Há quem confunda análise a uma situação com crítica veemente e, talvez, corrosiva, no sentido do desprestígio público da instituição a que pertence. Como se, em abstracto, as instituições fossem imaculadas. Quem assim pensa deve fazer um tirocínio em democracia. Simplesmente porque há uma significativa diferença entre, por um lado, as convicções individuais de natureza política, económica, financeira, social e cultural em função da leitura do Mundo, da experiência de vida e que acabam por determinar posicionamentos; por outro, aquilo que configura o sentido da análise na busca dos enquadramentos eventualmente mais correctos. Temos, aliás, na Região da Madeira, um singular exemplo: durante muitos anos milhares não tiveram coragem para se oporem ao "chefe", resignaram-se, disseram que sim para fora quando, porventura, duvidavam dos caminhos seguidos. Deu no que deu. Todos conhecemos as gravíssimas dificuldades da Região e a dolorosa perda de Autonomia. Se alguém, no interior da estrutura, envolvida, directa ou indirectamente, tivesse questionado, provavelmente, a História não teria sido escrita da forma como foi. O desastre não teria acontecido na dimensão que se conhece. O problema é que há quem confunda convicções com análises, chamadas de atenção com críticas severas. Não quero que a minha terra saia de uma situação política que ajudei a combater para se meter em uma outra de contornos semelhantes.
A responsabilidade de governar seja a que nível for, precisa, a todo o momento, de alertas, dos sinais vindos do exterior, melhor dizendo, precisa de uma capacidade de abertura que torne a governação permeável ao cruzamento da informação e do conhecimento proveniente dos vários sistemas. Fechar-se na torre de marfim significa não excrescer à mediania. A arrogância paga-se com juros. Ver fantasmas onde não existem é partir de um pressuposto errado e que pode mesmo esconder qualquer insegurança. Há pessoas assim e com elas temos de conviver.
Já tem uns anos, um sketch de um programa de humor analisava a sensação de "falso" poder que percorria quem estivesse por detrás de um qualquer balcão. As situações multiplicavam-se, programa a programa, todas elas acabavam por ser hilariantes, mas com um fundo extremamente pedagógico. Um sketch que deveria constar do processo de aprendizagem dos candidatos a políticos. Porque, fantasmas, nem no cemitério!
Ilustração: Google Imagens.
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