Infelizmente, a nossa Cidade está em sucessiva degradação! Desde logo os seus três núcleos históricos, Santa Maria, Sé e S. Pedro, que, ao longo dos últimos anos, sofreram intervenções, muitas intervenções claramente abusivas, que desrespeitaram o princípio sagrado da preservação, daquilo que marcou uma época, daquilo que é genuíno e identificador, custasse o que custasse e doesse a quem doesse. Porque isso, para além de constituir um acto de cultura, vende.


Infelizmente, a nossa Cidade está em sucessiva degradação! Desde logo os seus três núcleos históricos, Santa Maria, Sé e S. Pedro, que, ao longo dos últimos anos, sofreram intervenções, muitas intervenções claramente abusivas, que desrespeitaram o princípio sagrado da preservação, daquilo que marcou uma época, daquilo que é genuíno e identificador, custasse o que custasse e doesse a quem doesse. Porque isso, para além de constituir um acto de cultura, vende.
O núcleo de Santa Maria é, indiscutivelmente, o pior exemplo. Um núcleo que deveria ser tratado com pinças, com amor, com a inteligência que os homens e mulheres da cultura madeirense poderiam e deveriam dar. Aliás, em menos de vinte anos, desapareceram, ali e em outros espaços, muitos símbolos da nossa História, do nosso património histórico-cultural, por negligência, por falta de rigor e por ausência de classificação. Construiram uma cidade, igual às outras, que não vende e que não se torna apetecível. Hoje, no dia de mais um aniversário, apesar dos esfuziantes discursos, é convicção minha que perderam o controlo e andam atrás do prejuízo.
A cidade, há uns anos a esta parte, parece-me dividida em coutadas, onde se jogam os grandes interesses imobiliários e onde a disputa é ao centímetro. O produto final é este: uma cidade a velocidades diferentes em consequência do desordenamento e do crescimento insustentável. A prova mais evidente e arrepiante está em quase todo o corredor da Estrada Monumental, com particular destaque a partir do nó do Lido até à zona do Clube Naval. A apetência construtiva, a falta de senso, de equilíbrio e de pulso político é evidente na ausência do ordenamento do espaço e na falta de coragem para dizer NÃO. Fizeram daquela zona nobre um espaço horroroso para quem aqui vive, muito mais para quem visita. Até as aberturas para o mar, essas linhas de vista absolutamente necessárias, quase desapareceram. O Arquitecto Rafael Botelho, o que projectou o primeiro PDM do Funchal, nos finais dos anos 60, deve andar horrorizado. E neste aspecto ouvi, aqui há uns anos, o presidente do governo dizer que havia que sacrificar uma zona para o turismo e que aquela tinha sido a zona escolhida. Esta a declaração mais fiel da mentalidade existente. Como se não fosse possível compaginar o crescimento com o espaço disponível tornando-o agradável.
Gostaria que a Cidade, para além dos acontecimentos de 20 de Fevereiro ou dos recentes fogos florestais, tivesse motivos bastantes para comemorar. Em minha opinião, não tem. Há monumentais erros com consequências futuras por determinar. Criaram hortas urbanas (!!!) mas esqueceram-se que esta é uma cidade Atlântica, Europeia e Turística. Andam para aí a brincar ao programa "Civitas", um programa pressupostamente destinado a gerar novos hábitos de mobilidade dos cidadãos, m
as esquecem-se que o problema não se resolve apenas por aí, mas com políticas integradas de tráfego e de estacionamento, que têm muito que se lhe diga, em função dos movimentos pendulares e horizontais, das ciclovias na baixa citadina e dos park & ride. Apresentam um Festival Jazz (excelente, valha a verdade) mas esquecem-se que esta cidade, a partir das 19 horas, é uma cidade morta. Falam da cidade cosmopolita, abaixo da Cota 40, certamente, mas esquecem-se da ausência de planeamento, ordenamento do espaço e dos equipamentos nas zonas altas da cidade. Falam de património natural, mas esqueceram-se da prevenção e vigilância nos picos estatísticos mais propícios a incêndios. Falam da beleza do anfiteatro, mas querem destruir o que de mais belo tem o Funchal, toda aquela zona de praia e arriba que se estende do Toco até ao Garajau. Falam dos acessos ao mar, mas querem vender a retalho uma grande parte da Praia Formosa, o único espaço que deveria constituir a grande zona de lazer da cidade. Falam de um Funchal "bonito", por fora, mas esquecem-se que ele está apodrecido, por dentro, pelas suas graves assimetrias sociais, económicas e culturais. Falam de uma cidade, "a primeira construída fora do espaço europeu", mas esquecem-se que não são dados passos para a valorização patrimonial que a identifique como tal.
