Acentua-se em mim uma relação de amor, não sei se este será o termo apropriado, mas também de ira contida relativamente à comunicação social. De profundo sentimento afectivo quando a comparo com tempos idos de repressão e total controlo; de acentuada mágoa, quando o que nos é oferecido, tantas vezes, na compaginação dos dados e dos contextos, vem envolto em posições não condizentes com a honestidade. É evidente que não peço a verdade a um jornalista ou comentador. Peço, apenas, que sejam honestos com a sua verdade. É isso que, genericamente, não vislumbro. No dia-a-dia prevalecem a oportunidade, a "costela política" e aquilo que designo por filão de exploração até ao tutano!
De facto não podemos exigir a verdade. Quanto muito a honestidade de quem escreve ou comunica através de um qualquer meio. Porque ela, a verdade, é múltipla. Existem verdades. Dependem da cultura geral, dos princípios e valores de cada um, da leitura sobre o que se passa debaixo dos olhos dos actores/observadores, do que aculturaram ao longo da vida, das crenças, convicções, audiências e também, factor que não pode ser descurado, da submissão aos interesses patronais e dos grupos políticos, económicos, financeiros, até, religiosos, enfim, de quem os remunera, claro.
Directa ou indirectamente os "donos" acabam, com subtileza, por cercear, secar e controlar. Torna-se, portanto, complexo exigir a verdade. São múltiplas as variáveis comunicacionais. Contentar-me-ia, por isso, da parte de quem informa, comunica e sobretudo de quem comenta que justifique a sua razão. E isso raramente fazem. Eu diria que importante deveria ser o porquê e não propriamente o quê! De resto, é uma balela admitir que o jornalista ou o comentador só diz a verdade, que um e outro são neutros. Não, eles são pessoas, são homens e mulheres que podem amar mais a mentira que a verdade!
Entendo que factualidade e actualidade deveriam constituir as características essenciais do processo informativo e comunicacional, desde o quadro estrito da informação jornalística até ao comentário. Mas isso implica agentes que valham do ponto de vista cultural, científico, ético, do rigor e independência. Na conjugação destes pilares poderia esperar-se por uma relação de confiança entre o produtor e o consumidor. Não é isso que está a acontecer. Há muita espuma. Nos grandes centros assiste-se ao confronto ideológico que bastas vezes nem ideológico é. Quanto muito é de oportunidade. Ainda são possíveis alguns trabalhos de investigação que nos esclarecem e nos fazem completar o puzzle do conhecimento; nos pequenos centros, ao domínio do pensamento castrador dos senhores que estão no vértice da pirâmide. Talvez, por isso, transpareça que tudo seja admitido como normal, quase tudo seja repetidamente tratado pela rama, pois escarafunchar os meandros da podridão política, social, económica e financeira, está quieto, porque, em última análise, lá em casa existem bocas para alimentar. Prevalecem os assuntos de reduzido interesse público, as páginas do desporto, a dos casos do dia e as da necrologia. E é assim porque, por um lado, o dinheiro é demolidor, por outro, todos vivem com o espartilho e com o medo do dia seguinte. Nada de ondas...
Ilustração: Google Imagens.
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