Ando envolvido, desde há alguns meses, num projecto que não me deixa tempo para reflexões que, habitualmente, fazia e que o meu dever de cidadania impõe. Apenas tenho passado os olhos pela comunicação social, o suficiente para perceber os "pratos-do-dia" das eleições autárquicas. Relativamente ao Funchal, porque é a minha cidade, por vezes fiquei atónito sobre tantas e vastas incoerências que desacreditam, completamente, o exercício da política.
Poucos compreenderão que quem passa alguns anos pela missão autárquica, que quem teve responsabilidades de decisão e não resolveu os problemas, há muito reclamados, venha, no leilão das promessas, assumir que isto agora vai a eito.
Chegou-se a um ponto que me é difícil perceber onde termina a responsabilidade do governo e começa a da Câmara. A confusão é total. Os três pilares: saúde, educação e questões sociais, cujas obrigações são de natureza constitucional, logo, têm, no governo, responsabilidade maior, tenham sido sucessivamente assumidas como medidas a implementar pelo município. Até no domínio laboral surgiram propostas.
Sinceramente, não sei em que "pote" vão descobrir a mina dos euros para pagar tanto sonho. Um candidato nem conta se deu que, certas propostas, implicitamente, dão a entender ou a colocar em causa a inoperância do governo a que pertenceu. Dá-me a ideia que é o tudo ou nada. As razões não sei nem me atrevo a especular. A realidade é esta e a ela cinjo-me. Porém, parece-me, que este jogo tem contornos que estão muito para além do domínio partidário ou de qualquer sinal franciscano que tudo abandona pela causa dos pobres.
Gostaria de ter escutado palavras para justificar os contínuos garrotes financeiros ao município, em contraponto a este momento onde tudo é prometido e dinheiro parece ser coisa que não falta; gostaria de ter escutado ou lido, o mea culpa por dezenas de anos a deixar degradar as zonas mais altas da cidade, onde tanta proposta foi apresentada e negligenciada; gostaria de ter escutado ou lido sobre o gravíssimo drama da água que se perde, onde seria necessário uma clara convergência entre o governo e todas as Câmaras Municipais (não apenas a do Funchal); gostaria de ter escutado ou lido sobre o problema da habitação que necessita de uma postura de colaboração entre os dois poderes. Enfim, por aí fora (são tantos os dossiês), mas não, o que assisti não augura nada bom no quadro de uma saudável luta democrática. Os eleitores que decidam.
Regresso ao meu trabalho, depois deste desabafo. Não preciso do dia de reflexão.
Ilustração: Google Imagens
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