Mas, hoje, os discursos serão empolgantes, do tipo, fizemos isto e aquilo, e se mais não fizemos foi porque o Estado, sempre o Estado, não quis que andássemos à velocidade que desejaríamos. Boicotaram-nos, dirão. Como se a Autonomia e 36 anos de governo autárquico monocolor não contassem para o momento da avaliação. Uma vez mais, omitirão, até porque a oposição não pode abrir a boca na cerimónia solene, os erros, os mea culpa pelo desastre urbanístico e pela ausência de soluções. Um manto de silêncios abafarão os erros estratégicos.
A cidade, há uns anos a esta parte, parece-me dividida em coutadas, onde se jogam os grandes interesses imobiliários e onde a disputa é ao centímetro. O produto final é este: uma cidade a velocidades diferentes em consequência do desordenamento e do crescimento insustentável. A prova mais evidente e arrepiante está em quase todo o corredor da Estrada Monumental, com particular destaque a partir do nó do Lido até à zona do Clube Naval. A apetência construtiva, a falta de senso, de equilíbrio e de pulso político é evidente na ausência do ordenamento do espaço e na falta de coragem para dizer NÃO. Fizeram daquela zona nobre um espaço horroroso para quem aqui vive, muito mais para quem visita. Até as aberturas para o mar, essas linhas de vista absolutamente necessárias, quase desapareceram. O Arquitecto Rafael Botelho, o que projectou o primeiro PDM do Funchal, nos finais dos anos 60, deve andar horrorizado. E neste aspecto ouvi, aqui há uns anos, o presidente do governo dizer que havia que sacrificar uma zona para o turismo e que aquela tinha sido a zona escolhida. Esta a declaração mais fiel da mentalidade existente. Como se não fosse possível compaginar o crescimento com o espaço disponível tornando-o agradável.
Gostaria que a Cidade, para além dos acontecimentos de 20 de Fevereiro ou dos recentes fogos florestais, tivesse motivos bastantes para comemorar. Em minha opinião, não tem. Há monumentais erros com consequências futuras por determinar. Criaram hortas urbanas (!!!) mas esqueceram-se que esta é uma cidade Atlântica, Europeia e Turística. Andam para aí a brincar ao programa "Civitas", um programa pressupostamente destinado a gerar novos hábitos de mobilidade dos cidadãos, m

Mas, hoje, os discursos serão empolgantes, do tipo, fizemos isto e aquilo, e se mais não fizemos foi porque o Estado, sempre o Estado, não quis que andássemos à velocidade que desejaríamos. Boicotaram-nos, dirão. Como se a Autonomia e 36 anos de governo autárquico monocolor não contassem para o momento da avaliação. Uma vez mais, omitirão, até porque a oposição não pode abrir a boca na cerimónia solene, os erros, os mea culpa pelo desastre urbanístico e pela ausência de soluções. Um manto de silêncios abafarão os erros estratégicos.
NOTA:
O Funchal em Pessoa
Escreve o Jornalista Luís Calisto na edição de hoje do DN:
"Quando Virgílio Pereira, na renhida campanha eleitoral de 1993 contra o socialista André Escórcio, usou o lema "Funchal de alto a baixo", presumivelmente queria exprimir um propósito de harmonização do crescimento urbano. Mas os tubarões do cimentismo tomaram a palavra à letra e escaqueiraram a capital. De cima a baixo e dos Socorridos à Cancela. Resultado, 17 anos depois: um sufoco de construção na terra e no mar, praias-fantasma, trânsito enervante, desordem urbanística que dói".
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