"Na homilia do Domingo de Ramos, o Papa Francisco foi directo ao assunto ao afirmar: O drama que estamos a atravessar neste período impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor” (...) E dirigindo-se especialmente aos jovens deixou este desafio: “Queridos amigos, olhai para os verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias: não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros (...)".
Guardei esta passagem da homilia do Papa Francisco. Em poucas linhas tocou em tantos aspectos da nossa vida, individual e colectiva. A cada passo vemos gente, de políticos a pessoas anónimas, perdida no seu próprio labirinto, que não leva "a sério o que é sério", sumida no supérfluo, no gozo do imediatismo como se não houvesse amanhã, prenhe de esquemas, uns enriquecendo através de processos mal explicados, outros dando passos superiores à perna. Vemos quem, sendo progenitor, não dedique amor incondicional (a última semana foi dramática), "porque a vida mede-se pelo amor". Vemos jovens e menos jovens que dão a entender que desistiram de uma vida pautada pelo rigor, pela disciplina, pela dignidade e pela confiança. Vemos governos desorientados, também dentro do labirinto, incapazes de, no mínimo, tentarem descobrir uma saída geradora de felicidade, porque "a vida não serve se não se serve". E o "não serve" tem espaço para muitos pensares, obviamente!
Isto é, não existe uma pedagogia social, paulatina, eficaz, influenciadora, douradora e transformadora. Na lógica onde a sociedade mergulhou, grosso modo, não existe o sentido da medida e do equilíbrio na condução dos processos. Para uns, a vida "é fama, dinheiro e sucesso", onde vale tudo; para outros, a vida tem como objectivo imediato, a fruição de múltiplos vícios e desequilíbrios que acabam sempre por degenerar em situações de permanente aflição. É a existência da mentalidade que o amanhã é já hoje e que a fruição da plenitude da vida não pode esperar.
Uns e outros enganam-se a si próprios.
Muito complicado, aceito, porque existem importantes variáveis que se conjugam, pelo que, escrevendo ao sabor do pensamento, corro o risco de uma certa leviandade em tocar em assuntos pela rama. Tenho presente, por exemplo, a importância dos quadros de natureza social e educativa, a montante, e o sistema educativo, a jusante. Faltam, em ambos os eixos, políticas sérias, as quais têm muito que se lhe diga. Inclusive, no plano da saúde. Ter saúde é muito mais que "um estado de completo bem-estar físico". Associam-se os quadros metal e social (OMS). Quando um deles falha, os equilíbrios degradam-se.
Mas, independentemente da profundidade desses aspectos, eu diria, desde logo, indo a uma das causas, que prefiro uma escola formadora, de permanente interrogação sobre a vida, a uma escola tendencialmente enciclopédica e avaliadora, perdida "em coisas de pouco valor", nesta fugaz passagem pela vida. Seja qual for o sentido das palavras do Papa Francisco, entendo que elas acabam por ter uma raiz que se aplica em inúmeras situações. Permitem-nos pensar e repensar de forma interligada a Vida. Como exprimiu o Professor José Pacheco, referindo-se à escola, quantos que por lá passaram, saberão, hoje, fazer "a raiz quadrada"? Mas aprenderam e tiveram de provar esse conhecimento na avaliação. Entretanto, muito do mundo real, da VIDA, passa ao lado, porque não existe um fio condutor transversal que alimente um sentido de vida pautado por princípios e valores. Ressalvo, em muitos casos dados a montante pelas famílias.
Tudo ficaria resolvido, não. Obviamente que não. Mas estou em crer que ajudaria a "redescobrir que a vida não serve" quando perdida "na fama, no dinheiro e no sucesso" ou na vida da volúpia e no arco-íris do instante, com consequências negativas para os próprios e todos os outros que os rodeiam. Tenho por assumido que ambos são infelizes.
Mas, porque "Hoje é Sábado", Vinicius alerta no Dia da Criação:
(...)
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
(...)
Ilustração: Google Imagens.
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