Por
José Martins Júnior
Blogue Senso&Consenso
23.08.2019
Hoje, sexta-feira de Agosto, decretaram baixar as bandeiras a meia haste em todos os edifícios oficiais da Região. Foi a homenagem regulamentar dada a alguém “que da lei da morte se foi libertando”. E porque da lei da morte se libertou, sinto-me no dever de hastear bem alto a sua memória, símbolo de um povo autónomo, responsável, decidido, “de antes quebrar que torcer”, bandeira triunfal do Povo de Machico, do Povo da Madeira.
Eu não esqueço …
A transparente cordialidade e o tratamento igualitário com que se dirigia aos deputados, enquanto presidente do Primeiro Órgão da Autonomia Regional, respeitando integralmente os direitos e deveres regimentais, fosse qual fosse o partido interveniente.
Eu não esqueço…
A serena mas corajosa seriedade quando recusou a palavra ao líder parlamentar do seu próprio partido (mais tarde presidente do governo) quando este pretendia intervir, à revelia das normas regimentais. Eu estava lá.
Eu não esqueço…
A superior dignidade com que suportou a humilhação a que o sujeitaram os seus pares na Assembleia, quando alteraram o regimento para que a votação à presidência fosse feita por sessão legislativa, todos os anos, em vez da eleição por legislatura, quatro anos, como vigorava desde o início.
Eu não esqueço…
A forma diplomática, mas frontal e directa, como não aceitou a procuração do governo regional para ser advogado contra mim, no ‘famoso’ processo de difamação pelo desaparecimento das pratas da Assembleia Regional, o qual terminou com a derrota do próprio governo.
Eu não esqueço…
A sua decisiva intervenção aquando do inquérito parlamentar (movido de dentro do partido onde eu próprio me inseria, como independente) o qual originaria a imediata perda de mandato, não fora a sua elevada argumentação. Eu estava lá e escutei atentamente.
Eu não esqueço…
A sua inteireza de carácter quando, nas eleições para a Presidência da República, apoiou publicamente um candidato à margem do candidato oficial do seu partido na Madeira.
Eu não esqueço…
A fidelidade às suas convicções sócio-políticas e ao seu sonho de uma Madeira autónoma e democrática, pois que, apesar da indiferença e, até, da marginalização a que os seus pares o votaram, nunca abandonou o código ideológico que abraçou desde a primeira hora.
E, acima de tudo, não esqueço…
Que antes e depois, dentro ou fora da acção política, nunca deixámos de partilhar uma sã convivialidade, sempre saudável, optimista, produtiva.
É sempre assim que há-de ficar comigo, enquanto não chegar a minha hora. É sempre assim que ele ficará também entre os conterrâneos e vizinhos em terras de Tristão Vaz.
Ele, Emanuel Rodrigues, monumento eloquente das gentes de Machico, perpetua, ainda, a memória do seu patrono, no dealbar da carreira jurídica, esse eminente machiquense, o Dr. João Gouveia de Menezes.
Conhecendo Emanuel Rodrigues e sabendo da sua vivência discreta, avessa à espectacularidade das homenagens mundanas, achei-me, entretanto, no dever de prestar-lhe este modesto depoimento, vindo de quem se situava politicamente em campos opostos, mas intimamente solidários e comprometidos com os mesmos ideais de um Mundo Melhor.
Emanuel Rodrigues, bandeirante da Democracia, lídimo representante da Autonomia, Honra e Glória de Machico!
1 comentário:
Gostei muito de saber!Referências e condutas nobres que jamais, também, irei esquecer.
Obrigada pela partilha.
Enviar um comentário