Podem dizer que é legal, que nada, rigorosamente nada, obsta que uma secretária regional do governo da Madeira não possa ser, em simultâneo, candidata à Câmara do Funchal, mas não é eticamente aceitável. Do meu ponto de vista é reprovável, porque fere, mesmo que se tente dizer o contrário, o "dever de neutralidade". Uma cidadã não deve ser secretária do governo na parte da manhã e candidata à principal autarquia na parte da tarde. De manhã, faz uma visita como governante, despacha umas palavras e, à tarde, promove-se enquanto candidata. É uma espécie de shampoo dois em um! Natural seria suspender as suas funções de governante ou mesmo sair a seu pedido. Assumir uma candidatura com a responsabilidade do Funchal, com um pé aqui e outro ali, não abona no quadro do exercício da política com princípios. A não ser que dê a eleição como perdida e, portanto, parta do princípio que vou ali e já volto! O que é pior.
Falo deste assunto com legitimidade. Em 1993 fui candidato à presidência da Câmara do Funchal. Nessa altura era colaborador da RTP-Madeira e beneficiava de uma exposição mediática semanal ímpar, uma vez que não havia outros canais! Quando o Dr. Mota Torres me convidou, pensei uns dias e após aceitar o desafio, a primeira pessoa a quem me dirigi foi ao Director da RTP-Madeira, ao meu Amigo Senhor Armindo Abreu, a quem solicitei que me afastasse da apresentação dos programas. Na semana seguinte já não apareci. Perdi as eleições para o candidato do PSD, Professor Virgílio Pereira e perdi o lugar de colaborador na televisão que me rendia alguns proventos. Posteriormente, ainda prestei algumas colaborações muito esporádicas. Por pouco tempo. Aproveitei para prosseguir os meus estudos superiores em Lisboa.
Ora bem, há vinte e quatro anos entendi ser aquele o comportamento mais adequado e, hoje, continuo a defender a separação de águas. Na política não se pode estar com um pé aqui e outro ali. Não se pode, por respeito por si próprio e pelos outros candidatos, beneficiar de dois palcos em simultâneo, mesmo considerando a tal "neutralidade" de que fala a Comissão Nacional de Eleições. Só por infantilidade se pode deduzir que um titular de órgão público não mistura a acção governativa com a campanha!
Portanto, Drª Rubina, com todo o respeito, espero que seja "Leal", ou é secretária regional ou candidata à Câmara Municipal do Funchal. Escolha. Mesmo que esteja a partir do princípio que a sua candidatura seja apenas para cumprir calendário.
Ilustração: Google Imagens.
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