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domingo, 20 de janeiro de 2013

"ESTE GOVERNO É COBARDE"


Neles existe uma fúria privatizadora, de entrega aos outros e ao desbarato, das nossas riquezas estratégicas nacionais; uma fúria contra o Estado Social para entrega às seguradoras de todos aqueles direitos conquistados e que fazem parte das obrigações constitucionais; uma fúria contra os pensionistas, roubando-lhes o que descontaram ao longo de quarenta e mais anos; uma fúria contra a estabilidade laboral, fazendo dos trabalhadores peças absolutamente descartáveis; uma fúria contra o legítimo pagamento do trabalho extraordinário; uma fúria contra os empresários exigindo-lhes impostos desproporcionais aos seus desempenhos; uma fúria contra os direitos à saúde e contra a educação através de pagamentos abusivos, entre outros, de taxas, propinas e eliminação de comparticipações que sufocam as famílias; a fúria pelas receitas desde o IVA a esse vergonhoso IMI, onde todos os que têm casa própria passam a ser "inquilinos" do Estado; a fúria que os levou a roubar os subsídios de férias e de Natal, compensadores de outras exigências; a fúria no quadro do agravamento obsceno do IRS, que reduz e liquida qualquer esperança numa vida com dignidade. Ponham-se a andar. Rua!


Não adianta nada, mas sei que estou a chegar ao limite da tolerância. Ainda ontem disse o Sociólogo António Barreto: "Este governo é cobarde". E é! Por mim, como sói dizer-se, desejo vê-los no olho da rua. Rapidamente. Por outro lado, desse no que desse, estes senhores do FMI liderados por um tal funcionário Selassie e apadrinhados pelo governo português, já tinham sido postos a andar. Rua com esta gentalha! Tomaram o freio nos dentes, pensam-se legitimados para impor regras absurdas, muitas obscenas, absolutamente inacreditáveis, porque descontextualizadas da nossa realidade económica, financeira, social e cultural. Entram aí ou, então, à distância, arrogam o direito de imiscuírem-se na vida interna do nosso País, ao ponto desse funcionário, com total desplante, dizer que "não há tempo para complacências" e, entre outros desaforos, já agora, a última, que a "ineficiência na educação fica a se dever ao excesso de professores". Há menos 15.000 professores que há dois anos e este estúpido, naquela ânsia de, por um lado, cortar e, por outro, entregar ao privado o que deve ser público, não consegue ver que o problema da Educação é outro, não é de muitos professores, mas de uma (re)organização do sistema, aos níveis curricular e programático, de novas políticas de família e de uma substancial melhoria das condições de vida. Até o subsídio de maternidade, pasme-se, querem que fique sujeito ao IRS! Que grande filho da mãe este sem sensibilidade por um País que apresenta sucessivos saldos naturais negativos. Em 2011, recordo, as Nações Unidas deram a conhecer um cenário demográfico para Portugal, segundo o qual, até 2100, a população residente poderia perder cerca de 4 milhões de habitantes. Se assim acontecer, Portugal, hoje com mais de 10,5 milhões de habitantes, poderia voltar a um volume populacional idêntico ao dos anos 30, com menos de 7 milhões de residentes. São os óbitos a ultrapassar, claramente, os nascimentos. Terá aquele funcionário de nome Selassie conhecimento deste drama de implicações gravíssimas no contexto em que nos inserimos? Bom, mas esta é outra história. O que me enerva é que venham aqui "arrotar postas de pescada", numa atitude colonizadora, como se este fosse o seu quintal. 
Há uma ajuda financeira em curso, pois sim, existe. Que tem de ser paga, obviamente. Mas não são uns sujeitos vindos de fora, completamente descontextualizados da realidade, apenas obedientes às regras ideológicas e doutrinárias dos grandes senhores da finança internacional, que chegam a Portugal e ditam o que devemos ser enquanto povo. Há regras e compromissos bilaterais a respeitar: se, em momento conturbado, Portugal e muitos países precisam da solidariedade para colmatar erros que foram mais provocados de fora para dentro do que propriamente por situações internas, também as instituições que apoiam, há muito criadas exactamente com esse fim, têm o dever de uma atitude que não se filie naquilo que estamos, todos os dias, a assistir, perante a passividade e cobardia dos governantes rendidos aos grandes interesses externos. Estão à espera de quê? Que o povo se levante e gere o conflito? Que as Forças Armadas considerem que foi atingido o tal limite de que falava Otelo? Que a instabilidade se instale para depois levarem o resto da carne que andam a comer, deixando para aí os ossos? Que raio de gente esta incapaz de (re)negociar um plano decente, ajustado, bem intencionado no tempo e nos juros, susceptível de compatibilizar as possibilidades do país com um crescimento económico sustentável?  
Neles existe uma fúria privatizadora, de entrega aos outros e ao desbarato, das nossas riquezas nacionais; uma fúria contra o Estado Social para entrega às seguradoras de todos aqueles direitos conquistados e que fazem parte das obrigações constitucionais; uma fúria contra os pensionistas, roubando-lhes o que descontaram ao longo de quarenta e mais anos; uma fúria contra a estabilidade laboral, fazendo dos trabalhadores peças absolutamente descartáveis; uma fúria contra o legítimo pagamento do trabalho extraordinário; uma fúria contra os empresários exigindo-lhes impostos desproporcionais aos seus desempenhos; uma fúria contra os direitos à saúde e contra a educação através de pagamentos abusivos, entre outros, de taxas, propinas e eliminação de comparticipações que sufocam as famílias; a fúria pelas receitas desde o IVA a esse vergonhoso IMI, onde todos os que têm casa própria passam a ser "inquilinos" do Estado; a fúria que os levou a roubar os subsídios de férias e de Natal, compensadores de outras exigências; a fúria no quadro do agravamento obsceno do IRS, que reduz e liquida qualquer esperança numa vida com dignidade. Ponham-se a andar. Rua!
Ilustração: Arquivo próprio.

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