O problema deriva da ausência de percepção desse tempo, o que conduz ao desejo de eternização como se a finitude dos projectos ou da vida não existissem. E ali criam raízes e redes tentaculares que acabam sempre por deixar perniciosos rastos que prejudicam as instituições públicas ou privadas, gerando dano e ruína. Vivem no delírio da figura rara e insubstituível, também porque sabem dos "esqueletos arrumados nos armários", tarde ou cedo tornados públicos. Encontramos isso no exercício da política e no associativismo em geral.
Aliás, a Democracia é vivificante quando alguns pensam que são insubstituíveis, deixando, por isso, de ter a percepção que a tolerância também se esgota e que o voto soberano acaba por convidá-los, compulsivamente, a olhar para os indicadores da porta de saída. É certo que ninguém pode apagar a História e o mérito que, eventualmente, possam ter num dado momento, só que há sempre um tempo em que todos os assumidos insubstituíveis morrem, em todos os sentidos da palavra, porque a gigantesca roda da vida continua imparável com novos personagens e roupagens.
Trago sempre em memória Dom Manuel da Silva Martins, Bispo Emérito de Setúbal: "(...) as alternâncias são sempre boas. Por muito boa que seja a pessoa que está, a partir de determinada altura alternar é bom. Já tive essa experiência na minha vida. Fui professor, saí, entrou outro, foi óptimo; fui vigário-geral, saí, entrou outro, foi óptimo; fui bispo em Setúbal, saí, entrou outro, foi óptimo. A alternância é magnífica a todos os níveis e em todos os sectores porque traz novidade, dá esperança, imprime outro ritmo de vida".
É exactamente isso. Quando, décadas a fio, vejo políticos enredados na sua teia, tudo fazendo para manter uma cadeira e um palco, como se o exercício da política não fosse um serviço à comunidade, antes um emprego para vida, quando assisto, por exemplo, a directores de escola, dez, quinze, vinte e mais anos à frente de um estabelecimento, quando, no associativismo se perpectuam perdendo a noção da própria esperança média de vida, lá vem o dia que, ao contrário de serem lembrados, terminam o seu tempo com baba e ranho convencidos da ingratidão dos outros! Deviam antes ter presente que "para tudo há uma ocasião certa. Há um tempo certo para cada propósito" - Eclesiastes - o sentido da vida.
Ilustração: Google Imagens.
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