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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

No reino do anormal


Já tem uns anos, trinta, por aí, por dever académico fui aluno do Professor Salvato Trigo na cadeira de Estratégias da Comunicação Social. Numa das suas sessões referiu: "A Comunicação Social anda sempre à procura do anormal". Aonde esta frase me levou, contextualizando-a com a realidade de então, e até onde ainda me leva a partir daquilo que os meus sentidos percepcionam!



De facto, pouco interessa a história pessoal, a respeitabilidade e idoneidade de quem produz uma declaração, pois o que mor das vezes conta não é a intenção ou a leitura primeira, aquela que o autor quis transmitir, mas o sensacionalismo, o acto mórbido e perverso de quanto mais sangue melhor. Descoberto o filão, dizem, porque o povo gosta e as audiências justificam, crucifica-se o autor até que novas situações despertem a curiosidade, sobrepondo-se à anterior. E o frenético ritmo na busca da "anormalidade" permanece.
É evidente que, no contexto em que escrevo estas linhas, se isolarmos a declaração, dir-se-á que foi de todo infeliz o que o Senhor Presidente da República disse a propósito dos actos de pedofilia no seio da Igreja Católica em Portugal. Porém, creio que a sua intenção e o próprio tom da comunicação, traiçoeiramente, as palavras sugeriram outras interpretações. Abusivas, digo eu. É óbvio que bastaria a existência de um só caso para ser grave. E o Presidente reconhece isso mesmo. E estou à vontade, até no plano político para o dizer, porque nunca votei no cidadão Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Respeito-o como o mais alto Magistrado da Nação.
Do que o Senhor Presidente da República pode ser visado, é da sua "incontinência verbal", aliás, como já o disseram alguns comentadores, ao manifestar-se sobre tudo e em todas as ocasiões. E lá diz o provérbio que "tantas vezes vai o cântaro à fonte, que um dia lá deixa a asa". O Presidente deixou-a, na ânsia do comentário, porém é ininteligível que das suas palavras se infira qualquer desculpabilização dos actos que envergonham a Igreja. Nesse aspecto, tenhamos presente que até o Papa foi claro: "são actos vergonhosos (...) perante os quais a tolerância é zero".

Ilustração: Google Imagens.

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