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terça-feira, 11 de outubro de 2011

A MADEIRA VAI PAGAR MUITO CARA A "LOUCURA" DE JARDIM. INFELIZMENTE!


Revejo-me nos passos dados, mas nego-me a entrar nessa repetida historieta da estratégia. O que dizer, por exemplo, da CDU que, diariamente, contacta as populações; o que dizer do Bloco de Esquerda que perde o seu único deputado? O que dizer do PTP que coloca três deputados quando é um partido de denúncia? O que dizer da entrada no Parlamento do Partido dos Animais e da Natureza, quando o momento é muito, muito grave do ponto de vista da economia e das finanças? Terá sido por influência de uma má ou boa estratégia? Decididamente, não. O que está aqui em causa é muito mais complexo que a estratégia. Desde logo tem a ver com o estado de pobreza da nossa população, com a fome de muita coisa para além dos géneros alimentícios. Com a educação que não se confina, apenas, ao saber ler e escrever, com a cultura e com a capacidade de saber ler e cruzar a informação disponível. Tem a ver com questões de cidadania.

De corda ao pescoço!
Custa-me aceitar determinado tipo de críticas quando elas não estão nem são fundamentadas. É fácil dizer, por exemplo, que a estratégia falhou. É simples, redutor e permite colocar um ponto final no assunto. E permite, também, por extensão, encontrar os culpados, para cruxificá-los. A estratégia é a palavra-chave para alguns. A culpa é sempre da ausência de estratégia. Quando não se ganha e, como o PS nunca ganhou, logo a estratégia esteve sempre errada. Questiono-me, então, sobre as razões de, ao longo de tantos anos, não ter aparecido alguém portador dessa tal estratégia que operasse o milagre? No mínimo, é de desconfiar. Nestas coisas da política, quando o resultado é mau, digo eu, desastroso, pimba, lá vem o problema da estratégia ao de cima. Como se, em 2007, para não ir lá mais para trás, como se, em 2011, os resultados apurados tivessem constituído um problema de base estratégica. Em 2007, tenho-o dito tantas vezes, depois de ter andado sete anos fora do parlamento, assisti a uma campanha cara mas bem organizada, com força, com pessoas, com discurso e foi o que se viu. Em 2011, envolvido como estive, com muitas limitações orçamentais mas com a boa vontade dos órgãos decisores do partido e de muitos esforçados militantes foi possível montar uma campanha diária durante quatro meses.
Aliás, como nunca tinha acontecido, a pedido da direcção do PS, a 28 de Fevereiro de 2011, colaborei em um documento com 200 páginas, que consubstanciou todo o enquadramento da governação madeirense, com um extenso sentido propositivo, visando políticas de governo sustentáveis e portadoras de futuro. A Região política foi passada a pente findo, através de dezenas de colaborações, em todos os sectores, áreas e domínios da governação. Mais tarde, foi apresentado um novo organograma de governo e, finalmente, os rostos das pessoas a quem competiria cumprir, em caso de vitória, as designadas "bases programáticas". Bastaria aos eleitores compararem com a habitual "oferta" do PSD em matéria de programas e de figuras. De permeio, saliento, centenas de estudos e documentos produzidos, com pensamento político, foram publicados na comunicação social, elaborados cartazes e meio milhão de outros documentos distribuídos pela população (três edições de um jornal de campanha, um manifesto eleitoral, um postal dirigido aos abstencionistas, entre muitos outros). Tudo isto para além de quatro anos e meio de luta parlamentar. E a estratégia falhou, dirão alguns! Interrogo-me sobre o que poderia ter sido feito melhor? Bom, é sempre possível fazer melhor, mas perante o que foi realizado tal acrescentaria uma percentagem capaz do PS hoje ser poder? Nem pouco mais ou menos!
Tenho idade e experiência de vida, inclusive, política, para não vir agora encontrar desculpas esfarrapadas. Repudio-as. Tampouco me penitencio pelo resultado de uma equipa onde fui um colaborador activo. Revejo-me nos passos dados, na escolha que o presidente do partido fez, na figura honesta e de valor do Dr. Maximiano Martins, mas nego-me a entrar nessa repetida historieta da estratégia. O que dizer, por exemplo, da CDU que, diariamente, contacta as populações e perdeu um deputado; o que dizer do Bloco de Esquerda que perdeu o seu único deputado? O que dizer do PTP que colocou três deputados, quando aos olhos dos eleitores não foi mais do que um partido de denúncia? O que dizer da entrada