Só há uma palavra para caracterizar a atitude do Instituto de Segurança Social da Madeira (ISSM) relativamente ao que li na peça do jornalista Orlando Drumond (DN-Madeira), relativamente ao corte de apoios ao Pólo Sócio-Comunitário de Machico: NOJO. Não há outra palavra. Talvez porque o PSD perdeu as últimas autárquicas naquele concelho, logo, toca a encostar a população à parede. E logo da forma mais miserável: através da fome, relata o DIÁRIO. Ora, o Programa de Emergência Alimentar (PEA) não surge por mero acaso. Ele é, obviamente, consequência de necessidades sentidas e, portanto, de famílias que batem à porta das instituições. O Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Senhor Luís Delgado, em declarações corajosas, confessou que a ideia que resulta de tudo isto é que "os valores decididos para Machico foram uma penalização política", que conduziu à retirada do prato a 95% dos agregados que frequentavam a cantina social. O Provedor desafiou a tutela a explicar-se: "(...) como, com tanta falta de verbas e tantos pedidos, como é que a Segurança Social irá solucionar o problema, tanto mais que a verba que o Pólo irá receber diminuiu e as pessoas continuam com graves problemas de comida" e "quais os critérios de atribuição dos valores concedidos às instituições". Quem decide, presumo que seja a presidente da Segurança Social da Madeira, tem as refeições do dia garantidas, pois aufere um salário superior ao de Primeiro-Ministro (base) fora as despesas de representação. Por isso, é um NOJO, sabendo-se que há fome, que há gente a contar cêntimos, enquanto os decisores políticos contam milhares. Políticos que se comportam de forma tão insensível deveriam ter, todos os dias, à sua porta em ruidosa manifestação, os pobres e excluídos, as crianças e os idosos, os desempregados e os familiares dos que emigram.
Não se brinca com a fome porque esta não pode esperar. Leio no trabalho do jornalista Orlando Drumond: em Machico "(...) se em Janeiro eram apoiadas 104 famílias, entre cantina e vales, em Fevereiro o Governo retirou esse direito a dois terços das famílias carenciadas, indicando apenas 35 agregados. Número que voltou a ser reduzido em Março para 24 famílias. Já este mês registou-se novo corte avassalador, retirando da lista do apoio de emergência alimentar 75% dos beneficiários, pelo que restam apenas 6 agregados com o aval do Governo (...)". Isto é uma VERGONHA, um escândalo que deveria levar, imediatamente, à demissão da presidente do Instituto de Segurança Social da Madeira. Se tivesse um pingo de vergonha era isso mesmo que fazia, a tomar como verídicas todas as declarações publicadas sobre esta matéria. Para já, tem o dever de se explicar e mais do que a dita Senhora, tem o dever de sair da concha, da escuridão política, o secretário regional dos Assuntos Sociais.
O Programa de Emergência Alimentar (PEA) é um programa nacional "(...) que deve ser cumprido integralmente em todo o território nacional, sem excepções", vincou o Provedor da Santa Casa, Senhor Luís Delgado. O dinheiro não é do governo regional, não sai do orçamento da região, não pertence à presidente do instituto, não pertence ao secretário, não pertence ao presidente do governo, não pertence ao PSD, pertence sim ao povo que pagou impostos para que a solidariedade aconteça. Que haja rigor na atribuição, obviamente que sim; que haja cruzamento de dados para que uma dada família não receba de várias instituições, claro que sim, o que ninguém entente é que seja isso que esteja a acontecer, quando 95% passou a sentir a dor da fome. Será que quem assim decide dorme descansado(a)? Talvez durma, porque a obediência política cega. Sinto uma revolta interior que me leva a dizer que a JUSTIÇA, seja ela qual for e produzida por quem quer que seja, um dia, será servida em prato frio. Aí tomarão consciência dos erros cometidos. Que gente infame!
NOTAS:
1. Isto acontece no mesmo período em que o Jornal Oficial dá conta da atribuição de 12,5 milhões ao desporto regional. Primeiro, a bola, depois a "bola" no estômago.
2. O esclarecimento do Instituto de Segurança Social da Madeira, hoje publicado, do meu ponto de vista nada esclarece. As declarações do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Machico não são postas em causa, de onde se pode concluir a existência de uma defesa política muito esfarrapada. Aliás, se há dinheiro, que razões levaram ao corte de 95% dos que frequentavam a cantina social?
2. O esclarecimento do Instituto de Segurança Social da Madeira, hoje publicado, do meu ponto de vista nada esclarece. As declarações do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Machico não são postas em causa, de onde se pode concluir a existência de uma defesa política muito esfarrapada. Aliás, se há dinheiro, que razões levaram ao corte de 95% dos que frequentavam a cantina social?
Ilustração: Google Imagens.
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