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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Quando não se tem noção do tempo

 

Na esteira do Filósofo Gaston Bachellard, tudo tem o seu tempo e ele já teve o seu. O Professor Cavaco Silva, com 84 anos de idade, politicamente, assim ainda não entendeu. O jornalista Manuel Carvalho, na edição de ontem do Público, a propósito da sua "aparição" no último congresso social-democrata, sublinhou: "O enlevo com Cavaco Silva é a descrença no futuro. (...) A nostalgia do cavaquismo pareceu valer mais do que uma visão, um programa, uma ideia (...). Nada de novo: a anestesia conformista do Estado Novo sempre procurou estimular o ânimo nacional com o passado. Antes, o Infante D. Henrique, agora, Cavaco Silva. Ficamos a perder". É isso. 



Apesar dos resultados eleitorais do Professor Cavaco Silva, duas maiorias absolutas e duas vitórias na corrida à presidência da República, passado esse tempo, a leitura política que uma grande parte do povo português faz é que se tratou de um tempo de graves erros estratégicos na condução do País. 

Está tudo ou quase tudo documentado, não valendo a pena desenterrar um tempo, pleno de fluxos financeiros europeus, que bem podiam ter servido para uma nova e promissora dinâmica geradora de crescimento, desenvolvimento e, por extensão, bem-estar do povo. A "aparição" do Professor Cavaco naquela reunião magna, talvez se justifique pela sua necessidade de dizer, ao jeito de Cristiano Ronaldo, "eu estou aqui". Só que, ao contrário de Ronaldo, não marca golos e não empolga, pelo contrário, afasta. 

O Professor Cavaco devia refugiar-se, quanto muito, em defesa própria, à condição de senador partidário, jamais à posição de, talvez mal comparadamente, a um velhinho galo de crista empinada sempre pronto para uma qualquer bicada de circunstância. São livros de memórias distorcidas, plenos de auto-elogio, artigos de opinião e até um livrinho fraco, dizem os comentadores, com o título: "O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar". A pedagogia da governação como se a sua experiência tivesse sido marcante para o futuro. O "galinheiro" é outro, Senhor Professor! As bicadas só o desprestigiam. Se pensa que a sua dimensão política é intocável, devia admitir que, hoje, para milhares, talvez milhões de portugueses, as suas posições são de um sentimento negativo inenarrável. Devia olhar, como referência, para o Senhor General Ramalho Eanes.  

Aliás, porque tudo tem o seu tempo, não vejo com bons olhos, perdoem-me o excesso de linguagem, o desfile de uma espécie de "parque jurássico político", quando o que está em causa é a renovação com personalidades socialmente credíveis, técnica e politicamente robustas em matérias decisivas para a crescente melhoria da produtividade e consequente felicidade do povo. Enganam-se os que julgam que o povo tem memória curta. Não sendo possuidor de uma elevada cultura política, ele sabe, no entanto, na síntese, pelo menos os que votam, formular leituras de tudo aquilo que se passa debaixo dos seus olhos de actor/espectador. Enganam-se e estampam-se os que alguns julgam que o povo vai na promessa fácil. Já são muitos anos de experiências vividas. Por outro lado, consequentemente, por ausência de uma nova ideia para o país, infelizmente, não é de estranhar que a extrema-direita cresça no quadro de uma certa desesperança. O que lhe resta? - pergunta o jornalista Manuel Carvalho sobre Montenegro: "Carisma fraco. Currículo, pouco. Capacidade de mobilizar, escassa". Só por aí se justifica o apelo àquilo que é comum por aí se ouvir: "a brigada do reumático".

Da sua presença no Congresso fica: "A minha mulher está à minha espera para jantar". É isso. Porque há um tempo para estar e um tempo para sair de cena. E há tanto para fazer na aposentação!

Ilustração: Google Imagens / Expresso

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