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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Jornalismo

 

Existe muita documentação sobre o tema que trago para reflexão. Não sou jornalista e nunca o fui. Apenas colaborei em empresas de comunicação social, mas sempre soube separar o que entendia ser uma colaboração, da verdadeira formação e responsabilidade de ser jornalista. Fui um amador que lia muito e tentava transmitir qualquer coisa. De resto, aprendi com muitos que, detentores de carteira profissional, construíram a sua vida escrevendo, opinando, entrevistando e liderando um sector que considero vital em uma sociedade livre e, necessariamente, democrática. 



Por aí passei e que bons foram esses anos de permanente aprendizagem. Olho lá para trás e hoje sublinho que não seria o que sou, refiro-me à minha leitura da vida, se não tivesse participado no jornalismo, na rádio, na televisão e nos jornais. Por isso, adquiri uma compreensão das situações, obviamente com todas as minhas continuadas limitações, que me permitem de forma serena e distanciada, uma certa crítica face àquilo que vou assistindo.

Não é que eu escreva de forma exemplar (por uma questão de princípio não acompanho o último AO), mas tendo não errar. Escrevo e deixo os meus textos a "marinar", relei-os duas e três vezes e, só depois, publico. Encontro sempre falhas na concordândia, verbos mal conjugados, palavras mal digitadas, pontuações incorrectas, enfim, faço esse esforço porque entendo que a Língua não deve ser atraiçoada. Mas, confesso, falta-me muito, no plano da ciência da Língua, para atingir o plano que tanto gostaria.  

Estou a desviar-me do que aqui me traz. São três os pontos fundamentais desta reflexão:

Primeiro, a comunicação social escrita, onde dou conta, não de gralhas, porque, infelizmente, essas acontecem, mas de imperfeições na definição do essencial, sequência das ideias e até erros, naturalmente por falta de revisão. Sei o que isso é, porque também desempenhei a função de revisor. Tantas vezes se olha e não se vê o erro. E há textos de opinião que, de opinião, nada têm. Sei que os quadros redactoriais são curtos, a informação é muita e os horários limitados. E múltiplas são as tarefas. Mas, convenhamos, há que ter mais cuidado. E se isto refiro é porque aprecio os textos que dão prazer em descobrir o parágrafo seguinte. Desisto quando isso não acontece. Passo à frente. Que me perdoem a franqueza, os jornalistas e os articulistas.

Segundo, refastelado no sofá, gosto de assistir a uma boa partida de futebol. Ontem, confesso que o narrador do jogo Porto-Chelsea levou-me a tirar o som da televisão. Ao contrário do comentador, sereno e perspicaz, alertando para os pormenores que o espectador não descortina, o narrador seguia o jogo com um entusiasmo tal, como se o espectador fosse cego. Situação que é recorrente. A todo o momento parecia-me que ele também fazia parte dos 22, tinha a bola e desejava rematar. Imaginei-me sentado em um estádio com um sujeito atrás a businar-me os ouvidos com aquilo que eu estava a seguir. Meu caro narrador, rádio é uma coisa, aí transmite-se a emoção, televisão é outra completamente diferente! A RTP tinha um "livro de estilo" (julgo que assim se designava) pelo qual se guiavam. Lá chegará o momento (não sei se já é tecologicamente possível) em que o espectador, com o seu comando, separa o áudio dos comentadores e narradores do som ambiente. 

Terceiro, as entrevistas. São várias as técnicas e não vou aqui desenvolvê-las. Nem eu sou a pessoa indicada para isso. Apenas, enquanto espectador, no caso da televisão, considero que esse momento, em todas as situações, mas sobretudo quando se trata da presença de convidados de quem se espera poder perceber um dado assunto, compreendê-lo e até aprender, constitui um momento, repido, de extrema relevância. O entrevistador nunca deve assumir protagonismo. Deve ser discreto. O convidado é, naturalmente, a figura principal. Daí que, quem conduz a entrevista, deve estudar o tema, amadurecer as questões e, serenamente e com inteligência, colocá-las com frontalidade e esperar a resposta, não a por si desejada, mas a do convidado. É muito discutível, pelo menos para mim, a tese de que um jornalista, no quadro de um alegado contraditório, suspenda a sua isenção. Talvez, por isso, bastas vezes assisto a entrevistas durante as quais o entrevistador fala em cima do entrevistado, corta-lhe o raciocínio, adianta-se e quase exerce a função de defesa das suas próprias convicções. Isto é, convida e ofende!

Há tempos li um texto, a propósito de uma entrevista, em que o autor dizia que aquele momento deveria servir para ser passado aos alunos da Licenciatura em Jornalismo, como exemplo e sob a designação "de como não entrevistar". 

Mas, atenção, de jornalismo nada percebo. Quem estudou, obviamente, está a léguas de mim. Apenas desabafei.

Ilustração: Google Imagens.

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