"O problema com que a Espanha está confrontada, com a anunciada declaração de independência da Catalunha, coloca à evidência o cuidado que os Estados devem ter no relacionamento com as suas Autonomias (...) é necessário atender às legítimas aspirações das populações insulares (...)" assumiu a Vice-Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, no decorrer do Dia do Concelho de Machico (Madeira). Trata-se de um posicionamento que marcará, certamente, a semana política. O próprio jornalista Orlando Drumond, do DN-M, considerou a intervenção "insólita". E tem razão. Aquelas palavras não foram ditas em redor de uma mesa de café, entre amigos, mas em uma sessão pública, com o selo da responsabilidade de quem representou o primeiro órgão de governo próprio da Região. Por um lado, deduz-se, poderá significar um subtil apoio aos independentistas catalãs, aspecto que o Estado Português, prudentemente, se desmarca, aliás, tal como os centros decisores europeus; por outro, parece querer reactivar a onda "flamista" dos anos 70 que propunha a independência da Madeira. Uma e outra não têm qualquer sentido, sobretudo a intromissão em uma questão de Estado, naturalmente desajustada e perigosa.
Não creio que tenha sido inocente, tampouco um deslize. A idade e a experiência política da Vice-Presidente, Drª Fernanda Cardoso, são bastantes para que assim conclua. Ora, as chamadas de atenção para os deveres da República relativamente às autonomias podem e devem ser enunciadas, porém, com outros contornos. Mas se assim deverá ser, no saudável confronto das posições de raiz democrática, também é preciso não esquecer os deveres regionais para com a República. Apenas um exemplo: a dívida criada e uma parte dela escondida dos olhares das instituições de controlo. Como pode uma Região reivindicar se os "rabos-de-palha" são gigantescos?
Enquanto madeirense e autonomista convicto, chocou-me aquele posicionamento que, faço notar, não está retirado do contexto. Ao mesmo tempo que lia, assaltou-me uma primeira leitura, simplista: oh Costa e Marcelo tomem lá cuidado que não tarda e disparamos daqui o grito unilateral de independência! Uma interpretação possível das palavras, acostumado que estou em ouvir, volta-e-meia, que a Madeira terá de procurar o seu rumo. Já não é dito de forma aberta, é certo, mas percebe-se pelo bulir dos lábios onde alguns pretendem chegar com a provocação. Sou português, nasci e vivo na Madeira e assim desejo continuar. A inabilidade dos políticos governantes e a ausência de capacidade para dialogar e saberem levar a água ao moinho, é que tem condicionado o crescimento equilibrado e o desenvolvimento sustentado.
Ilustração: Google Imagens.
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