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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

PORQUE NÃO ADMITO A TRAPAÇA


Em 2011 decidi colocar um ponto final no exercício da política activa. Sempre considerei que, em tudo, há um tempo para estar e um tempo para sair. Simplesmente porque entendo que o exercício da política não é um emprego, mas um serviço à comunidade. Hoje, apenas escrevo, não escondendo os meus princípios e valores socialistas, porque acredito na "Carta de Princípios do PS", mas desde então tenho-me mantido muito distante de qualquer posicionamento de natureza exclusivamente partidária. Isso compete aos órgãos internos legítima e democraticamente eleitos. Porém, há momentos que temos o dever, por respeito e dignidade a nós próprios, de fazer valer o pensamento. É chegado esse momento.


Detesto a trapaça na política. Não gosto da mediocridade. Repugna-me os jogos de bastidores. Abomino todos quantos estão não estando, que se colocam por detrás das sebes com a mãozinha de fora, que gostam dos ambientes de névoa permanente, de um sebastianismo execrável. Aborrece-me os que rotulam, ao jeito de, ele, tecnicamente é muito bom, mas não passa junto da população, como se os tais julgadores fossem esculturas perfeitas de Miguel Ângelo, sex-simbol da política para consumo imediato, como se o acto de governar com competência e com rigor pudesse ser medido por aspectos exteriores e marginais. Odeio todo o tipo de política que se baseie na contagem de espingardas, na compra de votos que se reduz ao esquema: dá-me o teu voto que terás um lugar aqui ou ali. Pelo contrário, a adultez política deveria motivar, distante da unicidade, para a coesão, para a busca de soluções, para os programas bem elaborados, para a compreensão dos momentos que exigem estratégias e canais adequados de divulgação. Prefiro um competente a uma pessoa com aqueles atributos, porque a política não deve ser enquadrada enquanto mercadoria vendável e porque não se deve brincar com o futuro das populações. Não é necessário ir muito longe, aqui mesmo, na Região, quem se predispuser a analisar, verificará que os produtos que têm sido impingidos à população, com o devido respeito pelas pessoas enquanto tal, politicamente, não passaram de pechisbeque. Foram bem vendidos como portadores de uma enorme credibilidade política e social, com uma irrepreensível idoneidade, com uma auréola de intocável carisma e, afinal, deu no que deu. Estamos todos a pagar a factura nos mais diversos sectores da governação. Atente-se no que se está a passar no governo regional e, se quisermos ser justos, dando uma olhadela distante e sincera pelo passado.

Ora, vamos a isto. O que, alguns, querem ou estão a tentar fazer ao Dr. Carlos Pereira, líder do PS-Madeira, é inqualificável. Em um momento político que classifico de ouro, explicavelmente querem entregá-lo, de mão beijada, ao "bandido". Não porque não seja altamente qualificado, com provas dadas, mas porque, dizem, não tem empatia com o povo. Não porque não tivesse estudado, como ninguém o fez ao pormenor e publicado em livro (A Herança, 2015), toda a verdade sobre a realidade económica e financeira da Região, os conluios e os interesses escondidos, mas porque, falando sem perguntarem ao povo, dizem que não é gerador de empatia. Não porque não tivesse denunciado que a dívida real da Região era superior a seis mil milhões, quando o governo, a muito custo, na Assembleia, vociferava contra e falava em cerca de dois mil milhões, mas porque, repito o que leio, não é gerador de empatia. Não porque não seja um tribuno com pensamento, com inteligência e com rápido raciocínio perante as situações, mas porque, dizem, não regista total identidade com o povo. Não porque não seja um trabalhador em luta permanente pelo tecido empresarial, pelo direito ao trabalho e pela felicidade do povo, mas porque, dizem, falta-lhe afeição pelos demais concidadãos. Não porque não seja um político que renegou o caminho mais fácil, o do poder pelo poder (seria tão fácil pertencer a este regime), mas porque lhe falta aquele ar de bonzão que, dizem, toca na mãozinha das pessoas no acto do voto. Aliás, sempre foi assim. Lembro-me, tem já uns anos, quando fui candidato à presidência da Câmara do Funchal (por pouco não ganhámos sem qualquer coligação, porque o PS estava organizado e coeso), alguém ter espalhado por aí (sei de onde partiu) que eu não tinha "pedigree", uma espécie de certificado político genealógico capaz de lá chegar. Portanto, não estranho esta onda intencional e estupidamente montada contra o Dr. Carlos Pereira.

Fere a minha sensibilidade socialista, baseada no princípio, tão simples quanto este, se sou feliz por que razão os outros não hão-de ser, ver gente que se deixa deslumbrar pela hipótese, repito, pela hipótese de aceder ao poder. Não se juntam, não congregam esforços, não discutem dentro de casa, com serenidade, bom senso e elevação, não dão valor a quem o tem, não se colocam no seu galho, antes pisam tudo e todos e minam em nome dos seus pequenos e irracionais interesses. Isto, magoa-me, quando há tanto a fazer pelo povo da Madeira e quando há tantos anos a oposição é espezinhada. Dos tempos conturbados que, aliás, acontecem em todos os partidos políticos, parece que as experiências vividas (eu vivi-as) nada ditaram para o futuro. É a cegueira total, como se o povo fosse cego. Não é, meus caros. E tem dado provas que não é vilão no sentido do ignorante e do escravo ao serviço do senhor, que vota em função da doação de um saco de cimento, de areia, de uma refeição, de um emprego ou porque o senhor padre, subtil ou descaradamente, aconselhou. Dos onze concelhos, em oito, ele não foi na cantiga, mudou o tradicional sentido de voto e mais, soube diferenciar entre quem deseja na Câmara, nas Juntas ou nas Assembleias. Afinal, parece-me, que a ignorância reside em alguns senhores do Funchal. 
Finalmente, um pedido. Parem e pensem. Deponham as espingardas, organizem-se em torno dos valores maiores da democracia e dos projectos de interesse para toda a população. O povo não irá na história que agora avança um para a conquista do lugar, para, logo depois, surgir um outro qualquer candidato. Quando tal não acontece, o povo tem razão para se sentir defraudado. E julga, soberanamente. Não queiram dar passos superiores à perninha que os sustenta. Um presidente de um partido é, por norma, o candidato a presidente do governo. E quem quer ser Presidente de todos os madeirenses e porto-santenses tem de apresentar-se com todo o seu passado, com credibilidade política, com projecto e com muita humildade, sabendo que uma coisa é a conquista de uma Câmara, outra o governo da Região. Tudo isto leva-me a dizer que não existe vazio de poder no PS, existe sim, fome de poder e de emprego. Chega. Isso é muito feito, desesperante e mata a esperança de milhares. Não entro nesse jogo e aqui fica assumido que não regressarei a este assunto. Volto, sim, para o meu galho. 2019 é mesmo ali ao virar da esquina. Não serei incendiário de serviço. Em função deste desabafo, peço serenidade, bom senso e muito trabalho no sentido da coesão. Espero que o que por ai anda e que foi matéria publicável, não seja mais do que um episódio sem significado e que, portanto, estou a dar um valor que não tem. Espero.
Ilustração: Google Imagens.

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