Declarou aos trabalhadores o secretário regional da Economia, Dr. Rui Barreto: "(...) Depois de normalizar as coisas, há sempre uma tendência para criar agitação, para desestabilizar e para criar confusão (...) não embarquem nisso (...) há um valor que não tem preço, que é o valor da paz social (...)". Fonte: Dnotícias, página 11, edição de hoje.
COMENTÁRIO
Dois aspectos chamaram-me à atenção: "tontice" e "paz social". Ora bem, a "tontice" pode constituir um subtil "ataque" às estruturas representativas dos trabalhadores. Não me parece legítimo que o governo as coloque em causa, tampouco que seja gerador de "medos". É a nossa Constituição que prevê tal possibilidade. É um direito. O jogo democrático assenta exactamente nesse debate entre quem está legitimado para governar e as organizações, também legítimas, que emergem da sociedade, laboral ou não. Portanto, não é "tontice" o acto de discordar sobre qualquer matéria. E quando as instituições discordam, desde que de forma sustentada, as partes acabam por perder qualquer coisa para que todos fiquem a ganhar. O silêncio, ao jeito de come e cala-te, não é benéfico para qualquer das partes. Aliás, tenho ainda presente a voz de fundo do secretário da Economia, então na qualidade de Deputado do CDS/PP. Quantas vezes, de forma convicta, permitam-me a palavra, "atirou-se" ao governo regional por discordar das decisões então assumidas. Não se tratou, certamente, de tentativas de "agitação, para desestabilizar e para criar confusão". Foi o seu direito de discordar. Agora, os tempos são outros, eu sei, parece-lhe que tudo está bem! Não "embarquem nisso" disse. Mas a "tontice" levou-me a procurar o significado de "tonto". Um deles é o de embriagado que, entre tantas situações, também pode ser pelo poder.
Quanto à "paz social", o Senhor secretário da Economia sabe, ora se sabe, que não pode haver "paz social" quando existem 32,9% de pobres, milhares no desemprego, emigração forçada, milhares que sentem que "em cada mês falta mais mês", empresários aflitos, e dezenas de instituições que mitigam a fome que por aí anda.
Apesar de convições políticas, sociais, económicas e culturais, muito distintas entre nós os dois, creia o Dr. Rui Barreto que mantenho a mesma atitude de consideração pessoal. Foi, apenas, o meu desabafo, sincero, porque as palavras não são neutras e porque rejeito ser "tonto".
Ilustração: Google Imagens.
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