À beira mar, hoje agitado e a bater forte na rocha, tal como na vida política onde os mexilhões, coitados, batem, conversava com um amigo sobre a realidade local. A páginas tantas, depois de ler o DN, disse-lhe que os militantes do PSD eram muito solidários, isto é, parece que apoiam todas as candidaturas numa atitude de quererem estar a bem com todos. Este tem 1400 apoiantes, outro apresenta 1200, outro com 1000 e aparecerá um qualquer a bater esses números. Tal como nos cromos das cadernetas, presumo que haja muitos repetidos, disse-lhe. E depois é o destapar das carecas, com uns a dizer do outro aquilo que "Maomé não disse do toucinho". O meu interlocutor, concluiu: meu amigo, isto é apenas um "dentinho", porque quando se aproximar a hora da verdade, passarão à feijoada com todos.
Não duvido. O espectáculo promete e trará, certamente, o cheiro nauseabundo de muitos anos de acumulação de porcaria. E o problema, para o cidadão que não vai em novelas, cujos folhetins vêm deste o tempo a preto-e-branco, é que há quem os alimente, diariamente, como se a alternativa política estivesse condenada à substituição de uns pelos mesmos! Como se a sociedade pudesse ficar confinada àqueles que, através de uma nova versão, apresentam a mesma música e o mesmo ritmo, tocados e cantados ao longo de quase quarenta anos de estrada. Ora, se o problema é a Madeira, o seu futuro, a superação das mazelas económicas e financeiras e de todos os dramas políticos, sociais e culturais, julgo que este seria o momento de uma outra atitude que colocasse em contraponto os situacionistas relativamente aos oposicionistas. Uma coisa é a eleição interna de um partido que busca um líder; outra, muito mais grave e complexa é saber-se, a um ano da realização das legislativas regionais, quais os quadros políticos em perspectiva que se posicionarão. Paradoxalmente, sabe-se tudo ou quase tudo do partido ainda no poder, ainda que na fase do "dentinho", pouco ou nada se sabe dos partidos na oposição. Melhor dizendo: o PS ao nível nacional partiu para umas primárias tendo em vista a eleição de um candidato a primeiro-ministro; na Madeira paira um silêncio sobre esta matéria quando o Dr. Carlos Pereira já deu bastas indicações de estar disponível para disputar a liderança e candidatar-se a presidente do governo regional. Saliento o nome do líder parlamentar do PS como outros que, eventualmente, poderiam surgir. Pessoalmente, gostaria que este debate fosse motivo de esclarecimento da população. Veria com bons olhos e com muito interesse que o debate político não se circunscrevesse ao PSD. Da mesma forma que muito pouco ou nada se sabe sobre o CDS/PP que mais parece estar com "um olho no burro e outro no cigano", no fundo na expectativa de ver a carruagem que melhor serve para entrar, nem que seja no derradeiro momento. E pouco ou nada se sabe do PCP, se quer continuar com uma luta política a solo, difícil, penosa e muitas vezes frustrante, ou se a Madeira estando em primeiro lugar, as estratégias para acabar com o jardinismo passam por menos teimosia e uma maior disponibilidade para encontrar soluções. Mais. E o que pensam os "Juntos pelo Povo" de Santa Cruz, brevemente reunidos em partido político, que se apresentarão, certamente, às eleições regionais do próximo ano? Quero eu dizer com isto que existe um mundo de situações a explorar, e que não têm sido, em claro privilégio das balelas internas do PSD, que podem alimentar alguns interesses, mas que não resolvem a questão de fundo que se chama Região Autónoma da Madeira.
Ilustração: Google Imagens.
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