no Parlamento do Partido dos Animais e da Natureza, quando o momento é muito, muito grave, repito, do ponto de vista da economia e das finanças? Terá sido por influência de uma má ou boa estratégia? Decididamente, não. O que está aqui em causa é muito mais complexo que a estratégia. Desde logo tem a ver com o estado de pobreza da nossa população, com a fome de muita coisa para além dos géneros alimentícios. Com a educação que não se confina, apenas, ao saber ler e escrever, com a cultura e com a capacidade de saber ler e cruzar a informação disponível. Tem a ver com questões de cidadania e com a capacidade e liberdade de dizer não. O estado a que a Região chegou deve-se a isso e não a questões estratégicas. Com tanto "buraco" encontrado, com tanto comentador a colocar o jardinismo em causa depois de 35 anos de poder, em qualquer país, com estes níveis de pobreza e de desemprego, o PSD seria, hoje, um partido absolutamente residual. E não é. Perguntar-se-á, porquê? Na noite eleitoral, um jornalista perguntou a um pobre cidadão: sabe que hoje é dia de eleições. Para que são estas eleições? A resposta: não sei bem. Não sabe, retorquiu o jornalista. Penso que é para a continuação do governo, respondeu o homem. Talvez isto, para alguns, ajude a compreender a situação.
Para além da tragédia do sistema educativo, do défice de cidadania e de uma sociedade civil amorfa e oportunista, acresce muita outra coisa: 20.000 exemplares do Jornal da Madeira, distribuidos de borla e em todo o sítio para contar a verdade conveniente, as rádios locais, o controlo de todo o associativismo desportivo e cultural, as Juntas de Freguesia e as Câmaras, as Casas do Povo, a teia de caciques e de pequenos e grandes interesses, os muitos milhões disponíveis para uma campanha eleitoral, as inaugurações em tempo eleitoral, as festas da banana, da cebola e por aí fora, sempre com um palco disponível e de borla, a fuga ao debate político (o PSD, vencedor em mandatos, não participou em nenhum debate), a subsidiodependência e a benção da Igreja Católica que peca por omissão, tudo, mas tudo, encontra-se em um estado que só favorece o poder instalado. Dir-se-á que se trata de uma engrenagem perfeita! Será por falta de estratégia que o PS, o BE, a CDU perderam? Foi por alguma estratégia que se verificou uma deslocação dos eleitores social-democratas para o CDS, ou terá sido pela enraizada proximidade ideológica e não por propostas e pessoas apresentadas? E o Partido Trabalhista que colocou três na Assembleia, repito, foi por uma estratégia de poder de grande consistência? E qual foi a estratégia do PAN?
Quando oiço, como ouvi, ainda ontem, críticas relativamente à estratégia, concluo que das duas, uma: ou não sabem o que significa a palavra no espaço da administração e gestão ou, escondem qualquer coisa que estará muito para além das palavras. Um dos comentadores que escutei, embora sem me deter nos pormenores, até falou de um cartaz que chocava pela dureza: "A Madeira Faliu". Cartaz que surgiu, curiosamente, antes da descoberta do monumental buraco financeiro criado pelo PSD. Que tristeza! Lembro, a propósito, quantos anos e quantos cartazes de natureza soft foram publicados e quais os resultados que daí advieram? Se o dito comentador tivesse dedicado um mínimo de atenção facilmente compreenderia a intenção: quando o estado era e é de absoluta desgraça, onde um manda "prà frente, sempre", alguém teria de contrapor com a verdade, exactamente para chocar as pessoas, chamando-as à atenção. Cartaz que, logo de seguida fez o necessário contraponto: "Um novo governo, uma esperança". Foi essa a estratégia, aqui sim, com todas as letras e conteúdos. Portanto, quem não sabe deve ser comedido das palavras e nas declarações que produz.
E haveria tanto a dizer, mas fico por aqui, simplesmente porque acredito que os democratas saberão dar a volta a isto. Por enquanto, ele, o "único importante" que comece já a roer o osso. Entretenha-se. O Dr. Passos Coelho foi ontem peremptório: "a situação que se vive no arquipélago obrigará, seguramente, a um grande empenhamento não só dos madeirenses, mas do futuro governo para resolver uma situação de desequilíbrio muito forte que aconteceu" (...) "Creio que vai demorar muito tempo a ser corrigida". Só não viu e não vê quem não quis e quem não quer. Não foi por falta de estratégia que se verificaram estes resultados. Há uns que olham para a foz, eu prefiro olhar para a nascente.
Ilustração: Google Imagens.

