Vivemos um pesadelo. O pesadelo da incompetência política, o pesadelo da luta pelo poder, pelos grandes bocados ou pelas chorudas migalhas que ainda caiem do banquete dos senhores, o pesadelo de uma geração atraiçoada, o pesado dos mais velhos a quem lhes sugam o pouco que têm, o pesadelo da grave desestruturação familiar, o pesadelo de olharmos em redor e termos a sensação do vazio, o pesadelo de assistirmos a um Estado ladrão que rouba aos trabalhadores, aposentados e pensionistas e continua a ser tolerado face à carga fiscal que impõe, o pesadelo de vermos o roubo em bancos e nas "esquinas do mundo" e tudo permanece calmo, o pesadelo de falarmos ou de escutarmos gente dos 40/50 anos, que tinham à data de Abril de 74 entre os dez e os 20 anos, que manifestam lacunas de conhecimento, que não questionam nem sabem como questionar, que manifestam um alto grau de iliteracia, o pesadelo de ver como são enganados e como se resignam perante a mentira e a aldrabice política. O pesadelo, ainda, de assistirmos à falência de uma juventude sem opinião política, que, genericamente, não quer saber, não se mobiliza em torno de ideais, não reivindica, não mostra o seu desassossego pela conquista do seu futuro. Uma juventude amorfa, sobretudo a universitária, cujo grito só é audível, de quando em vez, por razões de propinas ou de abandono, mas que não consegue ir a montante buscar as causas. Vivemos um pesadelo fabricado que gerou o medo. Daí os silêncios!
E vem isto a propósito do indescritível secretário regional da Educação do governo regional da Madeira. Agora quer que as políticas de juventude sejam nacionais. O secretário, Dr. Jaime Freitas reafirmou o óbvio, escreve o DN-Madeira de hoje, que "a juventude tem de ocupar um lugar central". Uma lapalissada! A questão fundamental e que este político não tem em conta, não é a de saber se o Instituto Português de Juventude considerou ou não a Madeira e os Açores nas suas políticas. O problema é determinar, no âmbito da REGIONALIZAÇÃO o que tem andado a fazer, ao longo de quase quarenta anos, o governo regional no que concerne às POLÍTICA DE JUVENTUDE. A questão não é do tal instituto, mas de quem governa na Madeira. Se o secretário se referiu apenas à distribuição do dinheirinho nacional, bom, essa é outra história e pior. Demonstra que não esteve atento e, no momento certo, não soube negociar o que existia para dividir. Agora, se a questão se situa ao nível das POLÍTICAS, então aí, justifica-se que se pergunte, afinal, para que serve o governo regional e, dentro deste, a Secretaria Regional da Educação e a Direcção Regional de Juventude e Desporto? E, já agora, para que serve a AUTONOMIA e a capacidade legislativa atribuída à Assembleia da Madeira? Pelo que assisto, não têm servido para nada. Talvez, por isso, o secretário peça políticas nacionais por ausência de um pensamento estratégico portador de futuro.
O que me incomoda é o facto da juventude não percepcionar a marosca e que os culpados têm nome. Noutros tempos, não indo mais longe, na década de 60, a juventude universitária afrontou o governo de então, apesar do risco da prisão e da tortura. Em tempo de liberdade, esta juventude acomoda-se e engole o comprimido da sonolência distribuído pelo governo regional. As praxes são mais importantes do que as questões políticas. Outro pesadelo quando é estridente o toque de finados desta sociedade podre, egoísta e sem futuro.
Senhor Secretário, quando não se sabe, tudo atrapalha. É verdade, não é?
Ilustração: Google Imagens.
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