Deixo para depois as questões relacionadas com as investigações em curso. Se valer a pena, claro! Rejeito as opiniões a partir de uma mancheia de "achismos" que por aí andam. Entendo que o tempo ditará a complexidade das responsabilidades de cada um, directa ou indirectamente envolvidos. Poderá levar anos, sabe-se que, infelizmente, é assim, e, por isso, todo o tipo de especulações, como se fôssemos investigadores e profundos conhecedores do processo e até juízes, do meu ponto de vista deve assentar num redobrado cuidado na prudência das leituras.
Uma coisa foi a sistemática denúncia em sede de Assembleia Legislativa e autarquias, às quais se juntou a "vox populi" que, durante tantas dezenas de anos, alimentou a desconfiança na condução dos processos políticos; outra é, perante a realidade que se vive, tecer comentários específicos, julgando, antecipadamente, sem a correspondente prova, condenação e o trânsito em julgado. Não vou por aí. Prefiro que a Justiça faça o seu caminho, conjugado com o que (e bem) escreveu Miguel Sousa Tavares na edição de hoje do Expresso:
"Quando a Justiça não apenas consente mas ainda se conforta em ver os julgamentos que lhe cabe fazer serem feitos previamente na praça pública, ela e nós estamos a caminho do desastre".
Adiante. Não sou, porém, alheio às questões de natureza política. Com a devida atenção escutei o anúncio de demissões, acompanhei o essencial das audições junto do Senhor Representante da República, a "estranha" posição do parceiro de coligação (CDS), as "anfíbias" posições do PAN, a insossa postura assumida pelo Senhor Presidente da República em dois ou três momentos, a total secundarização dos deputados na Assembleia Legislativa, o pensamento de variadíssimos comentadores políticos, o que disseram os representantes dos vários partidos políticos e, ainda, a palavra de vários Professores de Direito Constitucional. Conjugando tudo o que escutei com as declarações proferidas no final da comissão regional do PSD, é-me sensível um total paradoxo entre os factos (formal e ético) e a posição da maioria, uma vez que, para ela, bastará apresentar um nome para líder, a formação de um "novo" governo, provavelmente com o mesmo programa e, assim, "tudo como dantes, no quartel de Abrantes".
Enquanto cidadão não me revejo nisto. O que, ainda ontem, escutei da boca dos Constitucionalistas leva-me a dizer que, todos os dias, alguns tentam pôr em causa a Constituição da República, juntando ilusórias peças no sentido da sua própria sobrevivência política. A confusão instalou-se e todos os dias são atiradas novas achas para a fogueira. Ora bem, não é o Orçamento Regional que está em causa, mas a LEGITIMIDADE para governar. E essa legitimidade, face às gravosas circunstâncias políticas, só pode advir de um novo acto eleitoral. Porque a luta do actual governo, ferido que se encontra no plano político, está para a sua continuidade, como a boia está para um náufrago.
Que haja bom senso, desprendimento político, respeito pela Constituição e pela leitura política que o Povo faz em cada momento, que não existem insubstituíveis, que a Democracia deve ser respeitada nos planos formal e prático e que a humildade de qualquer servidor da "coisa pública" deve estar acima dos interesses pessoais ou de grupo. De resto, o exercício da política não é um emprego, mas um serviço público à comunidade. Ah, já agora, que o Senhor Presidente da República diga, abertamente, o que pensa e como pensa solucionar este problema político.
O resto, as questões da Justiça, que fiquem para depois.
Ilustração: Google Imagens.
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