Na passada semana, certamente para melhor posicionar-se na grelha de partida das eleições presidenciais, o Dr. Marques Mendes assumiu estar a pensar na sua candidatura à Presidência da República. Durante a semana li várias abordagens feitas por articulistas e comentadores. É óbvio que a figura em questão está no seu direito de anunciar a sua ambição, de forma subtil ou não, no tempo que, estrategicamente, entende ser o melhor. Pese embora tal eleição só tenha lugar em 2026. Faltam dois anos e meio. Eu sei que ainda não é candidato, apenas fez a primeira aproximação, como quem apalpa o terreno eleitoral, ressalvando "se for útil para o país". Sublinho uma vez mais que está no seu direito. Porém, ao "propor-se" também devia arcar com as consequências da sua posição, obviamente amadurecida.
Considero que esta miscelânea não é minimamente saudável para a vivência democrática e respeito pelas instituições. Um Conselheiro de Estado deve ser uma referência, uma personalidade para quem se olhe e nos conceda segurança. Estar sentado em três cadeiras (a de comentador, a de conselheiro e a de pré-candidato), nas barbas do Presidente da República, parece-me ser, no mínimo, de pouca elegância. Por isso, embora esteja no seu direito de querer traçar o seu futuro político, repito, devia arcar com as consequências da sua atitude, saindo de Conselheiro e de comentador.
Entendo assim porque sempre entendi desta forma. Em 1993, por convite do Dr. Mota Torres (PS) fui convidado para ser candidato às eleições autárquicas, concretamente, à presidência da Câmara Municipal do Funchal. Passados uns dias decidi aceitar. Nesse tempo, de um só canal, enquanto colaborador, eu tinha a responsabilidade de coordenação e de apresentação de vários programas de Desporto. Era uma pessoa conhecida dos eleitores. Pois bem, no dia que decidi aceitar tal convite, dirigi-me ao director da RTP-Madeira, Senhor Armindo Abreu, a quem solicitei a minha imediata saída de apresentador de programas. Situação que agradeceu e elogiou, colocando um ponto final na responsabilidade que tinha. Por uma questão de princípio entendi que não fazia sentido continuar a promover a minha imagem, sabendo os eleitores que eu seria candidato. E ali, sublinho, a minha função não era sequer a de comentar situações de natureza político-partidária.
Repito, respeitando o pensamento de quem assim não entenda, baseando-se no facto de ser um candidato a candidato, para mim, constitui um princípio ético do qual não abdico e que qualquer cidadão devia respeitar. Não é aceitável querer estar sentado em três cadeiras distintas! Seja lá quem for e a origem partidária.
Ilustração: Google Imagens.
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