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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Para quê?

 

Para quê tanta opulência? Para quê tanta ganância, tanta luta pela riqueza, muitas vezes mal explicada? Para quê, é a pergunta(s). Um grande Amigo meu, infelizmente já falecido, o Franklim, nas nossas longas noites de conversa em redor de um frugal petisco acompanhado de um copo, dizia-me, de forma tão simples quanto eloquente, "para quê, quando temos um só estômago"? Queria ele atingir não apenas o âmbito das necessidades do corpo como a noção de finitude da vida. 



Ele tal como eu não olhávamos de forma enviesada para quem muito tem, por herança, por investimento certo no momento exacto, por criatividade e sentido de risco. Nada disso. Desde que criem postos de trabalho, sejam cumpridores da lei e paguem os impostos devidos, nada a opor, era essa a nossa convicção. 

O problema, na altura conversávamos, situava-se no exagero, na ambição descontrolada, nos passos superiores à perna, nas situações que mereciam uma cabal explicação, na infame exploração dos que trabalham para regozijo pessoal, na opulência desmedida e nos sinais exteriores de uma riqueza de duvidosa fundamentação. Se, hoje, estivesse à conversa com o Franklim certamente que ele me diria: "há muitos rendeiros em Portugal" ou melhor, muitos a "fabricar rendas". Então, pergunto, para quê viver numa permanente ilusão, no vício da nota fácil, no olhar para o cofre recheado, bastas vezes sem um mínimo pudor relativamente à forma como ele encheu. Quanto mais têm, mais desejam. Para quê?

São tantos os exemplos que choca todos aqueles que fazem da vida a viagem da honestidade. O que se encontra em Durban, viveu na ostentação, na exaltação dos bens à custa de outros, luxo que não durou para sempre. Antes, transportado pelo motorista, confortavelmente no banco traseiro, agora, numa viatura celular que mais me pareceu de transporte de gado; antes, protegido pela vigilância particular, agora, deambula por um espaço com polícias armados até aos dentes; antes, no hotel de todas as estrelas em comodidade e atenções, agora, no espaço nauseabundo compartilhado e ameaçado por dezenas de bandidos; antes, à mesa sumptuosa dos restaurantes, servido com todas as atenções, agora, na angustiante cantina prisional que tantos documentários mostram a frieza dos comportamentos.   

Para quê a riqueza insustentável, volto a questionar. Para quê? De facto, Amigo e sempre presente Franklim, "só temos um estômago".

Ilustração: Google Imagens.   

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