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terça-feira, 27 de abril de 2021

Indira Gandhi, a Índia e o Mundo

 

26 Abril 2021


Indira imprimiu na sociedade indiana um verdadeiro espírito de paz, apesar das guerras que teve de travar. Uma sociedade muito desigual onde as castas continuam a pesar. Este escrito é um curto apontamento sobre o grande contributo que Indira Gandhi, uma personalidade carismática, polémica, mas muito respeitada, prestou ao reconhecimento da Índia, como país, no Mundo Futuro, uma potência política e económica em construção.



O apelido Gandhi

Antes de prosseguir, interessa desfazer um eventual equívoco. Indira Gandhi não é familiar de Mahatma Gandhi, o activista da “desobediência civil e da não violência” e um dos maiores lutadores pela independência da Índia, desde muito cedo amigo de Nehru, pai de Indira. O seu apelido herdou-o do marido, o jornalista Feroze Gandhi, com quem teve dois filhos.

Indira Gandhi e os estudos

Indira Gandhi, filha única de dois combatentes pela independência, Nehru e Kamala, nasceu em Dezembro de 1917. Kamala não teve vida fácil. Como activista da independência chegou a estar presa. Mas sobretudo viveu afastada do marido pelos anos de prisão, nove ao todo. A juntar a estas privações, a tuberculose levou-a a ser internada várias vezes, na Índia e no estrangeiro, tendo, aliás, falecido em 1936, antes da independência, durante um tratamento na Suíça.

Indira Gandhi pertence à terceira geração familiar empenhada na independência. Conheceu, desde o nascimento, um ambiente “agitado” de grande nacionalismo e, não tenhamos dúvida, interiorizou esse grito de liberdade pela Índia, tanto que aos 12 anos encabeça uma marcha contestatária, contra o país colonizador, o Reino Unido.

Indira Gandhi, embora tenha começado os estudos na Índia, teve uma vivência alargada de formação no exterior, passando pela Suíça alguns anos, acabando em Oxford e Cambridge.

Neste período consegue, porém, acompanhar a mãe e Nehru da cadeia manteve com ela uma correspondência abundante, materializada em forma de livro.

A sua vida política iniciou-se cedo. Com 21 anos apenas ingressa no Partido do Congresso (1938). Em 1955, é eleita para o Comité do Trabalho Nacional e torna-se Presidente do partido do Congresso entre 1959 e 1960.

Durante o mandato do Pai como Primeiro-Ministro, Indira acompanha-o nas viagens oficiais. Suscita admiração pela sua presença reservada, eficaz e elegante.

Em 1964 eleita para o Parlamento assume pouco depois o cargo de Ministro da Informação e Radiodifusão sob a Presidência de Shastri, sucessor de Nehru.

Presidente durante 16 anos

Shastri morre em 1966. Indira é eleita Primeira-Ministra pelo partido do Congresso com o apoio dos «patrões» do Partido na ideia de que a poderiam manipular.

Um equívoco. Indira sabia ao que ia. Tinha vantagens sobre outros eventuais candidatos. Dominava bem os meios diplomáticos e a nível interno o prestígio da família Nehru. Não deixa, no entanto, de ser enigmático. Tanta longevidade em cargo de tanto poder e prestígio num país onde o estatuto da mulher em si era pouco prestigiante!

Terá sido o peso político da dinastia familiar, a luta abnegada e consequente pela independência do país, o fervor nacionalista, a classe social de Brâmane, o Carisma, a determinação na decisão?!

Presidente durante 16 anos enfrenta problemas bem agudos, internos e externos.

Indira toma posse do cargo no meio da maior crise, pós Independência. Crise alimentar gravíssima devido às más colheitas de 1965 e 1966, declaração de guerra ao Paquistão (1965), desvalorização da moeda (rupia), PIB real a crescer a taxas negativas (-2.6% e -0.1%). Uma situação destas penaliza sempre os mais desfavorecidos, os mais pobres, gera muito descontentamento e descrédito dos governantes.

