Lamentavelmente, uma vez mais, ficou claro que não temos Presidente da República. Em Belém temos um faz-de-conta envolvido em uma capa irritante aos olhos e à palavra. Confesso que não o suporto e questiono-me como foi possível o povo deixar-se enganar, pela segunda vez, elegendo-o para a mais alta função do Estado? As suas últimas declarações em Oliveira de Azeméis mereceram o repúdio da generalidade dos jornalistas e comentadores. Dois aspectos ressaltaram: por um lado, a assunção, embora não verbalizada, que não é político sendo, paradoxalmente, a sua função POLÍTICA; segundo, a sua leitura enviesada e menor da ECONOMIA. Parafraseando o médico e Professor Abel Salazar, patrono do Instituto de Ciências Biomédicas, "Economista que só sabe de Economia nem de Economia sabe". O Professor falou para os médicos, eu reporto-me ao economista Cavaco Silva. Mas a melhor caracterização é aquela que o Professor Carlos Paz elaborou no seu blogue e que merece ser (re)lida (aqui). Cavaco é o homem que um dia disse: "eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas".
O Presidente fala de acordo com a oportunidade e sempre em defesa própria. É um político timex, nem adianta nem atrasa. Por isso, as suas declarações, são de mau gosto quando fala que Portugal dispensa "as intrigas, as agressividades, as crispações, os insultos entre agentes políticos, que promovem o crescimento económico" quando está em causa "a criação de emprego e a conquista de novos mercados". Ele não percebe que ao defender-se do baixo índice de popularidade que desfruta, a culpa é única e exclusivamente dele. E desde há muito tempo. "Não há nenhuma comparação entre as dificuldades de hoje e as facilidades que Cavaco encontrou nos seus dez anos de governação e que desperdiçou lamentavelmente", disse Miguel Sousa Tavares/Expresso. Concordo. Se, nos dez anos que liderou o governo, tivesse arquitectado e lançado um Portugal com futuro, hoje, teríamos uma situação completamente diferente. Mas essas são outras contas.
Cavaco é, notoriamente, um político sem visão, no desempenho político é estruturalmente fraco e, no plano das relações inter políticos é uma pessoa de maus fígados. Tenho presente o seu discurso na noite eleitoral e que mereceu o seguinte texto de Henrique Sousa: "Um discurso ressabiado e vingativo, coisa nunca vista em noite eleitoral, a ajustar contas com todos os outros cinco candidatos, acusados de terem descido como nunca à “vil baixeza” de uma campanha feita de “ataques” e “calúnias” à sua pessoa – ele, o candidato da “dignidade” que venceu -, e desafiando a comunicação social a revelar os que estariam por detrás da montagem dessa operação de calúnias. Nem sequer esqueceu a demagogia barata, já usada na campanha, de se afirmar como o primeiro candidato a vencer umas eleições sem usar cartazes. Mas claro que se “esqueceu” de explicar aos portugueses por que foi a sua campanha a mais cara, comparativamente com as dos restantes candidatos. Ou seja, Cavaco Silva atirou a pedra e mostrou a mão quando os outros candidatos já não se podiam sequer defender, feitos os discursos finais para as televisões e encerrados os seus “tempos de antena”. Isto depois de ter passado toda a campanha a recusar esclarecer como devia, por razões reforçadas sendo candidato a um cargo político unipessoal, os factosindiciadores das suas ligações perigosas. Que diferença da dignidade manifestada no discurso de Manuel Alegre em que este assumiu a sua derrota política, mas também com clareza o seu compromisso combatente pelo Estado Social!"
Cavaco é assim, politicamente oco, ideologicamente situado numa direita desrespeitadora dos valores sociais, que tem um discurso de frases ou conceitos feitos e muitas vezes contraditórios, que tenta apanhar a onda, mas, sobretudo, distante de uma necessária independência que se exige a um Presidente da República. Às vezes mais parece um membro do governo. Dou razão a Mário Soares quando afirmou: "(...) A Constituição manda que o Presidente aceite a Constituição, respeite a Constituição e faça o que deve. Ora, não é o que está a acontecer" (...) "Naturalmente eu acho que o Presidente da República devia demitir-se porque está numa situação impossível". Enfim, que 2016 fosse já amanhã.
Ilustração: Google Imagens.
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