Os dirigentes do desporto regional foram enganados. Coisa que não se soubesse desde há muito. Em 2010, passados três anos de um documento apresentado na Assembleia Legislativa da Madeira, escrevi neste blogue: "(...) Em uma terra pobre e dependente, prometeram e deram o que tinham e o que não tinham. O resultado é este: fragilidade absoluta ao nível do desporto educativo escolar e associativismo desportivo com dívidas até ao céu da boca. Não constitui novidade para ninguém. Tenho vindo a denunciar essa situação e, há muitos anos, que saliento que o desfecho só poderia ser este. As dívidas dos clubes têm uma origem e essa sustenta-se em uma política desportiva desastrosa, alimentada por irresponsabilidade e pelo princípio de que o desporto tem de estar ao serviço da política e não ao serviço do desenvolvimento. Interessaram-se mais pela representatividade externa do que propriamente por uma prática entendida como bem cultural". Agora, sem vergonha na cara, pedem ao associativismo um desconto de 15% sobre as dívidas. Merecem uma acção colectiva na Justiça, porque os contratos foram assinados e não cumpridos por uma das partes. Houve aldrabice e dolo.
Esqueceram-se da Pirâmide das Necessidades |
No meio desta situação há dirigentes aflitos, uns que adiantaram dinheiro e outros que assinaram documentos bancários que os compromete. Há quatro anos, volto a salientar, escrevi: "(...) As promessas de solução do grave problema financeiro dos clubes e associações, cujos dirigentes reuniram ontem com o Secretário da Educação, obviamente que não serão satisfeitas a curto prazo. Demorará muito tempo, quando se sabe, entre outros sectores e áreas, que as escolas se debatem com problemas de financiamento. E esses são prioritários. O dinheiro não é elástico e, por isso, alguém vai ter que esperar. Enquanto esperam, lamentavelmente, o rol das dívidas vai aumentar até ao estoiro final. Lamento, profundamente, porque quem apostou nesta política não foram os dirigentes desportivos... alguém os empurrou para esta situação".
Uma única palavra pode catalogar esta gente que governa: indecentes. Eles sabiam ou tinham a noção que o processo estava errado, até porque a dívida da Região, em 2007 e anos seguintes, era já insustentável, todavia, continuaram a insistir naquilo que não podiam pagar a tempo e horas. E quem assim actua, consecutivamente, deve ser chamado à Justiça. Não é pedindo 15% de desconto para liquidar dívidas, depois dos clubes e associações terem cumprido os seus orçamentos. Isso designa-se por aldrabice. E seja onde for, no exercício da política desportiva ou em qualquer outro sector ou área da governação (ou não) o aldrabão é punido porque causa danos a outros. Daí que, do meu ponto de vista, todo o associativismo deveria juntar-se e reclamar Justiça. É que o dinheiro não é deste ou daquele, dos que circunstancialmente estão no poder, o dinheiro é fruto dos nossos impostos, é de todos, e se não cumprem o que acordaram deve ser motivo de cabal explicação. Os clubes e associações não são culpados, pois aplicaram em função de critérios e julgando ser a entidade pública portadora de boa-fé. Afinal, as suas receitas tornaram-se teóricas, falsas e mentirosas. Serviram-se dos dirigentes para um desporto ao serviço da política e não de um desporto ao serviço do desenvolvimento.
Ilustração: Google Imagens.
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