Adsense

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

"FIDELIDADE AO EVANGELHO E NO AMOR DA VERDADE"? ONDE?


Como é óbvio, independentemente do desrespeito pela linha editorial da responsabilidade do Senhor Dom António, critério que não permite que o Jornal da Madeira seja plural, o que está aqui em causa é uma questão de respeito pelas pessoas. Não faz qualquer sentido que um Jornal assente numa “perspectiva cristã” e construído na “fidelidade ao Evangelho”, seja porta-voz de posicionamentos que de todo contrariam as mais elementares regras de sã vivência e convivência democráticas. O citado articulista tem direito à sua opinião, mas não tem o direito de, sistematicamente, ele e outros, onde se encontra também o Senhor Presidente do governo Regional, ofender e triturar quem, legitimamente, se opõe no plano das convicções políticas.



Excelência Reverendíssima,

Peço-lhe, Senhor Bispo, a Sua melhor atenção para o desabafo que entendi manifestar.
Não é de agora, posso-lhe dizer, desde há muito, que o Estatuto Editorial do Jornal da Madeira é claramente violado no que concerne aos mais altos valores que a Igreja sustenta. Em uma das suas passagens, lê-se: "O JORNAL DA MADEIRA é um Diário de perspectiva cristã aberta a um são pluralismo ideológico, na fidelidade ao Evangelho e no amor da Verdade, visando a formação humana plena, que desperte os Homens para as suas responsabilidades e para a sua participação na construção do mundo contemporâneo, pelo que não está enfeudado a qualquer partido político, antes desenvolvendo uma visão crítica das realidades". Se analisarmos o seu conteúdo diário, verifica-se que este enunciado, absolutamente correcto, não tem aplicação na prática. É assim no comportamento editorial e é assim em outros aspectos que têm sido motivo de múltiplas interrogações. Apenas alguns exemplos: a distribuição gratuita de 20.000 exemplares de pendor político-partidário do PSD, inclusive no interior dos templos de toda a Região, o financiamento anual de mais de três milhões de euros quando existem carências sociais muito graves, o silêncio sobre a situação catastrófica do Jornal com um défice acumulado de mais de 30 milhões de euros apesar de ter recebido 48 milhões nos últimos dezoito anos, a burla de inscrever o valor de € 0,10 de capa e ser oferecido e o “dumping” comercial desvirtuador do mercado que deve ser livre e estruturado em igualdade de circunstâncias.
Mas tão grave quanto isso, Senhor Dom António, é a ofensa diária rasteira, contrária aos princípios e valores da Igreja, veiculada por fazedores de opinião, pagos pelo erário público, cujo objectivo visa denegrir, enxovalhar e achincalhar na praça pública o direito das pessoas ao seu bom nome. Ainda hoje, um articulista, Dr. Filipe Malheiro, Chefe de Gabinete de Sua Excelência o Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, refere-se, pela enésima vez, a um Deputado do PS-Madeira como “asqueroso”, “pateta socialista”, “sem carácter”, “mentiroso”, “manipulador”, “artista”, “crápula mentiroso”, “rafeiro” e “pata-rapada” entre outras palavras e expressões.
Como é óbvio, independentemente do desrespeito pela linha editorial da responsabilidade do Senhor Dom António, critério que não permite que o Jornal da Madeira seja plural, o que está aqui em causa é uma questão de respeito pelas pessoas. Não faz qualquer sentido que um Jornal assente numa “perspectiva cristã” e construído na “fidelidade ao Evangelho”, seja porta-voz de posicionamentos que de todo contrariam as mais elementares regras de sã vivência e convivência democráticas. O citado articulista tem direito à sua opinião, mas não tem o direito de, sistematicamente, ele e outros, onde se encontra também o Senhor Presidente do governo Regional, ofender e triturar quem, legitimamente, se opõe no plano das convicções políticas.
Há cerca de dois anos, Senhor Dom António, que, pacientemente, aguardamos por uma audiência solicitada a Vossa Excelência Reverendíssima, pelo Grupo Parlamentar do PS. Na altura quisemos, consigo, debater o Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social, no quadro da responsabilidade política que me incumbe enquanto líder do Grupo Parlamentar. Hoje, o dossiê é muito mais vasto e muito mais complexo. Há assuntos em agenda que o Senhor Dom António não pode nem deve ignorar. O Parlamento constitui o Primeiro Órgão de Governo Próprio e todas as instituições o devem respeitar da mesma forma que respeitamos, em absoluto, a Igreja Católica.
Peço-lhe, Senhor Bispo, a Sua melhor atenção para o que aqui deixo escrito, por mais esta ofensa a um Deputado da Região e pertencente ao Grupo Parlamentar que coordeno, sendo certo que tornarei pública esta carta, com conhecimento ao Senhor Representante da República, ao Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira e à Entidade Reguladora da Comunicação Social.
Com os meus melhores cumprimentos e com elevada consideração e estima,
O Presidente do Grupo Parlamentar
João André Camacho Escórcio
NOTA
1. Carta remetida ao Senhor Bispo e que dei pública divulgação.
2. Li uma resposta assinada pelo Dr. Filipe Malheiro. Sublinho: as minhas discordâncias são políticas e assentes, sempre, em palavras e expressões que têm um limite. Nunca estive envolvido em grupos com máscaras e nunca assinei de forma "anónima". Reagi, por dever e porque entendo que é tempo de dizer basta à ofensa. As pessoas têm família e, quanto ao Jornal da Madeira, que constitui a essência da carta dirigida ao Senhor Bispo do Funchal, se bem notou, ela tem um alcance muito mais vasto do que, de passagem, lamentar o tom da sua escrita num jornal de inspiração cristã. Não tenho nada contra o título JM (até lá trabalhei nos anos 60), defendo os postos de trabalho, mas entendo que não deve ser mantido à custa dos impostos de todos nós. O JM ou é da Diocese ou é privatizado e aí, pouco me rala a linha editorial. As regras de mercado é que não podem nem devem ser subvertidas. É que eu já sou sócio do Marítimo (por gosto), do Nacional e de todos os outros e ainda me fazem ser "accionista" do JM. Basta. Não quero. E quanto ao que se escreve, pode-se ser acutilante sem ser ofensivo. Certamente, concordará comigo. Ponto final. 
Ilustração: Google Imagens

