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sábado, 5 de janeiro de 2013

NUNO CRATO MANDOU MILHARES DE PROFESSORES PARA FORA DO SISTEMA EDUCATIVO E AGORA DIZ QUE 50% DOS ALUNOS PRECISAM DE APOIO! (II)


Ora, o ministro não se interrogou sobre o porquê do formato organizacional, curricular e programático desta escola não resultar; não se interrogou sobre a organização de um sistema que tem conduzido ao insucesso; não se interrogou sobre a diversidade cultural dos alunos e sobre as políticas de família; não se interrogou sobre o excessivo número de alunos por escola e por turma; não se interrogou sobre a arquitectura dos espaços escolares; não se interrogou sobre os milhares de professores que colocou fora do sistema; não se interrogou sobre o significado de um investimento no quadro de uma intervenção precoce (já no pré-escolar); não se interrogou sobre a burocracia que inferniza as escolas, os professores e não se interrogou sobre a falsa questão dos exames. Para ele, se estão mal na Matemática e no Português é porque precisam de uma dose acrescida de aulas. E vai daí, injecta 47.000 horas (adicionais?), tal qual um bombeiro lança água sobre uma floresta que arde. Que tristeza!

 
 
Desde há muitos anos que dedico uma particulação atenção ao projecto educativo da Escola da Ponte, em Vila das Aves, a cerca de 30 km da cidade do Porto. Uma escola que, em 1976, pela mão do Professor José Pacheco, abandonou o sistema tradicional de organização escolar e de ensino-aprendizagem e, paulatinamente, caminhou no sentido de uma escola que colocou termo, tal como sublinha o professor, ao "isolamento físico e psicológico dos docentes, até então encerrados no refúgio da sua sala, a sós com os seus alunos, o seu método, os seus manuais, a sua falsa competência multidisciplinar (...) num trabalho escolar exclusivamente centrado no professor, enformado por manuais iguais para todos, repetição de lições e passividade". Este quadro que caracteriza, infelizmente, a escola que ministros e secretários de Estado dos sucessivos governos continuam a defender foi quebrado na Escola da Ponte, dando origem a uma escola que busca o conhecimento poderoso mas distante do que pode ser considerado de adestramento cognitivo como objectivo primeiro do processo ensino-aprendizagem. O professor adianta: "(...) não passa de um grave equívoco a ideia de que se poderá construir uma sociedade de indivíduos personalizados, participantes e democráticos enquanto a escolaridade for concebida como um mero adestramento cognitivo".
Há muitos textos publicados sobre a Escola da Ponte, muitas entrevistas (aconselho a leitura desta) ou então uma visita ao sítio da internet da referida escola, mas o melhor, antes de outros comentários, é seguir duas entrevistas que estão disponíveis na Internet, uma com o Professor José Pacheco e outra com o notável educador Rubem Alves.

"Será indispensável alterar a organização das escolas, interrogar práticas educativas dominantes. É urgente interferir humanamente no íntimo das comunidades humanas, questionar convicções e, fraternalmente, incomodar os acomodados" - Professor José Pacheco.

 
 
Tudo isto a propósito do que anteontem ouvi numa peça jornalística na SIC, sobre a próxima época de exames, na qual foi entrevistado o Dr. Nuno Crato, Ministro da Educação. Feitas as contas, disse o ministro, sem precisar números certos, que cerca de 50% dos alunos do Ensino Básico (500.000) precisarão, nesta fase de pré-exame, de acompanhamento "especial" e, por isso, seriam disponibilizadas 47.000 horas de trabalho para tentar suprir os alegados défices de conhecimento. De respostas quero eu dizer, em função de eternas perguntas não realizadas!
Ora, o ministro não se interrogou sobre o porquê do formato organizacional, curricular e programático desta escola não resultar; não se interrogou sobre a organização de um sistema que tem conduzido ao insucesso; não se interrogou sobre a diversidade cultural dos alunos e sobre as políticas de família; não se interrogou sobre o excessivo número de alunos por escola e por turma; não se interrogou sobre a arquitectura dos espaços escolares; não se interrogou sobre os milhares de professores que colocou fora do sistema; não se interrogou sobre o significado de um investimento no quadro de uma intervenção precoce (já no pré-escolar); não se interrogou sobre a burocracia que inferniza as escolas, os professores e não se interrogou sobre a falsa questão dos exames. Para ele, se estão mal na Matemática e no Português é porque precisam de uma dose acrescida de aulas. E vai daí, injecta 47.000 horas (adicionais?), tal qual um bombeiro lança água sobre uma floresta que arde. Que tristeza!
Este sistema há muito está condenado. Pintado de fresco, aqui e ali, o sistema que, genericamente, provém da Sociedade Industrial não tem qualquer cabimento perante o quadro de respostas, não só em função do conhecimento científico existente sobre a diversidade de públicos, de informação e tudo o que isso implica, mas também face às necessidades que hoje se colocam. Persistem, teimosamente, lá e cá, no erro, porque são incapazes de se interrogar: por que motivo tantos, geração após geração, não têm sucesso? Uma parte da resposta está nos dois vídeos que aqui deixo. Mas voltarei a este assunto, ao tema dos exames, talvez amanhã, porque acabo de ler mais um notável artigo do Professor José Pacheco. Eu que sou CONTRA os exames no Ensino Básico, tal reflexão escorreu-me na garganta como mel.
Ilustração: Google Imagens e YouTube.

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