendi desta forma. Em 1993, por convite do Dr. Mota Torres (PS) fui convidado para ser candidato às eleições autárquicas, concretamente, à presidência da Câmara Municipal do Funchal. Passados uns dias decidi aceitar. Nesse tempo, de um só canal, enquanto colaborador, eu tinha a responsabilidade de coordenação e de apresentação de vários programas de Desporto. Era uma pessoa conhecida dos eleitores. Pois bem, no dia que decidi aceitar tal convite, dirigi-me ao director da RTP-Madeira, Senhor Armindo Abreu, a quem solicitei a minha imediata saída de apresentador de programas. Situação que agradeceu e elogiou, colocando um ponto final na responsabilidade que tinha. Por uma questão de princípio entendi que não fazia sentido continuar a promover a minha imagem, sabendo os eleitores que eu seria candidato. E ali, sublinho, a minha função não era sequer a de comentar situações de natureza político-partidária.

Repito, respeitando o pensamento de quem assim não entenda, baseando-se no facto de ser um candidato a candidato, para mim, constitui um princípio ético do qual não abdico e que qualquer cidadão devia respeitar. Não é aceitável querer estar sentado em três cadeiras distintas! Seja lá quem for e a origem partidária.

Ilustração: Google Imagens.

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