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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

A ciclovia


Li, no Dnotícias, o "post" do Dr. João Cunha e Silva, a propósito de ciclovias. Com toda a consideração pelo autor, democraticamente, no quadro do exercício da cidadania, resumo o meu pensamento a uma palavra: discordo. Aliás, em todo o texto, não há  uma linha que aprove. Por partes:



1. Obras. A esmagadora maioria das obras públicas causam sempre embaraços na cidade. No tempo do ex-vice-presidente do governo, houve momentos que a Região, particularmente o Funchal, assemelhava-se a um estaleiro. Pode-se mitigar as consequências, obviamente que sim, mas em função das características do Funchal e, portanto, da sua orografia, as obras são sempre motivo de constrangimentos. Pede-se, apenas, rapidez na execução associada a alguma paciência.


2. Infraestrutura de lazer. Não. Prioritariamente, as ciclovias não são destinadas ao lazer. Elas surgem por uma imperiosa necessidade ambiental, de sustentabilidade das cidades e de vida e vivência plena do espaço urbano. O automóvel é que "estrangula e estorva". E a prazo será cada vez mais assim.


3. Planeamento. Foi o que faltou. Desde 1976 para os dias de hoje, o perfil da cidade, sobretudo para oeste não foi devidamente equacionado. "A ciclovia não vai ter a lado nenhum", disse. Não vai porque não se assistiu ao ordenamento do espaço. Facilitaram e até o ex-presidente do governo, recordo-me, desejando colocar uma pedra sobre o assunto, relativamente à zona do Lido, disse que havia a necessidade de sacrificar uma zona... tinha sido aquela! Ponto final. Daí que, se não vai a lado nenhum, alguém que faça o "mea culpa"!


4. Sondagens e perda de eleições. Diz o autor do "post" que as eleições perdem-se quando existe "descontentamento" (...) que deriva "sobretudo pelo acréscimo exponencial de perturbações com o trânsito". É a velhíssima história na definição do conceito de político e de estadista: o político pensa na eleição seguinte e o estadista na geração seguinte. Da minha parte estou preocupado com a cidade que vamos deixar aos vindouros.

Comentário final

Em 2009 escrevi neste blogue vários textos sobre a complexa questão da mobilidade. Muito antes já tinha escutado e lido posições sobre esta matéria. Desde os primórdios da revisão do Plano Director da Cidade do Funchal. Todos eles convergentes no sentido do planeamento da cidade para os anos que estamos a atravessar. O jornalista Miguel Torres Cunha escreveu um texto no qual salientava: "(...) em 2005 existiam 103.340 viaturas com apólice de seguro - nos termos da lei é obrigatória - quando no final do ano passado esse número atingiu os 130.920 viaturas". Acrescentei: estão a entrar na Madeira oito a dez mil viaturas por ano. A solução que as entidades públicas têm encontrado tem sido a de descobrir novas vias de escoamento (finitas a prazo) e, sobretudo, a criação de novos locais de estacionamento públicos e licenciamento de parques privados. Certo é que não levará muito tempo e o Funchal tornar-se-á insuportável. Já o é em determinadas horas do dia e sê-lo-á cada vez mais. As actuais 130.000 viaturas, umas atrás das outras, dá para uma fila contínua entre Faro e Porto. Impressionante numa Região de tão pouco espaço.

Ainda em 2009 voltei a escrever sobre esta matéria, repetindo que a solução do problema passava, concretamente, por uma série de medidas:

a) A implementação do Park & Ride com a criação dos parques periféricos, com ligações rápidas e regulares ao centro do Funchal. Um excelente projecto que foi literalmente abandonado;
c) Limitação da circulação automóvel abaixo da cota 40;
d) Criação de ciclovias, para já nos três percursos planos do Funchal: Pontinha-Empresa de Electricidade; Mercado-Infante; Campo da Barca- final da Rua da Carreira;
e) Criação de uma rede de transportes escolares;
f) Limitação do estacionamento de superfície na baixa funchalense;
g) Implementação do metro de superfície aos concelhos limítrofes do Funchal. (possibilidade a estudar)

Agora é tarde para corrigir, embora muito possa ser realizado para atenuar as dores de uma cidade que respeite o ambiente. Mas sobre este assunto muito haveria a dizer. Urge, portanto, um debate profundo e sério que, aliás, vem sendo reclamado há muitos anos. Na qualidade de Vereador, na Câmara Municipal do Funchal, vezes sem conta tentei despertar a restante vereação para este problema. Pode alguém aceitar que a velocidade média comercial do transporte público (Horários do Funchal) seja de 16,1 km/hora (relatório de 2020)? E se assim acontece, e a culpa não é da empresa Horários do Funchal), quais as causas e de quem é a responsabilidade? Por aqui se vê o muito que há a fazer pela qualidade de vida no Funchal.

Injustificável, por isso, o que assumiu, recentemente, o actual presidente da Câmara: "Tendo em consideração o número crescente de moradias e residências que irão ser aqui construídas (Estrada Monumental), é preciso pensar em termos futuros", argumentou Pedro Calado, para quem não "faz sentido" priorizar um "circuito de ciclovia" em detrimento da circulação automóvel. O mais curioso é que "(...) A ciclovia no Funchal começou a ser construída em 2009, numa altura em que Miguel Albuquerque era presidente da autarquia e Pedro Calado vice-presidente, com uma extensão de 640 metros. Foi ampliada, cinco anos depois, em 1.850 metros, já com outra vereação, a mesma que pretendia agora acrescentar 2,5 quilómetros de percurso ciclável. O objectivo passava por encorajar a utilização regular da bicicleta, e, numa quarta fase, prolongar a ciclovia até ao centro da cidade, em mais sete quilómetros.

Por tudo isto, Caro Dr. João Cunha e Silva, estou totalmente em desacordo consigo. Ciclovias e transporte público, SIM!

Ilustração: Google Imagens.

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