FACTO
"Eu vou avançar e concretizar a obra da estrada das Ginjas quer queiram, quer não, porque tenho mandato para isso" - Presidente do Governo Regional da Madeira.
COMENTÁRIO
Como nota prévia:
Não estou minimamente habilitado, cientificamente, para discutir o erro na construção da estrada Ginjas-Paul. Mas tenho a sensibilidade para perceber o sustentável posicionamento de quem tem uma vida dedicada às questões ambientais. É o caso do Engº Henrique Costa Neves que publicou, no DN-Madeira, dois artigos sobre aquela matéria.
Em síntese, diz o especialista: "(...) Estávamos no início da década de 1980, quando os Serviços Florestais da Madeira decidiram rasgar um acesso rodoviário, no Concelhio de S. Vicente, entre a localidade das Ginjas e a dos Estanquinhos no Paúl da Serra, passando pelo sítio do Caramujo. (...) ao fim de uns longos meses, as máquinas atingiram finalmente o sítio dos Estanquinhos, no bordo Nordeste do planalto do Paúl da Serra, vencendo um desnível de 600 m. Para trás ficou um rasto de destruição significativo ao longo de 10 Km, numa zona até então praticamente intocada, e com pouca ou nenhuma pressão humana. (...) Não nos tomem por tolos com falácias deste género, e assumam humildemente de uma vez por todas que esta estrada é absolutamente desnecessária!... O mais incrível e inaceitável de tudo isto, é o facto de a entidade que deveria promover e zelar pela protecção efectiva da Laurissilva - o GR, seja ela própria a tomar a iniciativa de a depreciar em grande escala, pomposamente anunciada no município que se intitula e se assume como Capital da Laurissilva!...Quando se assiste ao fenómeno imparável e impiedoso das alterações climáticas, e à crescente escassez de água, deveria prevalecer o bom senso e a competência, para se acautelar com o maior rigor possível a salvaguarda da nossa Laurissilva, considerando-a como se de um Santuário se tratasse. (...)"
Depois do que li, concluo da falta rigor científico naquela obra. Prevaleceu a teimosia e a crónica tendência para o quero, posso e mando. A posição do presidente do governo regional é, por isso, insustentável. Parece-me existir gato (político) escondido com o rabo de fora!
Mas o que mais me incomoda é uma outra crónica tendência para falar no singular: "eu vou avançar e concretizar a obra
"(...) porque tenho mandato para isso". O presidente confunde, assim, maioria absoluta com poder absoluto. E esse poder absoluto não lhe foi outorgado, obviamente.
O governo tem um presidente, mas não deixa de ser um órgão colegial. Falar no plural, no "nós", torna-se, no mínimo, mais simpático e elegante. O problema é a escola política de quarenta anos e que o actual presidente não consegue se libertar. Sempre foi o "eu" que pautou o discurso político e os outros membros do governo, humildemente, sempre aceitaram ser meros ajudantes de cena!
Finalmente, não lhe ficaria mal se recuasse, se colocasse à discussão técnica e científica a estrada Ginjas-Paúl na defesa da Laurissilva. É tempo de acabar com caprichos e decisões que, pelo que li, poderão trazer consequências negativas. Mas, acentuo, desta matéria nada sei, apenas a sensibilidade me diz que, existindo controvérsia, deve-se debater com quem está habilitado para isso.
Ilustração: Google Imagens.
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