Sinto que foram, uma vez mais, aos meus impostos e que levaram um pouco da minha contribuição. Todos os madeirenses e portosantenses deverão estar a sentir que estão a mexer nos seus bolsos. Segundo o DIÁRIO, em uma peça do jornalista Élvio Passos, clarinha como água da nascente, ficámos a saber que a Região terá de pagar três milhões de Euros de indemnização por obras não realizadas. A empresa do Senhor Avelino Farinha (AFAVIAS), assistente no processo, porque se sente lesada, irá assim receber esse valor. O cartoon da edição de ontem, com refinado humor, transmitia a verdade: "A Região vai pagar por ter obras a menos; antes pagava por trabalhos a mais". Tiro certeiro, porque equivale dizer que o contribuinte está sempre a pagar!
Novo Savoy. Uma agressão à paisagem e ao sentido de escala. |
Não me interessa, para já, saber os pormenores. Interessa-me o lado político da questão. Quando as obras foram projectadas e autorizadas pelo governo regional, o mínimo exigível era determinar dois aspectos essenciais: primeiro, se a obra se justificava, respeitando o princípio da prioridade estrutural; segundo, se tinha enquadramento financeiro, entre outros, baseado nos recursos internos e externos. É o mínimo que qualquer cidadão eleitor deve exigir. Ora, se não respeita a prioridade e ainda o contribuinte é chamado a pagar uma obra que ficou por ser concretizada, então aí o problema é político. Os governantes podem apresentar as justificações que entenderem, por exemplo, que o problema residiu nos "atrasos na entrega dos terrenos expropriados, livres e desocupados" (é espantoso!), porém, serão sempre desculpas esfarrapadas, por ausência de rigor, aqui sim, rigor na administração dos bens públicos. Mandar executar sem todas as garantias, na lógica que "a História fala de obras e não de dívidas" é pressupor que "vivemos em França no tempo dos reis" ou então "contar com o ovo no da da galinha". Quem vier depois que a(s) pague! Esse foi e continua a ser o problema que tem uma génese eleitoralista.
Novo Savoy. Para o empresário, "amigos, amigos, negócios à parte". |
Daí que, para mim, seja estranho que não exista investigação séria sobre estes assuntos lesivos do interesse dos cidadãos. São três milhões! De "cantinho do Céu" dou comigo a pensar se não passámos para um "cantinho da impunidade". Não acredito que não existam pontas soltas que conduzam a investigações sérias. É-me difícil aceitar sinais exteriores de riquezas mal explicadas. Agora, do ponto de vista político, aí, a história deveria ser outra. Independentemente de uma penalização nas urnas (então não é o povo quem mais ordena?) a Assembleia Legislativa da Madeira deveria criar uma Comissão de Inquérito para estudo, não apenas da situação agora conhecida, mas de tudo quanto foi pago em indemnizações, pareceres jurídicos, enfim, de tudo, tudo, quanto foi gasto por incúria e que tanta falta faz em vários sectores. Mas isso não vai acontecer, pois aqui tudo tem tendência a ser normal e ninguém é responsabilizado. Por exemplo, "esconder facturas" parece que constituiu um acto normal. Tanto assim é que, apesar de três milhões voarem, estiveram todos no designado "pau-de-fileira" no novo hotel Savoy, sorridentes, com discursos elogiosos ao Senhor Avelino Farinha, petiscando ou jantando, como se as relações fossem absolutamente normais. Nem o governo se sentiu constrangido, nem o empresário, que ganhou fortuna com a tal "Madeira Nova", perdoa a indemnização que a lei lhe confere. Depois, não deixa de ser curioso, não sentindo vergonha dos rabinhos de palha da sua gestão, diariamente, o governo regional atira-se ao governo da República como forma de esbater as suas insuficiências. Com algum humor, é caso para dizer que estão a precisar de "pau", não de fileira!
Ilustração: Google Imagens.
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