Todos estamos a prazo. A vida é assim. E há momentos que essa certeza se torna mais visível e sobretudo sensível. A morte de um Homem de Estado e todo aquele cerimonial protocolar, de genuidade absoluta, fez-me aqui sentar para expressar e partilhar um turbilhão de sentimentos que me invadiram nos últimos dias.
As homenagens dos seus filhos Vera e André emocionaram-me, numa serena confusão de sentimentos. Pelas palavras ditas, docemente exprimidas, mas sobretudo pelo semblante que espelhava a dor sentida com uma invulgar dignidade. Reconhecimento dito após a morte, mas, certamente, quantas vezes manifestadas em vida, olhos nos olhos, no abraço afectuoso, no peito que aconchega e que faz verter a lágrima do sentimento.
Tenho por assumido que os Homens bons não morrem. Porque fizeram da sua vida um exercício de imortalidade que ultrapassa os momentos de dor. Tive um Professor que me disse: "O homem não tem sentidos... é sensível". Hoje lembrei-me dessa notável frase para enquadrá-la na morte de um Homem, quando Vera Sampaio sublinhou: "O nosso pai era um homem bom, atento e disponível, para quem as pessoas contavam acima de tudo, não as pessoas em geral, mas cada pessoa com nome e rosto”.
Escasseiam Homens destes que olham para todos e, simultaneamente, estão a identificar cada um, os problemas que transportam, as amarguras que sentem, as angustias que, silenciosamente, percorrem as suas vidas, as aflições, os tormentos, as inquietações, as faltas de tanta e tanta coisa que, circunstâncias várias, roubaram o direito de poderem dizer: sou feliz!
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa tem razão: ele "nunca quis ser herói, mas foi". É de Homens e Mulheres assim, de heróis que não precisam de gritar para serem notados, que Portugal precisa. Urgentemente. Os portugueses estão ávidos de exemplos de humildade, de escuta, de olhos atentos e de corações cheios de emoção humanizadora e de preocupação pelos outros. Os portugueses dispesam as atitudes de vã superioridade, as posturas artificiais, as ofensas, os "amigos" de circunstância, os afastamentos compulsivos, as arrogâncias que excluem e os interesses políticos, económicos e financeiros que se movem e que ofendem a condição humana.
Lembrem-se que todos estamos a prazo e todos vamos ali acabar.
Ilustração: Google Imagens.
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