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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

AINDA A QUESTÃO DO EMPOBRECIMENTO EM TEMPO DE ORÇAMENTO DE ESTADO


"Os senhores da aldeia global têm a sua própria agenda política e resistem a quaisquer mudanças económicas e sociais que não se ajustem aos seus interesses financeiros. Juntos, eles exercem um poder homogeneizante sobre as ideias, a cultura e comércio que afectam as maiores populações de que se tem conhecimento desde sempre. Nem César, nem Hitler, nem Roosevelt nem qualquer papa tiveram tanto poder como eles para moldar a informação da qual tantas pessoas dependem para tomar decisões sobre as mais variadas matérias: desde em quem votar até ao que comer". Eles processam, refinam e presidem à circulação de imagens e de informações que determinam as crenças e atitudes e, em última instância, o comportamento. E o povo é o culpado, e o povo é que tem de ser espezinhado e submetido às leis impostas pelo deus mercado?


Temos de empobrecer. Não sei se esta foi a frase dita pelo Primeiro-Ministro, mas o sentido foi aquele. Diariamente, aquela frase baila-me entre pensamentos e leituras que vou fazendo a esta versão do PREC (processo revolucionário em curso - 1974/75...) agora transformado em PEEC (processo de empobrecimento em curso). Empobrecer, dizem os estrategos desta tragédia da direita política nacional, porque, imagine-se, temos vivido e vivemos acima das nossas possibilidades. Isto é, todos nós estamos condenados a viver na pobreza. Todos nós, não é bem assim, pois que uma parte continuará a somar riqueza à riqueza acumulada sem que lhe toquem na riqueza. Muitas vezes uma riqueza mal explicada, de natureza especulativa, mas que se multiplica, é verdade. Não que tenha alguma coisa contra os ricos, desde que o consigam de forma honesta, através da criatividade, da inovação, do sentido de risco, da criação de postos de trabalho correctamente remunerados e paguem, atempadamente, os impostos. O que não aceito é que a esmagadora maioria, por maior que seja o seu esforço diário, não consiga atingir os patamares mínimos que possam garantir a estabilidade, o bem-estar, a educação e a saúde. E quando a maioria está mergulhada em água até ao pescoço, esbracejando em busca de uma bóia, em fase de pré-afogamento, o nosso primeiro, com a serenidade de um "anjo", diz-nos, laconicamente, que temos de empobrecer! Ainda mais...
Mas que culpa pode ser imputada à generalidade do povo? Que culpa terão os desgraçados pelos desmandos, pelos egoísmos, pela irresponsabilidade de quem tinha o dever político de governar e de regular todos os sistemas? Que culpa pode ser atribuída a uma esmagadora maioria, sem falar dos pensionistas, que ganha 400 a 600,00 Euros? E que culpa terão pela falência do BPN, entre outras? E, entre tantas e tantas situações gravosas, será que 1000,00 Euros, em função do custo de vida, das responsabilidades familiares, constitui um valor que possa ser subtraído nos subsídios de Natal e de férias, quando se sabe que tais subsídios, mor das vezes, se destinam a reequilibrar situações difíceis e acumuladas ao longo do ano? Ou terão sido os bancos, na ânsia gulosa da multiplicação dos lucros, face a um povo que não foi educado para o valor do dinheiro e para uma estável organização de vida, que convidaram a entrar na louca fantasia do desfrute hoje e pague amanhã? E que entidades políticas regularam a situação? E que contraponto foi feito? Então o povo, o povo mais pobre, é que tem de suportar os erros muito graves de um sistema global triturador? Ben H. Baddikian, citado por Jorge de Campos (1994), sublinha que "os senhores da aldeia global têm a sua própria agenda política e resistem a quaisquer mudanças económicas e sociais que não se ajustem aos seus interesses financeiros. Juntos, eles exercem um poder homogeneizante sobre as ideias, a cultura e comércio que afectam as maiores populações de que se tem conhecimento desde sempre. Nem César, nem Hitler, nem Roosevelt nem qualquer papa tiveram tanto poder como eles para moldar a informação da qual tantas pessoas dependem para tomar decisões sobre as mais variadas matérias: desde em quem votar até ao que comer". Eles processam, refinam e presidem à circulação de imagens e de informações que determinam as crenças e atitudes e, em última instância, o comportamento. E o povo é o culpado, e o povo é que tem de ser espezinhado e submetido às leis impostas pelo deus mercado?
É evidente que a situação está criada e face ao quadro internacional não há muitas escapatórias. Mas elas existem. O que seriamente me preocupa é a facilidade com que sacam o dinheiro ao povo pobre, sem que outras alternativas sejam procuradas. Ora, sou um intransigente defensor da paz e da estabilidade social. Acredito no diálogo, mas acredito também que há limites para o sofrimento. Otelo Saraiva de Carvalho falou ontem de limites que estão quase a ser ultrapassados, com todas as consequências que daí poderão resultar. Oxalá os políticos percebam isso e percebam que os sacrifícios estão a matar o povo, sobretudo aquele povo que não é culpado pelos erros dos outros. Tinha eu aí uns 14 anos e ouvia o meu pai, ironicamente, gozando o regime de então, dizer que "éramos um país em vias de desenvolvimento". Passaram-se quase 50 anos e continuamos no pântano.
Ilustração: Google Imagens.  

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