6 comentários:

M Teresa Góis disse...

Diz o povo sapiente que "água mole em pedra dura tanto dá até que fura". Não é este o caso, ainda que a água fosse benzida. Também em tempos escrevi uma carta do leitor dirigida mesmo ao D. António (carta aberta)....de nada valeu.Talvez que só uma carta subscrita em jeito de petição para a Nunciatura em Lisboa, possa originar um qualquer telefonema! Mesmo assim, duvido. Temos de viver com a realidade MAS, é preciso lembra-la.

Espaço do João disse...

Meu Caro André.
Quer o meu amigo que o Bispo lhe responda:- Seja feita à vossa vontade, na Madeira como na China? Não vê que é farinha do mesmo saco? Não entende que se ele o receber, está a dar o flanco?
Pobre povo que está sujeito a essa santa inquisição...

José Luís Rodrigues disse...

Uma carta grave pelo que reclama e pelo facto de nos informar que o Grupo Parlamentar do PS espera ha dois anos por um encontro com o bispo da Diocese onde exercem o seu defer democratico. Tudo isto para mim e doloroso demais. Meu amigo, conte com o meu abraco e fico-me pela tristeza, mas com a esperanca que Deus nao deixara de fazer acontecer o melhor para o nosso povo, mesmo que muitos trabalhem em sentido contrario ate mesmo aqueous de quem se esperava trabalho duro a favor da accao de Deus. Coragem, e o que se pede...

André Escórcio disse...

Obrigado vossos comentários.
Começo por "Tukakubana" e João: eu também lamento o ponto que chegámos. Há tempos, um prestigiado Bispo que tive a oportunidade de conversar longamente, sem qualquer referência aos prelados madeirenses, em abstracto, disse-me: vocês, na Madeira, precisavam de um Bispo de Cultura. Eu percebi a profundidade das suas palavras. No contexto da nossa conversa nem por um momento ele quis ser deselegante com quem esteve ou está, mas o contexto político isso exigia. Exigia independência, afastamento do poder, exercício efectivo da Palavra e não esta lengalenga onde o pobre cidadão e crente não se sabe onde termina a influência da Igreja e começa o exercício do poder.
Caríssimo Padre José Luís, continuarei, enquanto desempenhar estas funções, a exigir respeito pela utilização dos dinheiros públicos, diálogo institucional, no quadro de um exemplar relacionamento. Mas é preciso que o Senhor Bispo perceba que nós não somos um apêndice da vida dita democrática!

Fernando Vouga disse...

Caro amigo

Apesar da minha descrença na Igreja Católica, penso que o Bispo do Funchal acabará por responder a esta sua carta que, sem qualquer sombra de dúvida, é razoável, respeitosa e aborda um tema da maior importância. Responder em conformidade é da mais elementar decência e boa educação.
Se o não fizer com um mínimo de substância, arrastará definitivamente na lama o bom nome da sua Igreja.

Anónimo disse...

O Prof. André Escórcio na sua carta ao Sr. Bispo, mais do que uma vez mostra-se indignado pelo JM dar cobertura a tratamentos que estão perfeitamente contra os princípios mais básicos da convivência democrática. Já se interrogou se a Igreja é democrática ?