Não posso ter consideração política pela mais alta figura do Estado, não pelo facto de nele não ter votado, mas pela sua atitude altamente desprestigiante da função. Se existe é para exercer o seu magistério de influência, para assumir atitudes, para, com bom senso, chamar os bois pelos nomes, não permitir atropelos e desvarios de quem governa. Um Presidente não pode ser uma figura que se evidencie por atitudes partidárias, mas pela mão que tem no País enquanto reserva ponderada, face à qual possamos sentir que há mais alguém para além do governo. O que hoje é sensível é que o governo diz mata e o Presidente diz esfola. Portugal não tem Presidente da República. O cargo existe, o Presidente não!
Exactamente isto que tem feito ao Povo Português |
O Doutor Cavaco Silva já teve o condão de me irritar. E a Drª Maria Cavaco criar-me brotoeja. Ele pelo permanente alheamento dos problemas dos portugueses, pelas suas declarações que não adiantam nem atrasam, tipo chuva no molhado e uma certa tendência para a vingançazinha; ela, pelo seu ar intrometido esquecendo-se que apenas é Mulher do Presidente da República e, portanto, protocolarmente, deveria saber ocupar o seu lugar. Na entronização do Papa Francisco parti-me a rir, quando, na Praça S. Pedro, a uma considerável distância, no meio de representantes de todo o Mundo, uma câmara captou-o a tirar uma foto, presumo, com o seu telemóvel e a Drª Maria Cavaco, muito rapidamente, a guardar o equipamento na sua mala. Enfim, um pormenor, porque relativamente aos pormaiores, eu diria que, politicamente, irritavam-me. Hoje, não. O Presidente é uma figura que para mim há muito deixou de existir. Infelizmente, possibilita-me, algumas vezes, uma enorme vontade de rir. Aliás, estou certo, pelo que leio, sobretudo nas redes sociais e através dos comentadores, milhares de portugueses pensam o mesmo. O cargo existe, o Presidente não.
Não posso ter consideração política pela mais alta figura do Estado, não pelo facto de nele não ter votado, mas pela sua atitude altamente desprestigiante da função. Se existe é para exercer o seu magistério de influência, para assumir atitudes, para, com bom senso, no quadro da Constituição da República, chamar os bois pelos nomes, não permitir atropelos e desvarios de quem governa. Um Presidente não pode ser uma figura que se evidencie por atitudes partidárias, mas pela mão que tem no País enquanto reserva ponderada, face à qual possamos sentir que há mais alguém para além do governo(s). O que hoje é sensível é que o governo diz mata e o Presidente diz esfola. Não lhe perdoo o facto de nunca ter intervindo na Madeira, quando houve tantas situações que mereciam uma profunda "mensagem" dirigida à Assembleia Legislativa. Lembro, quando Sua Excelência visitou a Região, em visita oficial, ter sido incapaz de suscitar uma sessão na Assembleia, para ouvir e discursar. Acabou por receber os partidos, apressadamente, numa sala de hotel! Foi tantas vezes visado pelo presidente do governo regional, figura esta conselheira de Estado, político que, recorrentemente, abordou a questão da independência da Madeira, figura que afrontou a sua representação na Madeira (Ministro da República e, depois, Representante da República) e dele, Presidente da República, nem uma chamada de atenção, nem uma chamada a Belém para esclarecimentos e colocar os pontos nos i. Pergunto, afinal, que raio de Presidente temos? Um Presidente que vê o país a resvalar, vê milhões de portugueses na rua, assiste à proliferação do desemprego e da pobreza, vê milhares de empresas a soçobrar, vê escolas sem cêntimo e o sistema de saúde a ser desvirtuado, os assuntos sociais atraiçoados e não tem uma palavra, não assume uma atitude? Que raio de Presidente este, que não consegue, porque não quer ver, que pode existir uma maioria na Assembleia da República, mas que, claramente, essa maioria já não corresponde à vontade dos portugueses?
Não nutro qualquer consideração política por esta figura. Não posso esquecer, pela negativa, os seus dez anos de primeiro-ministro, o seu desinvestimento no sector vital da Educação (em dez anos nomeou cinco ministros da Educação), não esqueço ter sido ele o responsável pelos abandonos dos importantes sectores das pescas e da agricultura (hoje fala de uma necessária economia do mar), não esqueço, num período fundamental da nossa História recente, como é que não lutou pela paulatina industrialização do País. Não esqueço que o défice chegou aos 8,9% do PIB. Ele que se disse o "homem do leme", que "nunca se enganava e raramente tinha dúvidas", ele que se afirmou ser o político da "cooperação estratégica", questiono, como foi possível ter tido um percurso de mais de trinta anos sem que não tivessem sido descobertas as suas fragilidades políticas? Como foi possível o povo nele ter votado pela segunda vez? O problema é que ainda ali estará até 2016, passando pelos problemas como gato sobre brasas, fingindo que não vê, mais dotado para passeios com a sua Maria, de mãozinha dada, distribuindo cumprimentos e palavras de circunstância, mas longe, muito longe da importância do lugar que ocupa que exige um verdadeiro sentido de Estado. "É este Senhor Professor que quer salvar Portugal da gestão danosa, corrupta e incompetente do Primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva que governou Portugal no período em que tivemos a oportunidade histórica de nos aproximarmos dos países mais desenvolvidos da Europa" - disse José Luís Cardoso, Advogado e ex-capitão de Abril, aquando da candidatura da Manuel Alegre à Presidência da República. Mas tudo isto tem uma explicação possível. Numa revista Sábado, de Dezembro de 2010, li, na página 72, que, aos 28 anos, Cavaco Silva se declarou "integrado" no regime salazarista, indicou três nomes que o poderiam abonar e entregou o documento na PIDE. Por aqui fico.
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Sigo sempre com muita atenção e agrado a pertinência e a lucidez dos seus escritos. Penso que eles reflectem com exactidão uma realidade bem patente na sua região, embora esta,muitas vezes, estranhamente, pareça ausente do contexto regional e nacional em que se insere, coisa que não sei explicar o seu porquê.
Em relação ao Presidente actual da Pública, gostaria de dizer que quando o homem quer se manifestar, fá-lo sem qualquer problema, ainda que para isso, tenha de interromper as suas férias e a de meio país (em Agosto), como foi o caso do Estatuto dos Açores,sendo mesmo que o que estava em causa, era uma ridícula disposição do mesmo.
Um abraço
JV
Obrigado pelo seu comentário e, naturalmente, as referências feitas.
Ainda bem que trouxe à colação esse episódio de Agosto. Na altura escrevi qualquer coisa sobre tal posição. Esse episódio diz bem do posicionamento do Presidente.
Eu sei que ele segue o pensamento de Sá Carneiro, "um presidente, uma maioria, um governo", só que isso parece-me perverso. Por mim estou em crer que em Democracia é sempre melhor a existência de "ovos colocados em diversos cestos". Isso obriga a redobrados cuidados, suscita o diálogo, o contraponto e o respeito. E, neste momento, o que sentimos é que não somos respeitados.
Uma vez mais, muito obrigado pelas suas amáveis palavras.
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