Trinta e sete anos depois de Abril de 1974, a Madeira registar 55,5% da população apenas com o Ensino Básico, existindo, ainda, 58.284 pessoas sem instrução, comparativamente com as 42.701 que foram contabilizadas em 2001, constituem valores que atestam a falência completa não só do sistema educativo, mas do sistema social. Pior que a dupla crise económica e financeira que nos assola é a gravidade da crise da educação. Estes números são absolutamente arrasadores quanto ao futuro. Se, hoje, o presidente do governo não sabe e não tem solução para a reconversão profissional dos trabalhadores da construção civil (disse-o com todas as letras), dos milhares que, embora jovens, não desfrutam das competências necessárias para enfrentar um mundo de exigências que não se compadece com o Ensino Básico.
Pior que o pseudodebate do Programa de Governo, das mentiras em catadupa, da vitimização do presidente do governo que chegou ao ponto de assumir que está a ser vítima de um "assassinato político", pior do que as audíveis ofensas às pessoas, através do discurso da velha maioria parlamentar, gasta, sem novidade, esfarrapada nos argumentos, pior do que a transmissão em directo, através do "tablet" de um deputado, pior do que a interrupção do parlamento para mais uma reunião de líderes que voltou a valer zero, pior do que tudo isso, são os resultados provisórios apresentados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística, na sequência dos Censos de 2011.
Trinta e sete anos depois de Abril de 1974, a Madeira registar 55,5% da população apenas com o Ensino Básico, existindo, ainda, 58.284 pessoas sem instrução, comparativamente com as 42.701 que foram contabilizadas em 2001, constituem valores que atestam a falência completa não só do sistema educativo, mas do sistema social. Pior que a dupla crise económica e financeira que nos assola é a gravidade da crise da educação. Estes números são absolutamente arrasadores quanto ao futuro. Se, hoje, o presidente do governo não sabe e não tem solução para a reconversão profissional dos trabalhadores da construção civil (disse-o com todas as letras), o que esperar dos milhares que, embora jovens, não desfrutam das competências necessárias para enfrentar um mundo de exigências que não se compadece com o Ensino Básico?
Em dez anos, ao invés das percentagens alimentarem a esperança, elas facultam-nos indicadores terríveis quanto ao futuro próximo. E tantas vezes enunciei e justifiquei estas questões nos plenários da Assembleia. Tantas vezes fiz ver, porque os dados disponíveis assim demonstravam, que o caminho seguido pelo governo regional estava errado. Hoje, concluo, que esta dramática situação, embora perversa, foi e é intencional, pois uma população menos educada e menos culta mais favorece as vitórias políticas absolutas. E ele sabe disto. Ele e eles sabem que uma coisa é escolarizar, outra é educar. Colocar meninos dentro da Escola é uma coisa, outra é educar, desenvolvendo capacidades fundamentais para a conquista da vida. Não há perdão político para quem assim se comporta e para quem, com maiorias absolutas desde 1976, apresenta agora resultados que são confrangedores e constrangedores. Este é o caminho que mantém a Madeira no círculo vicioso da pobreza, quando todos sabemos que só existe uma "arma" para quebrá-la: a Educação. Quanto mais bem formado é um indivíduo mais disponível se apresenta para o mercado de trabalho. Com quase 22% da população desprovida desses meios, obviamente, que maiores serão os problemas sociais futuros: a pobreza crescerá, o desemprego aumentará por desadequação e a paz social ficará em situação de grande risco.
Quando aqui escrevi que a tendência seria para estes resultados, li, em um site oficial do governo que aguardássemos pelos censos de 2011. Que as infra-estruturas construídas, a "escola a tempo inteiro" e as políticas de alfabetização introduziriam substanciais melhorias no sistema. Afinal, parece que eu e outros tínhamos razão, quando afirmámos que não deveriam confundir acesso com sucesso. São duas coisas bem diferentes. Quando dizia que o parque de instalações escolares, a rede escolar estava mal concebida, que as escolas não deveriam tender para a maximização do número de alunos, por escola e por turma, caiu o Carmo e a Trindade. Quando foi apresentado o Regime Jurídico do Sistema Educativo Regional, chumbado pelo PSD, ali tinham ficado elementos substanciais de uma mudança que poderiam trazer, a prazo, melhores resultados para o sistema. Não quiseram e agora, sinceramente, só espero que se agudizem as relações entre Passos Coelho e Alberto João Jardim para que este homem e este governo partam de vez da cena política madeirense, porque os resultados que apresentam, nas Finanças, na Economia, na Educação, na Saúde, no Sistema Social é demasiado grave para continuarmos a suportar o caminho para o "suicídio colectivo" da sociedade.
