Já tem uns anos, trinta, por aí, por dever académico fui aluno do Professor Salvato Trigo na cadeira de Estratégias da Comunicação Social. Numa das suas sessões referiu: "A Comunicação Social anda sempre à procura do anormal". Aonde esta frase me levou, contextualizando-a com a realidade de então, e até onde ainda me leva a partir daquilo que os meus sentidos percepcionam!
De facto, pouco interessa a história pessoal, a respeitabilidade e idoneidade de quem produz uma declaração, pois o que mor das vezes conta não é a intenção ou a leitura primeira, aquela que o autor quis transmitir, mas o sensacionalismo, o acto mórbido e perverso de quanto mais sangue melhor. Descoberto o filão, dizem, porque o povo gosta e as audiências justificam, crucifica-se o autor até que novas situações despertem a curiosidade, sobrepondo-se à anterior. E o frenético ritmo na busca da "anormalidade" permanece.
É evidente que, no contexto em que escrevo estas linhas, se isolarmos a declaração, dir-se-á que foi de todo infeliz o que o Senhor Presidente da República disse a propósito dos actos de pedofilia no seio da Igreja Católica em Portugal. Porém, creio que a sua intenção e o próprio tom da comunicação, traiçoeiramente, as palavras sugeriram outras interpretações. Abusivas, digo eu. É óbvio que bastaria a existência de um só caso para ser grave. E o Presidente reconhece isso mesmo. E estou à vontade, até no plano político para o dizer, porque nunca votei no cidadão Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Respeito-o como o mais alto Magistrado da Nação.
Do que o Senhor Presidente da República pode ser visado, é da sua "incontinência verbal", aliás, como já o disseram alguns comentadores, ao manifestar-se sobre tudo e em todas as ocasiões. E lá diz o provérbio que "tantas vezes vai o cântaro à fonte, que um dia lá deixa a asa". O Presidente deixou-a, na ânsia do comentário, porém é ininteligível que das suas palavras se infira qualquer desculpabilização dos actos que envergonham a Igreja. Nesse aspecto, tenhamos presente que até o Papa foi claro: "são actos vergonhosos (...) perante os quais a tolerância é zero".
Ilustração: Google Imagens.
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