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domingo, 28 de abril de 2024

Tudo tem o seu tempo. "Para tudo há uma ocasião certa. Há um tempo certo para cada propósito"

 

O problema deriva da ausência de percepção desse tempo, o que conduz ao desejo de eternização como se a finitude dos projectos ou da vida não existissem. E ali criam raízes e redes tentaculares que acabam sempre por deixar perniciosos rastos que prejudicam as instituições públicas ou privadas, gerando dano e ruína. Vivem no delírio da figura rara e insubstituível, também porque sabem dos "esqueletos arrumados nos armários", tarde ou cedo tornados públicos. Encontramos isso no exercício da política e no associativismo em geral.



São os políticos que se agarram como lapas à rocha do poder, permanecendo vinte, trinta, quarenta anos, alimentando-se dos fios entrelaçados em malha larga, por onde passam inconfessados interesses, até ao associativismo, seja ele qual for, onde acabam por ficar presos nos nós das redes de vantagens que urdiram. É evidente uma similitude entre uns e outros. Por mais vias rápidas, escolas ou centros de saúde que mandem construir, por maiores que tenham sido as percentagens em actos eleitorais, há sempre um momento para terminar o seu próprio tempo. No associativismo não é diferente. Por mais estádios que construam e títulos que conquistem, dentro e fora do país, por maior que sejam as suas medalhas de reconhecimento, também existe um tempo para estar e um tempo para partir. Em suma, atingem sempre o ponto onde se descobre, até, a falácia dos inimigos externos, melhor dizendo, as lutas do Norte contra o Sul ou as da Madeira contra a República. Todos acabam por morrer às mãos dos eleitores.

Aliás, a Democracia é vivificante quando alguns pensam que são insubstituíveis, deixando, por isso, de ter a percepção que a tolerância também se esgota e que o voto soberano acaba por convidá-los, compulsivamente, a olhar para os indicadores da porta de saída. É certo que ninguém pode apagar a História e o mérito que, eventualmente, possam ter num dado momento, só que há sempre um tempo em que todos os assumidos insubstituíveis morrem, em todos os sentidos da palavra, porque a gigantesca roda da vida continua imparável com novos personagens e roupagens. 

Trago sempre em memória Dom Manuel da Silva Martins, Bispo Emérito de Setúbal: "(...) as alternâncias são sempre boas. Por muito boa que seja a pessoa que está, a partir de determinada altura alternar é bom. Já tive essa experiência na minha vida. Fui professor, saí, entrou outro, foi óptimo; fui vigário-geral, saí, entrou outro, foi óptimo; fui bispo em Setúbal, saí, entrou outro, foi óptimo. A alternância é magnífica a todos os níveis e em todos os sectores porque traz novidade, dá esperança, imprime outro ritmo de vida".

É exactamente isso. Quando, décadas a fio, vejo políticos enredados na sua teia, tudo fazendo para manter uma cadeira e um palco, como se o exercício da política não fosse um serviço à comunidade, antes um emprego para vida, quando assisto, por exemplo, a directores de escola, dez, quinze, vinte e mais anos à frente de um estabelecimento, quando, no associativismo se perpectuam perdendo a noção da própria esperança média de vida, lá vem o dia que, ao contrário de serem lembrados, terminam o seu tempo com baba e ranho convencidos da ingratidão dos outros! Deviam antes ter presente que "para tudo há uma ocasião certa. Há um tempo certo para cada propósito" - Eclesiastes - o sentido da vida.

Ilustração: Google Imagens.

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