Ilustração: Google Imagens.
19 comentários:
Gosto bastante da lucidez e pertinência com que aborda determinados assuntos, penso que com isto não lhe devem facilitar em nada a vida. Gosto de apreciar quem resiste.
Obrigado pelo seu comentário. Senti-o de forma muito profunda. Obrigado.
O Nero a tocar arpa enquanto vê Roma a arder e depois acusar os cristãos de ser os responsáveis...
Obrigado pelo seu comentário.
Concordo, totalmente, com a sua observação. Mas lamento que assim seja, que a nossa terra com o desvario que vai na Educação, esteja a caminhar para o desastre social. O futuro não se compadecerá do analfabetismo num sentido lato e actual do termo.
Estes números também demonstram uma outra realidade que poucas vezes vejo a ser abordada: "brain drain".
A Madeira simplesmente não está a conseguir fixar na ilha quadros qualificados. Uma possível interpretação destes números poderá indiciar aquilo que o senso comum mostra: os jovens que abandonam a ilha para receber educação superior, na sua esmagadora maioria não estão a retornar - bem visível na minha geração; muita emigração para exterior de jovens adultos que na ilha não encontram perspectivas de trabalho; incapacidade de reter os quadros qualificados que a ilha já dispunha.
Se estes números estiverem errados fará o seu acto de contrição, senhor professor?
Se os números verdadeiros apontarem em sentido inverso, fará ou não uma revisão a este post?
Se o facto dos números serem piores lhe darem razão, a correção dos números para o inverso destes farão com que a perca. E assumirá isto? Aqui, num novo post?
Obrigado pelo seu comentário.
É verdade. Há muitos jovens formados e, alguns, de muita qualidade que optam por não regressar. E essa situação abrange as duas ilhas. Mas essa é uma outra história muito preocupante, quando uma Região, que pretendia ser a "Singapura do Atlântico" não consegue fixar os seus quadros. Enfim...
Obrigado pelo seu comentário (Senhora D. Lili Rodrigues).
Vamos ao primeiro comentário.
Nunca na minha vida arranjei subterfúgios para justificar o injustificável. Sempre que defendi um ponto de vista e, horas mais tarde, verifiquei que estava errado, pedi desculpa. Essa é uma situação que aprendi, desde as primeiras idades.
Quanto ao segundo comentário, lamento não ter percebido o segundo parágrafo.
Mas seja como for, comentei aqui os dados apresentados pelo DN e tive o cuidado de sublinhar que eram provisórios. Agora, os dados são do INE e, portanto, apresentam um alto grau de confiança. Ao contrário de muitas outras situações (as do desemprego, por exemplo) as estatísticas não são fáceis de manipular.
Sabe, eu não estranho esta situação e a questão central não é a de saber se são 3, 4 ou 5 pontos percentuais para menos ou para mais. Não está em causa mais 1000 ou menos 1000, o problema tem de ser analisado pela sua grandeza que irá, sem dúvida alguma, colocar em causa o nosso futuro.
Eu desejaria não estar a ver este filme. Gostaria que a nossa Escola fosse de sucesso, simplesmente porque não confundo a politização da Educação, com a partidarização do sistema educativo. O problema é que têm partidarizado e excluído muitas vozes que têm colocado reticências face àquilo que por aí vai acontecendo.
Pois. Os números são do INE. Mas os que estão lá, são muitos números. Que os jornalistas pegam e somam de forma errada. Se há 58 mil sem instrução, mais de 30 mil são nem chegaram à idade para terem qualquer grau de educação. Sobram 28 mil.
O problema está nos números de 2001 que o jornalista somou mal. Eram mais de 77 mil em 2001 e não apenas 42 mil. Daí que, em 10 anos, o número dos sem instrução reduziu-se 19 mil e não aumentou 15 mil.
Se considerarmos que dos 77 mil, 30 mil são crianças com menos de 10 anos, restavam 47 mil sem instrução, mesmo. Estes 47 mil comparam com os actuais 28 mil. Uma redução de 19 mil.
Com o Secundário, Pós Secundário e Superior, o aumento em 10 anos é para mais do dobro. Um aumento bem superior ao nacional.
Perante estes números (pode ir confirma-los como eu fiz), revê a sua análise?
Obrigado pelo seu novo comentário.
