Um grande Amigo, um dia, nos longos diálogos noite fora, abordando a esquerda e a direita política, disse-me: sabe, a esquerda política, aquela que defende princípios e valores democráticos, é muito idealista, sonhadora e vê o mundo e as pessoas impolutas, transparentes, raramente vê a trapaça do jogo e até, por isso mesmo, muitas vezes deixa-se encantar, resvalando de tolerância em tolerância; ao contrário da direita política que tem uma história milenar, que a tornou muito paciente, serena, matreira, encantadora e sedutora. Paciente porque sabe como desenhar o labirinto para chegar ao poder e como, onde e quando deixar bem disfarçados os alçapões.
Ainda ontem, o humorista Ricardo Araújo Pereira salientava o facto de atribuírem 12/13 minutos a cada candidato nos debates que estão a ocorrer, acrescentando que, logo de seguida, o espectador fica confrontado com intermináveis minutos de comentadores e jornalistas. Acrescento: que até atribuem notas à prestação daqueles que poderão vir a representar o Povo na Assembleia da República. Não deixa de ser curiosa esta ambiguidade de tratamento entre quem define estratégias políticas e os outros! Engana-se quem pensa que isto não tem um significado mais profundo e, subtilmente, escondido, onde dominam, também, os interesses empresariais.
No meio disto, há Conselheiros de Estado que são comentadores, analistas que aparecem em duas cadeiras separadas por escassos minutos: ora na situação de apaniguados de uma determinada força política e, logo mais, como analistas da "coisa" que está em causa. Jornalistas, também, de tez severa para com os convidados, dando a entender com as suas intervenções (não perguntas) o lado em que se situam.
É evidente que o exercício da Democracia exige que todos tenham direito à palavra. É nos diversos posicionamentos que elaboramos ou nos estribamos numa opinião compaginada com a nossa própria história. O que já não me parece razoável e defensável é a tendência para que não se deixe ao Povo a capacidade de, livremente, ouvir e escolher os caminhos que entendem ser os melhores. Neste quadro, parece-me óbvia a orientação para, prioritariamente, colocar cidadãos escolhidos a dedo, que entram casa adentro, para, serena, pacientemente e sem contraditório, venderem o seu peixe de acordo com os seus posicionamentos políticos.
É claro que todos nós transportamos heranças conceptuais desde a família que habitámos, ao que lemos, à cultura que nos enformou, ao leque e interesses de grupo, inclusive, até a própria ausência de informação adequada. Somos um pouco de tudo isso. O que eu rejeito é que tentem, com descarada intenção, "comer as papas na cabeça", algumas vezes trapaceando, outras, confundindo no sentido de imporem o seu pensamento. Já há alguns anos que é assim. E está cada vez pior. Pacientemente, repito, vão tecendo a teia pouco se ralando que entre as sondagens e os resultados eleitorais a diferença os coloca seriamente em causa. Mas continuam o seu percurso de encantadores de serpentes. Felizes ficam quando acabam por levar a água ao seu moinho.
Ora bem, no respeito por uns e outros, pelos políticos e pelos comentadores, bom seria que, sobretudo as estações de televisão, optassem pelo distanciamento, deixando ao Povo a capacidade de escutar e decidir.
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