Mais horas de trabalho não significa melhor trabalho. Mais tempo passado na escola não significa melhor aprendizagem. Não é possível defender a família com horários de trabalho desregulados, onde existe hora de entrada, mas não de saída. Tampouco com pais que ainda levam trabalho para casa e crianças sobrecarregadas com os designados TPC. Em Portugal estamos a pagar muito cara a desregulação dos vários sistemas, fruto da muito precária organização geral da sociedade. O final do dia, em que as horas voam, constitui hoje um verdadeiro desespero para as famílias. Deixou de haver tempo para a família, para o lazer, para o descanso e para o jogo infantil, este, entendido em um sentido lato da palavra.
Recebi uma mensagem que aqui reproduzo naquilo que é essencial. Transcrevo-a porque tive a oportunidade de visitar a Noruega e confirmo os aspectos desenvolvidos. Preparei-me para essa visita de duas semanas, através da vasta bibliografia existente. Fui com os chamados olhos de ver e com toda a disponibilidade para absorver o mais importante de cada sistema. Deixo aqui o texto da mensagem, reenviada pelo Amigo José Viale-Moutinho, acompanhadas de algumas notas de situações vividas:
"Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 08:00 horas) e acaba cedo (às 15:30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez".
Nota: Mais horas de trabalho não significa melhor trabalho. Mais tempo passado na escola não significa melhor aprendizagem. Não é possível defender a família com horários de trabalho desregulados, onde existe hora de entrada, mas não de saída. Tampouco com pais que ainda levam trabalho para casa e crianças sobrecarregadas com os designados TPC. Em Portugal estamos a pagar muito cara a desregulação dos vários sistemas, fruto da muito precária organização geral da sociedade. O final do dia, em que as horas voam, constitui hoje um verdadeiro desespero para as famílias. Deixou de haver tempo para a família, para o lazer, para o descanso e para o jogo infantil, este, entendido em um sentido lato da palavra. Uma curiosidade: passei numa loja e interessei-me por um determinado produto exposto na montra. Deixei para o dia seguinte e lá fui, depois de uma visita a uma cidade. Cheguei por volta das 17:15 H. e, obviamente, estava encerrada. Em Portugal os supermercados estão abertos durante o fim-de-semana e até já noite; por lá e em muitos países, o fim-de-semana é respeitado.
A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Apesar de serem produtores de petróleo, só extraem anualmente quantidades mínimas para compensar alguns custos sociais, tendo a preocupação estratégica de preservar as suas reservas de petróleo para que a muito longo prazo as gerações futuras também dele possam vir a beneficiar. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas "alavancas de progresso"), nem em Expos da especulação imobiliária, mas deficitária para o Estado, nem Euros-futebolísticos.
Nota: Estive uma semana sediado em Dalen, a cerca de 180 km de Bergen e de Oslo. Considerei que, conduzindo, 200 km podiam ser cumpridos em duas horas e pouco. Partindo às 08:00 da manhã, certamente, que estaria ou em Oslo ou em Bergen por volta das 10:15 H, o que permitiria uma prolongada visita às cidades durante sete horas. Mas, não, na Noruega só existem, à saída dos aeroportos, as chamadas auto-estradas. Depois, é uma só via com dois sentidos. A velocidade é controlada, pelo que, ninguém consegue fazer 200 km em menos de quatro horas, se tiver sorte! A Madeira tem mais quilómetros de vias rápidas que a Noruega. Eles são ricos e nós pobres! Li, antes de partir, que os túneis "eram tenebrosos". De facto, uma grande parte deles (entre tantos, passei em dois, um com 16 e outro com 24 km), muito parecidos com os nossos antigos "furados", sem os acabamentos e sem a iluminação dos da Madeira. Têm uma só via com dois sentidos. E eles são ricos e nós somos pobres!
Perto de Dalen, a curiosidade de um perfeito espelho de água. A seguir, a mais antiga igreja construída em madeira, Em baixo, Fiorde de Sognefjord. |
É tempo de os empresários e os portugueses em geral constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados "devassa" as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica. Em Portugal existem propriedades enormes (quintas, herdades, lotes de terrenos) com luxuosas moradias e/ou palácios, repletos de riquezas, que pagam de IMI o mesmo que paga um T3 no Cacém. Na Noruega isto era impossível de acontecer, não por serem comunistas, bloquistas ou outra coisa qualquer, mas simplesmente por serem social-democratas, mas não neo-liberais. Mais do que os costumeiros "bons negócios", deviam os portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos.
Nota: Vi um sistema educativo diferente e de qualidade. Vi a Escola na rua e nos museus. Retenho a imagem de uma turma de pequeninos, talvez equivalente ao 1º ano do nosso ensino básico, no museu nacional de Oslo, acompanhados do professor. Estavam sentados, de pernas cruzadas, e o professor de pé, frente ao "Grito" de Munch. O professor gesticulava acompanhando, em voz muito baixa, muito naturalmente, a explicação do fabuloso quadro. Havia silêncio da parte dos alunos. Mas este é um exemplo entre muitos que assisti e tenho assistido um pouco por toda a Escandinávia e não só. Se nos situarmos em Portugal, bom, temos um sistema fechado na sala de aula, livresco, ocupado com o exame de Maio ou de Junho e não com o grande exame da vida. E eles têm sucesso e nós abandono escolar, insucesso e baixas qualificações.
Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiançou que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu. Aqui,em Portugal, nesta terra de parolos e novos ricos nascidos e multiplicados pela corrupção e outras vigarices pequenas, grandes e colossais, cada Ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes. Mais: os noruegueses sabem que não se "projecta o nome do país" com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa. Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola. (...).
Nota: Aqui, na Madeira, subsidia-se o desporto ao ponto de criar um monstro impossível de dominar. Não existe um verdadeiro desporto educativo escolar e gastam-se milhões com representações nacionais e internacionais que não traduzem a existência de um desporto entendido como bem cultural. Por outro lado, por onde passei, dos pequenos aos grandes fiordes (fi-los à beira fiorde e, aqui e ali, atravessando-os) e das pequenas às grandes cidades, vi uma natureza respeitada, muito distante das loucuras que a incultura política conduz. É evidente que devem ter os seus problemas. Obviamente que sim. Mas é sensível a existência de um sentido organizacional que nos entristece quando olhamos para o nosso País e, particularmente, para a Região Autónoma da Madeira.
Ilustração: Arquivo próprio. Clique nas fotos para ampliá-las.
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