Por esse andar ainda vão ser negadas as taxas de abandono e de insucesso escolar na Região. O habitual na nossa terra, ao invés de um sério combate aos problemas, tentam, a todo o custo, encobrir as realidades. Eu não vou por aí. Só os resultados dos anteriores Censos já eram preocupantes e, se se mantiverem (numa leitura positiva)a minha posição continuará a ser definida em uma só palavra: desastre.
"existindo, ainda, 58.284 pessoas sem instrução, comparativamente com as 42.701 que foram contabilizadas em 2001".
É falso.
Em 2001 havia 77 mil pessoas sem qualquer grau de instrução. Estes são os verdadeiros números do INE. Não os que o DN apurou.
Em dez anos, não se piorou em 15 mil. Melhorou-se 19 mil.
O DN engana-se por ... 34 mil.
Pelo que a sua análise inverte-se.
Os números (errados) provariam que você teria tido razão.
Os números certos provam que não a tem...
Obrigado pelo seu comentário.
Só não percebo uma coisa: a sua grande preocupação e certeza nos números, face ao silêncio do governo sobre esta matéria. Sabe, quem cala consente! Este governo que é tão célere a vir desmentir tudo o que não lhe agrada. Portanto, para mim, observador das questões políticas da Educação, não me preocupa se é mais 1000 ou menos mil sem "instrução". O que me preocupa é o FACTO de termos uma sociedade que não está preparada para os grandes desafios do futuro e isso, 37 anos depois de Abril, é uma VERGONHA. É isso que está em jogo. Para além do mais, não falo de cor nem estou sentado numa qualquer secretária. Foi docente durante muitos anos, pertenci a conselhos pedagógicos, fui orientador pedagógico e formador, o que implicou estudo, observação, debate e análises. Sei pouco em relação ao que deveria saber, mas enfim... diz o ditado "que quem dá o que tem a mais não é obrigado".
Pois. O típico comentário do "desembrulha" depois de metida a pata na poça.
Aguardo o post do acto de contrição.
Senhor ou Senhora LR, quem tem de fazer um acto de contrição pelos erros cometidos é o governo da Região Autónoma da Madeira. Não eu, que nunca tive responsabilidades governativas.
A pobreza a mim não se deve, os maus resultados no 9º e 12º anos, a mim não se devem, a emigração forçada de muitos jovens, a mim não se devem, o absentismo e abandono do sistema educativo, a mim não se devem, a falta de qualificação profissional, a mim não se deve... e por aí fora.
Alguém teve responsabilidades numa terra que deveria ser um exemplo nacional. Repito: um exemplo nacional.
Eu apenas constatei e analisei o que foi publicado e que não teve resposta por parte do governo. Assumiram a triste realidade. Peça-lhes responsabilidades. A mim, decididamente, NÃO.
Podia estar menos desatento...
http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=14&id=202680
Você opinou e justificou a sua opinião com base em dados errados. Não em números do INE. Mas noutros "mal tratados" pelo DN. Mas que você aceitou como bons.
Como os números são os inversos, a sua argumentação cai por terra.
Acto de contrição?
Logo o Jornal da Madeira!!!
Mas o Jornal já substitui o INE e as declarações formais dos cidadãos na auscultação que foi realizada?
Oh meu caro, ponto final nesta conversa.
Oh meu caro.
O INE disse bem.
O DN e você leram mal o que dizem os números do INE.
O JM apenas explicaram o erro do DN (e o seu).
Onde fica a sua (tão propagada por si) abertura de pensamento?
Fique com as suas razões, penso eu, com os seus olhos partidários. Eu fico com os números: Página 138 dos Censos Provisórios do INE - POPULAÇÃO RESIDENTE SEGUNDO O NÍVEL DE INSTRUÇÃO MAIS ELEVADO COMPLETO E SEXO:
Nenhum - HM - 58.284 pessoas.
Eu sei que as estatísticas permitem várias interpretações, mas não vou por aí. O que eu sei, repito, com mais 1000, 2000, 3000 para cima ou para baixo, a Madeira apresenta taxas de abandono e de insucesso que são as maiores do País. Apresenta péssimos resultados nos exames nacionais. Apresenta, aos olhos dos empregadores, um significativo défice ao nível das competências profissionais. Apresenta uma elevadíssima taxa de POBREZA. São factos.
Portanto, abertura de pensamento SIM, teimosia inconsistente NÃO. Desculpar-me-á, mas não quero alimentar polémicas estéreis. Aguardemos pelos resultados definitivos que não os do Jornal da Madeira. E agora sim, ponto final.
Enviar um comentário