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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

EDUCAÇÃO: ERIC HANUSHEK VEIO FAZER UM FAVOR POLÍTICO AO MINISTRO NUNO CRATO


Estou a achar uma imensa piada a estes convidados, penso eu, com o selo de Nuno Crato, que têm aparecido em Portugal a fazer a apologia de uma política, pergunta-se, de quem? De Nuno Crato, obviamente! Agora foi um tal americano Eric Hanushek que veio propor a substituição de, apenas, 4% dos professores "menos eficazes", os "menos eficazes" de todos, salientou, para verem o salto qualitativo nos resultados dos alunos. Segundo li, Eric Hanushek é um economista que se apresenta como especialista em economia da educação. "Em um dos gráficos mostrou: o impacto de afastar entre 6% e 10% dos professores “menos eficazes” colocaria o país deste investigador (USA), ao nível da Finlândia, um dos que têm melhores resultados educativos do mundo (só atrás da Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Xangai)". Na visão de Hanushek, "é preciso, desde logo, ter sistemas educativos onde os alunos sejam avaliados com exames centralizados — para que se tenha noção do que sabem “à entrada de um ciclo de ensino e, depois, à saída do ciclo de ensino” — de forma a medir a eficácia dos professores. Sugestão para Portugal: "Manter e até aumentar o sistema de exames."


O paleio deste "especialista" é conhecido, como é conhecida a práxis de Nuno Crato: menos professores, exames de acesso ao exercício da docência para desprestígio da universidade, turmas enormes, avaliação exaustiva dos professores, exames aos alunos e ranking's de estabelecimentos de ensino. Ora bem, pergunto, legitimamente, e se nós substituíssemos, em toda a Europa, inclusive na América, entre os 6% e os 10% dos economistas que estão a gerar a falência das sociedades, bem patente na crescente falta de emprego e na concomitante pobreza? É-me legítimo colocar esta pergunta, repito. O convite a este senhor feito pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, do meu ponto de vista, é desprestigiante para a própria instituição Gulbenkian. Pode saber de Economia, mas de Educação e de Sistemas Educativos melhor seria estar calado. Eu diria que os organizadores (!) foram enganados. E tratando-se de um economista, desde logo julgo que deveria consultar o Nobel da Economia em 2000, James Heckman, e os seus textos sobre o investimento em Educação. Talvez mudasse de opinião!
Parafraseando o Professor Abel Salazar e a sua frase no contexto da medicina: economista que só sabe de economia, nem de economia sabe! É que Eric Hanushek demonstrou desconhecer tudo o que os investigadores em educação, autores, professores, psicólogos, pedagogos, pedopsiquiatras, sociólogos e especialistas em organização laboral e familiar têm vindo a sublinhar sobre o que deve ser a Educação (no sistema educativo) no tempo do nosso tempo. Eric Hanushek secundariza os baixos níveis sociais e culturais que chegam à escola portuguesa e o "milagre" que muitos professores fazem para que o desastre não seja maior. Eric Hanushek opta pela visão simplista e redutora tal como o ainda Ministro Nuno Crato optou: se não sabem Português ou Matemática, não vale a pena ir às causas, facultam-se mais horas de "trabalho", portanto, mais escola, no pressuposto que se não vai a bem, vai a mal! Como se mais escola significasse melhor escola. Um aluno polaco, país que ele enaltece, por exemplo, tem 731 horas de aulas por ano; em Portugal, para o mesmo ano, tem 827 horas! E nem assim os resultados aparecem. Porquê, Dr. Eric Hanushek?
Aliás, com tanta investigação produzida em Portugal, com tantos autores de relevante qualidade que temos, com tanta literatura disponível, com tantos professores experientes, para quê chamar um americano, ainda por cima para nada acrescentar? Ah, percebo, Eric Hanushek veio a convite, talvez pago, para dizer o que o ministro quer que oiçamos. É a voz que vem da América. E tem a lata de falar da Finlândia. Conhecerá Eric Hanushek o que se passa na Finlândia? Deixo aqui uma parte de um texto que publiquei em Junho e que, em síntese, é o contrário do que veio propor a Portugal: "(...) Na Finlândia (existem outras experiências de sucesso em vários países) o professor é um moderador, um jogador atento e um criador de fenómenos que conduzem à descoberta. “(…) A ideia é não ser o professor a ensinar tudo”. Dizem os alunos: “é mais fácil compreender a matéria do que só de ouvido. Somos treinados para sermos independentes e para irmos à procura de respostas”. Leio: “(…) a aula decorre, mas não é Niina Vänttä a dar as ordens, apresenta a matéria ou perde tempo a mandar calar os alunos”. E o interessante, note o leitor, é que começam na escola aos sete anos, aprendem e estão no topo da avaliação PISA; só têm exames no final do secundário, por isso, não há stress, ansiedade ou nervosismo entre alunos e professores; só 3,8% dos alunos repetem um ano ao longo de todo o percurso escolar, contra 34,3% em Portugal; em toda a Europa são os que menos tempo passam na escola (média de 703 horas por ano, quando em Portugal são 803); dez páginas chegam para salientar o que os alunos precisam de saber do 1º ao 9º ano (qualquer disciplina), enquanto em Portugal são necessárias 110 páginas; rejeitam a sistemática “medição de resultados” (avaliação); 83% da população adulta tem o secundário, quando em Portugal ronda 38% (uma simples inversão de algarismos); são os professores que fazem o planeamento e definem as metodologias de aprendizagem e não uns estranhos à vivência escolar sentados no conforto dos gabinetes. Palavras de uma professora: “a sociedade mudou muito e os estudantes precisam de competências diferentes para quando forem trabalhar. No mundo real não existe a Matemática, a Biologia, a Química, não existem disciplinas escolares, mas fenómenos complexos, aos quais não podemos dar resposta como se fossem perguntas de resposta múltipla (…)”. Daí que os conhecimentos tenham de ser trabalhados de forma integrada. Mais, porque a Educação é necessária ao desenvolvimento, ela é pública, todo o ensino do pré-escolar ao superior é gratuito, incluindo as refeições, o transporte e os manuais. O número de alunos por escola situa-se entre os 200 e os 300. Os professores são vistos pelos alunos como “superautoridades” e é mais difícil ter acesso ao curso universitário de professor do que entrar para Medicina, leio no trabalho da jornalista Isabel leiria. Conheço a Finlândia e nada disto me é estranho. (...)". O problema português é, senhor "investigador" Eric Hanushek, sobretudo, económico, social, de autonomia das escolas, de investimento sério na escola pública, é curricular e programático, em síntese, como disse o Professor José Pacheco, o problema é de "uma escola com alunos do Século XXI, com professores do Século XX, mas com metodologias superiormente impostas implementadas desde o Século XIX".
Se me cruzasse com este "investigador" Eric Hanushek pedia-lhe: por favor, não diga disparates e não culpe os professores. Já temos por aqui um Crato, há quatro anos, a infernizar a vida de alunos, professores, encarregados de educação, sindicatos e investigadores. Goze o clima ameno de Portugal e regresse ao seu país onde pode vender as suas teses!
Ilustração: Google Imagens.

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