O que me espanta é ver tanta gente agachada, tanta gente vergada a um político, tanta gente que não se liberta, que não sabe dizer a palavra BASTA, que se cruza comigo e diz coisas que o "Maomé não disse do toucinho", mas estão ali, em silêncio, fazendo do exercício da política um emprego e não um serviço à comunidade. Tenho pena dessa gente que se deixa espezinhar, que todos os dias dançam o baile pesado, que enfiam a canga, que passam entre os pingos da chuva sem se molhar, que dizem uma coisa aqui e outra acolá, que não têm consciência que as suas imagens estão politicamente degradadas e que já são poucos a tolerarem as suas conversas de treta.
Com que então... o presidente do governo regional da Madeira diz "não estar para conversas domésticas". Na sequência de tantas frases ditas ao longo dos anos, esta, de facto, é para consumo doméstico, porque quando dobra a Ponta de S. Lourenço, a ideia que fica é que mete o rabinho entre as pernas. Continua a ser, no plano político, claro, semelhante àquele menino traquinas que apenas atira as pedras de longe! Mas o que é espantoso é que o ainda presidente continue a pensar, no interior da paróquia, que é o "único importante", que é eterno, que a maioria da população é estúpida e que não vê o jogo que foi desenvolvido ao longo de quase quarenta anos, que os habitantes estão conformados com a situação de desemprego e de pobreza para a qual o ainda presidente os empurrou, enfim, que isto vai continuar a ferro e fogo sob o controlo da "máfia boazinha". Está enganado.
Foi precisamente por não ter tido atenção às "conversas domésticas", refiro-me, por exemplo, aos alertas da oposição na Assembleia Legislativa da Madeira que tudo isto chegou onde chegou! Em 2007 demitiu-se quando o dinheiro ainda abundava, pergunto, o que está à espera face à Lei das Finanças Regionais, cozinhada pelos seus amigos do PSD/CDS da República, em claro prejuízo da Região? Estranho? Não, não tem nada de estranho. Tem sim de poder a qualquer preço e, por isso, reage tal como uma criança quando lhe retiram o brinquedo das mãos. Há nele um sentido político ditatorial, mas ao mesmo tempo um sentimento de medo pelo que venham a descobrir no quadro da engrenagem política que montou. Está assim agarrado ao poder que nem uma lapa à rocha mais dura.
"Não estar para conversas domésticas" é não se apresentar em debates públicos, aos olhos de todos, na rádio e na televisão, respondendo às grandes questões regionais que hoje se colocam; é não debater o Estado da Região na Assembleia; é não querer discutir a revisão do Estatuto Político-Administrativo; é impor a lei do mais forte nas autarquias fazendo gato-sapato dos eleitos; é gastar num jornal para promoção sua e do partido, quando há crianças que passam mal e idosos que começam a não saber o lar onde amanhã dormirão; é não querer debater a complexa situação da educação pública na Madeira e o estado da saúde e dos assuntos sociais; é não querer ouvir a voz dos empregadores e das associações representativas dos trabalhadores.
Pois, para ele bom é entrar na quinta pela manhã, fechar-se no escritório, gritar com este ou com aquele, com regularidade desaparecer da região para um saltinho a Bruxelas, mandar uns recados, controlar e olear a máquina, receber por cortesia e protocolo algumas pessoas, porque governar, alto e parem o baile, isso é coisa muito complicada e com o conta quilómetros da vida nos 70, há que frenar e manter a sua velha imagem ao jeito de Liedson... que resolvia e não resolveu nada!
Bom, mas em tudo isto, o que me espanta é ver tanta gente agachada, tanta gente vergada a um político, tanta gente que não se liberta, que não sabe dizer a palavra BASTA, que se cruza comigo e diz coisas que o "Maomé não disse do toucinho", mas estão ali, em silêncio, fazendo do exercício da política um emprego e não um serviço à comunidade. Tenho pena dessa gente que se deixa espezinhar, que todos os dias dançam o baile pesado, que enfiam a canga, que passam entre os pingos da chuva sem se molhar, que dizem uma coisa aqui e outra acolá, que não têm consciência que as suas imagens estão politicamente degradadas e que já são poucos a tolerarem as suas conversas de treta.
"Não estou para conversas domésticas", disse. E o Povo, pá, vai continuar mudo? Vai continuar a deixar que um qualquer decida sem a sua opinião? Vai continuar a deixar que lhe façam túneis na sua cabeça? Por mim, eleições já. A Lei das Finanças Regionais e toda a degradação da vida pública assim justificam.
Ilustração: Google Imagens.
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