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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DA VINGANÇA AO VAZIO DO DISCURSO DA TOMADA DE POSSE


Ao contrário de constituir uma alegria para o povo, se considerarmos alguém que traz um projecto novo, o empossado demonstrou que esta tomada de posse teve qualquer coisa de tristeza por constituir-se numa espécie de comissão liquidatária. Com a Autonomia suspensa o empossado falou e falou e nada de novo disse. Divagou e divagou pela "perigosa" Constituição da República, pelas sociedades secretas, pela comunicação social, passou pelos casamentos homossexuais e, inevitavelmente, por uma construção teórica, dizendo não dizendo, sobre a independência da Madeira questionando se não existirá uma civilização madeirense. Falou dos discursos vazios dos outros, mas ele próprio acabou por fazer um discurso absolutamente desadequado das circunstâncias que envolvem a Madeira. Foi incapaz de trazer a esperança, nem o saberia fazer, pois sei que a sua resposta política é sempre a mesma independentemente das variáveis e dos contextos em causa.


Um político não deve ser vingativo. Se, na vida, as relações interpessoais devem pautar-se distantes desse quadro, particularmente, no desempenho político as situações de vingança sempre me perturbaram. Quando leio, no DN, a alegada atitude de vingança do Dr. Jardim, a propósito de "facadas nas costas" dos seus correligionários de partido, a primeira leitura que ele deveria fazer às tais críticas que os seus "amigos" lhe fazem ou lhe terão feito, é se tal não ficará a dever-se à sua própria postura política, ao bloqueio das aspirações de outros e aos erros de governação. Qual ditador, alegadamente, vingar-se-á! Afastará e, certamente, colocá-los-á na prateleira. Para ele, no plano político, só conta a subserviência, o nariz colado ao joelho, a obrigatória vénia porque sou o "único importante", já o disse. Aliás, não estranho este comportamento pois sempre foi assim entre os confrades e, no plano externo, com todos os que se lhe opuseram. É assim que politicamente sobrevive e é por essa via que almeja chegar aos 37 anos de poder ininterrupto. A ambição de querer ficar na História, mesmo que seja pelos piores motivos, supera a dignidade política onde tudo deve ter o seu tempo e tudo não deve ser medido por uma qualquer longevidade no poder. Aliás, a História bem recente tem sublinhado o que acontece a todos quantos se mantêm no poder durante longos anos. No mínimo, acabam por sair pela porta dos fundos. Preocupa-me o facto de alguns não terem a noção que a política não deve ser um emprego, ou uma droga, mas um serviço público à comunidade. Eles lá sabem que razões sustentam o seu apego ao poder.
E esta tarde o UI (único importante)  lá tomou posse, pela décima vez! Ao contrário de constituir uma alegria para o povo, se considerarmos alguém que traz um projecto novo, o empossado demonstrou que esta tomada de posse teve qualquer coisa de tristeza por constituir-se numa espécie de comissão liquidatária da Região. Com a Autonomia suspensa o empossado falou e falou e nada de novo disse. Divagou por uma série de conceitos, trouxe à colação citações desde o Padre António Vieira ao Dr. Peter Druker, divagou pela "perigosa" Constituição da República, pelas sociedades secretas, pela comunicação social, passou pelos casamentos homossexuais e, inevitavelmente, por uma construção teórica, dizendo não dizendo, sobre a independência da Madeira, questionando até se não existirá uma civilização madeirense. Falou dos "discursos vazios" dos outros, mas ele próprio acabou por fazer um discurso absolutamente desadequado das circunstâncias que envolvem a Madeira. Foi incapaz de trazer a esperança, nem o saberia fazer, pois sei que a sua resposta política é sempre a mesma independentemente das variáveis e dos contextos em causa. É assim, porque é assim! 
Falou da "pessoa humana", de uma revolução "apontada ao primado da pessoa humana" e pergunto, afinal, o que andou a fazer  durante trinta e três anos, face aos indicadores que a comunidade madeirense apresenta? Quando falou de um sistema educativo que conduziu à "estupidificação do povo", pergunto, afinal, se, por aqui, não terá sido essa a sua intenção? Disse: "não contem comigo para conviver com a mediocridade". Bem prega o empossado e mais não quero dizer!
Os verdadeiros problemas, os problemas resultantes da dívida, os problemas do desemprego e da pobreza, os problemas do tecido empresarial, os problemas da saúde e da educação, os problemas das negociações que poderão vir a impor uma dupla austeridade, esse mundo de assuntos de relevante importância que todos os madeirenses têm o direito de conhecer como os irá resolver, ficaram escondidos por um discurso massacrante de uma hora, difuso e confuso. Enfim, o resultado das escolhas do Povo.
Finalmente, poupe-nos Dr. Jardim, então o Dr. Brazão de Castro fez uma obra "notável junto da juventude"? E o Engº Santos Costa foi um político que deu "qualidade de vida aos madeirenses"? Poupe-nos, repito.
Ilustração: Google Imagens.

4 comentários:

Pica-Miolos II disse...

Deprimente!!! Querendo fazer-se passar por "estadista",numa longa arenga,recheada de recorrentes clichés de conversa de café...fugiu-lhe o pé para o roto chinelo.
Lindo,lindo, foi o beija-mão da clientela!

Fernando Vouga disse...

Caro André Escórcio

Confesso a minha falta. Pela primeira vez na minha vida, ouvi o discurso de Jardim de uma ponta à outra. À espera de uma réstea de realismo, de sentido de Estado, de dignidade. Mas não. Foi uma hora de mais do mesmo. Ele é que sabe, ele é que tem os livros e os outros é que são todos estúpidos, ignorantes e maldosos. E ao discurso até não faltaram os acenos afirmativos de cabeça da parte dos que lhe lambem as botas.
Duvido que, no entanto, ele cumpra o mandato até ao fim. Sem poder fazer batota nas contas e no resto (por culpa das tais facadas nas costas, note-se), sabe muito bem que as próximas eleições lhe vão dar uma derrota. Algo que ele não sabe nem é capaz de engolir.
Só nos resta esperar pelo próximo golpe de rins onde apresentará uma desculpa, tão esfarrapada como esperada, para "dar de frosques".

André Escórcio disse...

Muito obrigado pelos vossos comentários. Sabem, às vezes fico com a sensação que escutei ou compreendi mal. Afinal, fiz a leitura correcta. Foi uma tristeza e o beija-mão indiscritível!

António Trancoso disse...

Permitam-me,o Sr. Pica-Miolos II e o meu Caríssimo Amigo Monteiro Vouga,que subscreva os vossos comentários.