Eleições 1967

Neste contexto, o partido do Congresso não obtém um bom resultado. Perde em oito Estados da União. Indira sai, no entanto, reforçada. Revelou-se uma brilhante oradora e conquistou o coração do povo indiano. Face à situação crítica de fome pede ajuda aos EUA que a nega pela recusa da Índia em apoiar a guerra do Vietnam.

Decide, então, intervir na economia com uma política de nacionalizações, começando pela Banca. “Os barões” do Partido “tremem”, mas a classe média e os mais pobres estão com Indira.

As nacionalizações desencadeiam reacções extremas. Indira contorna o Parlamento e passa a governar por decreto. Grande tensão no Partido e cisão, criando o seu partido do Congresso.

Eleições 1970

Indira ganha eleições e avança outra medida radical. Suprime os privilégios, “rendas perpétuas” garantidas aos Príncipes, aquando da independência. Estas medidas não passam no Parlamento. Indira dissolve-o.

Em 1971, a deterioração das relações no Paquistão entra num ponto de não retorno. O movimento independentista do Paquistão Oriental é alvo de uma repressão violentíssima. Mais de dez milhões de paquistaneses refugiam-se na Índia, país pobre, que não tem margem para acolher tantos refugiados.

Perante o “imobilismo” do Mundo ocidental, a Índia prepara uma intervenção militar aproveitando um ataque aéreo do Paquistão à Índia. Após duas semanas de combate a resposta indiana obtém todo o êxito. Os soldados indianos são acolhidos como heróis libertadores do Paquistão Oriental que se independentiza sob a designação de Bangladesh.

Outro acontecimento reforça o Carisma de Indira. Construção da primeira bomba atómica (1974) entrando para o clube dos países nucleares.

A nível internacional reforça a liderança no movimento dos Países não Alinhados, e assina o Tratado de Paz, Amizade e Cooperação com a URSS (1971).

Em 1975, Indira é acusada de corrupção e fraude eleitoral e a oposição pretende cassar-lhe os direitos políticos por seis anos.

Indira Gandhi declara o Estado de Emergência (recebe o apoio de Madre Teresa), impõe a censura e prende cerca de 600 adversários políticos.

Dois anos depois, convencida de que reunia condições para as eleições, decreta o fim do Estado de Emergência, liberta os presos políticos.

Perde as eleições contra uma ampla coligação desde a esquerda à direita hindu. E desta forma nasce o primeiro governo do partido “Janata”.

A travessia do deserto é curta. Logo em Janeiro de 1978 é eleita num Estado do Sul de grande influência do Partido do Congresso. Sua popularidade sobe. Em 1980 há eleições e Indira Gandhi torna-se de novo primeiro-ministro.

A vida não lhe correu bem. Primeiro porque a situação económica da Índia arrastava-se sem grandes melhorias e depois o movimento separatista Sikh toma o Estado do Punjab.

Indira arrasa o Punjab (800 mortos). Os Sikhs não lhe perdoam e planeiam o seu assassínio. Em 31 de Outubro de 1984 através de dois guardas pessoais Sikhs, Indira é baleada e morre.

Sucederam-se três dias de anarquia completa com milhares de mortos.

O que deixou Indira Gandhi à Índia

A consolidação da Índia como país no mapa Mundo do Futuro.

Uma marca de independência da Índia face aos dois blocos políticos da guerra fria. A aproximação à URSS ficou a dever-se ao não respeito do Ocidente pelo movimento dos não alinhados e ao apoio dos EUA na guerra com o Paquistão.

Imprimiu na sociedade indiana um verdadeiro espírito de paz, apesar das guerras que teve de travar.

Uma sociedade muito desigual onde as castas continuam a pesar.

Na economia, apesar do crescimento médio na ordem de 4,5%, não conseguiu reunir as condições de base do relançamento económico. A maior falha situou-se numa educação muito deficiente e nas infraestruturas físicas, designadamente transportes e electricidade. No entanto, as discrepâncias de então entre a Índia e a China, excepção à educação, não eram significativas em termos de desenvolvimento.

Dezasseis anos que, hoje e no futuro, marcarão a vida da Índia.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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