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sábado, 24 de outubro de 2020

Forte de S. José



FACTO

"O Forte de S. José, localizado à entrada do Molhe da Pontinha, deverá ser transformado num restaurante com esplanada. O investimento no valor de um milhão de euros, é da responsabilidade da empresa "Tremel Investments", mas detida por investidores oriundos da Venezuela". Fonte Dnotícias.

COMENTÁRIO

Muito haveria a dizer sobre aquele forte, há alguns anos adquirido, em 2000, pelo madeirense Prof. Renato Barros. Por razões que não domino, nem me interessam, hoje, é património público. Mas não é essa interessante história do designado "Principado da Pontinha" que aqui me traz. O problema é outro e designa-se por saque no quadro do desrespeito pela História.

Não sou historiador e não sou arqueólogo, apenas tenho sensibilidade para a defesa do património. Por esta razão visitei três vezes o Forte de S. José. Duas, para mostrar aos netos um forte com História. Uma terceira para fotografar o novo Savoy. Porque daquele forte a vista é privilegiada. Em todas essas visitas vi o potencial que ali existia enquanto espaço de importância histórica, porque consta terem ali estado João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira. O seu interior é interessante.

Ao longo da minha vida tive a oportunidade de visitar espaços monumentais, tal como outros, pequenos, de menor relevância, muitos "escondidos" por não fazerem parte dos roteiros tradicionais, porém carregados de História. Em todos eles, obviamente, uns mais que outros, senti-me, muitas vezes, esmagado pela História dos povos. Em muitos casos comovi-me, ou pela grandeza ou pelas particularidades. Por isso, pasmo, quando a máquina económica, os interesses particulares e o despudor político, conseguem devorar aquilo que as circunstâncias deveriam aconselhar prudência e respeito. Para a goela sôfrega de uns quantos, aquilo não é mais do que um "rochedo", ao longo dos tempos ligado a um outro que acabaria por dar o actual Molhe da Pontinha. Um restaurante e esplanada possivelmente irão matar o genuíno, quando ali mesmo, a uns 150 metros existe outro (Design Center Nini Andrade Silva).

Eu sei, por isso não estranho, apenas revolta-me, que nos últimos 40 anos, por incúria ou insensibilidade, muito património caiu às mãos de uns quantos camartelos da política. Ou deixaram que o tempo se encarregasse de fazer ruir; ou autorizaram obras sem olhar à História; ou porque a prioridade não era recuperar e preservar, mas "fazer obra" que enchesse os olhos; ou, por desleixo, não classificaram espaços de notoriedade. Tenho para ali uma lista com dados oficiais, que me caiu na mesa, elaborada nas décadas de 1990 e 2000, que testemunha o abandono e ausência de uma cultura de responsabilidade na defesa do património. Curvo-me, no entanto, perante alguns trabalhos realizados. Estou a lembrar-me, entre vários, as espantosas obras de conservação e restauro da Igreja de S. João Evangelista (Igreja do Colégio). Fantástica! Em contraponto, a Capela de S. Paulo (1426), desactivada, à qual estou ligado por laços afectivos, cai aos pedaços apesar dos sucessivos alertas do Historiador Doutor Nelson Veríssimo. 

Espero que os cidadãos em geral se movimentem em defesa do Forte de S. José por maior que seja a sua descaracterização. Há que ir à História, provar a sua importância e proceder a obras que tornem aquele espaço como mais um que ajude a contar a História da Região. Basta de restaurantes e de esplanadas. 

Ilustração: Google Imagens.

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