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domingo, 27 de agosto de 2017

A PROPÓSITO DE UM PROCESSO SÉRIO, PRECISO E CONTINUADO...


Tem razão a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, Drª Susana Prada: "(...) impõe-se que a gestão da água na Madeira seja um processo sério, preciso e continuado para benefício de toda a população". Digo eu, para além de tudo, porque se trata de um recurso cada vez mais escasso. O problema, no entanto, não está no quadro das declarações que são de interpretação lógica, pacífica e, portanto, entendível por todos. É fácil dizer, com efeitos chocantes, que o desperdício de água, só no Funchal, "dava para encher 9.745 piscinas olímpicas da Penteada". Fácil, dizer, também, que se trata de um "processo" que deve ser "sério", "preciso" e continuado". Porém, tal declaração conduz-me à inevitável interrogação sobre o que andaram a fazer as anteriores vereações de maioria absolutíssima do PSD na Câmara Municipal do Funchal. Alguém acreditará que este problema grave, muito grave, o do desperdício de água, é a consequência dos últimos quatro anos, quando outros tiveram ininterruptas responsabilidades durante 37 anos? A perda de 13 milhões de metros cúbicos, em 2016, terão um único ou uma única vereação responsável? É preciso ser "sério", "preciso" e "responsável" em análise política. Porque a política também é um "processo".


Sei, porque, politicamente, acompanhei, no tempo do anterior presidente, várias intervenções,  no sentido de limitar as perdas. Poucas, é certo, mas não seria correcto ignorá-las. As tais "obras invisíveis". Da mesma forma que tenho acompanhado, pela comunicação social, o trabalho desta vereação. O problema é que, lá para trás, nos anos cruciais, quando havia muito dinheiro, os investimentos não foram canalizados no sentido das prioridades estruturais, concordantes com uma cidade que crescia de forma rápida mas desordenada, que não teve em conta os aspectos das infraestruturas. Primeiro chegou a habitação, muitas de natureza espontânea, e, só depois, por essa cidade fora, as infraestruturas básicas.  E hoje, o Funchal, entre outros concelhos, está a pagar uma dolorosa factura. Daí que não me pareça sensato qualquer ataque político, com números chocantes (por exemplo, a água fornecida em alta daria para "abastecer uma população de 600.000 habitantes") e quando não há coragem para assumir a definição do investimento prioritário ao longo de toda a história pós-25 de Abril. Assumir esses erros dignificaria o exercício da política, dignificaria a Drª Susana Prada, e se apontasse medidas protocolares de colaboração entre o governo e as autarquias, ainda mais dignificante seria por parte de quem tem o mister de governar.
"Cantar e assobiar ao mesmo tempo não é possível". Ninguém consegue! E assim sendo, a pergunta que a Drª Susana Prada deveria fazer a si mesma, antes de qualquer declaração, seria esta: se eu tivesse assumido a presidência da Câmara, com mais de 100 milhões de euros de dívida, com problemas até ao céu da boca, com os devedores à perna, com menos receitas, com compromissos programáticos para realizar e com um governo regional que se nega a realizar contratos-programa, teria eu disponibilidade para investir na rede de distribuição de águas, melhorando-a, fugindo a tentação do remendo? Julgo ser esta a pergunta que lhe faltou fazer. Um certo acto de contrição. Mas eu sei, bem vistas as coisas, tal pergunta não poderia fazer, porque estaria a ir no sentido do confronto com o Dr. Miguel Albuquerque, figura que foi presidente da autarquia funchalense e que a convidou para o lugar que, hoje, politicamente, ocupa.
Regresso às palavras da Drª Susana Prada apenas para dizer que gosto da política enquanto "processo sério", "preciso" e "continuado". Detesto a subserviência política, a descontextualização política, a sonegação de dados que ajudem a compreender as causas, enfim, esse tipo de políticos e de política cada vez mais detesto. É tempo de aprenderem alguma coisa.
Ilustração: Google Imagens.

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