9 comentários:

Anónimo disse...

E será que a RAM não está a pagar a loucura do minúsculo PS-M? Um PS-M com candidatos longe do povo, candidatos culturalmente de Direita, salvo V. Exª.

André Escórcio disse...

Não sou de encontrar desculpas fáceis e esfarrapadas. Não gosto de tapar o Sol com a peneira, mas penso que está enganado. Os candidatos não estiveram longe do povo e não são culturalmente de direita. Não conheço, da lista apresentada pelo PS, um único nome que se posicione à direita política. Conheço-os e sei dos seus passados de luta por uma sociedade melhor.

André Escórcio disse...

Recebi um comentário de um "anónimo" que agradeço. Peço desculpa de não o publicar. O conteúdo, que remete para um outro blogue, por se tratar de um assunto que não ajuda nem a Democracia nem a credibilidade política e social dos visados, é tão mesquinho que prefiro não alimentar a respectiva divulgação. Convirá que é muito mau, independentemente dos quadrantes políticos em que nos situemos. Obrigado pela compreensão.

Anónimo disse...

O grande culpado do PSD manter a Maioria Absoluta foi o PS que nem conseguiu manter o seu eleitorado -sete deputados. Será que as razões do Secretário Geral do PS Madeira no seu blogue, não são respeitàveis? È o Secretário Geral e o Senhor André está demitido. Não é verdade?

André Escórcio disse...

Senhor(a) "Anónimo", apenas lhe digo que há certos comentários e apreciações que passam por mim como a água nas penas de um pato. Quanto à minha pessoa, obviamente, não fui eleito o que é bem diferente de ser demitido. Os "contratos" em política são de quatro anos e o exercício da política não pode ser uma profissão. Há quem dela faça, eu nunca fiz.

Anónimo disse...

O Prof. André, um dos principais, senão mesmo o principal culpado pelos resultados do PS-M nesta regionais, não foi sequer capaz de fazer mea culpa? Será que vai hibernar politicamente como fez?

André Escórcio disse...

Meu caro "Anónimo", para seu esclarecimento integrei uma equipa com a qual sou solidário. Tenho plena consciência do bom trabalho que essa equipa fez. Obviamente que existem reparos, as organizações não estão isentas de erros, é evidente que há sempre aspectos a corrigir e a melhorar. O que não se pode é olhar apenas para o resultado sem contextualizá-los em imensas variáveis.
Provavelmente, se o PS dispusesse de 3 milhões de euros e um Jornal diário com 20.000 exemplares, provavelmente, repito, o resultado seria outro.
Depois, na minha vida política nunca hibernei. E fazer política não implica ser deputado ou vereador. Ela faz-se todos os dias e em qualquer sítio. O problema é esse.

João Pedro Vieira disse...

Bravo! Repito: bravo! Tenho acompanhado com frequência a sua análise política e confesso que a que se seguiu à fatídica eleição de Domingo tem sido brilhante. Não que a anterior não fosse, mas... ;-)
Deixo uma dúvida: é possível encontrar online o documento estratégico do PS referido neste artigo?

Um abraço,

João Pedro Vieira

André Escórcio disse...

Obrigado pelo seu comentário.
Assiduamente lembro-me de si, do notável aluno que foi e é. É bom reflectir consigo os problemas de actualidade política. São raros os jovens com a dimensão política que apresenta.
Obrigado pelas suas palavras, mas quero dizer-lhe que escrevo com o sentimento de uma sociedade melhor. Só isso.
Quanto ao documento, remeter-lhe-ei por e.mail.