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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"NÃO SE PODE TER TUDO"


Ontem, a Senhora Ministra das Finanças arengou qualquer coisa neste sentido: "(...) persistimos e estamos a chegar onde queríamos (...) nós somos ensinados desde pequeninos que não se pode ter tudo. E, frequentemente, achamos que isso é muito injusto, mas aprendemos (...) que nada se faz sem trabalho e, depois, curiosamente, alguns chegam a adultos e esquecem-se. (...)". Senti uma revolta perante estas palavras acompanhadas de um sorriso que transmite algum cinismo e hipocrisia. Ela falou para uma plateia de deputados do seu partido (PSD) e, certamente, para convidados da mesma área política. Deveria falar para uma plateia 600.000 desempregados, mais uma legião de de centenas de milhar que emigraram porque, aqui, nem ao mínimo tiveram direito; deveria falar para os milhares de alunos dos estabelecimentos de educação e ensino onde falta muito; deveria falar para todos quantos deixam os medicamentos no balcão das farmácias ou para todo o pessoal de saúde que, profissionalmente, vivem no fio da navalha; deveria falar para os pensionistas que, nos últimos anos, foram espoliados sem dó nem piedade. Pois, "não se pode ter tudo", mas há direitos inalienáveis. O direito ao trabalho, o direito à Educação, o direito à Saúde, o direito de não verem debitadas, mensalmente, nas nossas contas, valores face aos quais o povo não tem qualquer responsabilidade. 

Deveria escutar as vozes da sociedade

Eu sei, todos sabemos, que estão "a chegar onde queriam". Estão a chegar ao desmantelamento do estado social, à privatização de tudo o que mexe, à venda do País ao desbarato permitindo que entrem por aí adentro uma horda de estrangeiros que vêm comer a carne, ao ponto do homem que aqui nasceu ser apenas uma peça descartável na vergonhosa engrenagem que estas políticas defendem. Nem ao trabalho têm direito. E mesmo tendo trabalho não deixam de estar encurralados no círculo vicioso da pobreza. A Senhora Ministra deveria ter vergonha na cara e não dizer tanto disparate. Assumiu: "(...) hoje em dia olho para o trânsito com novos olhos. Em vez de pensar no tempo que estou a perder, penso no significado que isto tem na recuperação da actividade económica". Como se esse fosse um indicador de progresso e de bem-estar social. Há frases que mexem com o mais pacato cidadão quando analisadas cautelosamente. Senhora Ministra, brinque e entretenha-se lá com os números das suas folhas de "Excel", mas não ofenda a esmagadora maioria dos portugueses que não querem "ter tudo", apenas querem o mínimo. E explique, também, como é que os milionários crescem a um ritmo idêntico ao do crescimento da pobreza. Nunca mais é Outubro...!
Ilustração: Google Imagens.

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