Recebi do meu amigo Duarte Manuel Abreu o seguinte comentário que agradeço: "(...) para bem do seu Partido, o Dr. Costa deveria ser posto a mexer, estou seguro que se referendassem os militantes a respeito da preferência em aliar o PS à esquerda ou viabilizar um governo da coligação PàF, mais de 50% dos militantes socialistas iriam preferir viabilizar um governo da coligação, europeísta do que entrar por caminhos de esquerda radical, que clamam demagogia pura em peça". Ora bem, permita-me que destaque e que aqui deixe a minha opinião:
Sou por uma Europa dos cidadãos, por uma Europa das Regiões que respeite as fronteiras e as identidades nacionais; rejeito uma Europa dos directórios que espezinham, controlam, submetem e até enriquecem à custa dos economicamente mais débeis. O meu sentimento europeísta está na liberdade de circulação de pessoas e bens, no sentido de uma comunidade de valores humanistas, de paz, tolerância e de crescimento onde ninguém fique para trás. Princípios que não estão a acontecer.
Sou de esquerda e que mal há nisso? Como outros são de direita e que respeito? E neste pressuposto, por que raio tenho de aceitar que é na direita que circula a "verdade" e está correcta e que a esquerda é formada por gente desaconselhável? Por que raio, não querendo ir por ali, porque conheço o esburacado caminho, tenho de vergar-me à lógica de "maria vai com as outras", que é como dizer: curva-te ao alemão Wolfgang Schauble, ao disfarçado socialista holandês Jeoren Dijsselbloem, ao luxemburguês Jean-Claude Juncker, entre outros? Quando vejo pobreza semeada, bolsos vazios, centenas de instituições a matar a fome, trabalho precário, famílias infelizes e desesperadas, emigração forçada com jovens de enorme qualidade "expulsos" do país, empresários sufocados, uma crescente e mal intencionada privatização das riquezas nacionais entregando-as a estrangeiros, carga fiscal que bloqueia a vida, serviços de saúde e educação cada vez mais distantes dos direitos constitucionais, no quadro da pobreza genérica, paradoxalmente, a multiplicação de milionários, pergunto, por que raio tenho de dizer sim às políticas de direita que, umas vezes subtilmente, outras, desavergonhadamente, segregam direitos e punem reformados e pensionistas em outono da vida?
Meu Caro, isto não tem nada, rigorosamente nada, de radical. Tem, do meu ponto de vista, de bom senso, de respeito pelos outros, um sentido de uma comunidade europeia que regresse aos princípios dos seus fundadores. Fomos enganados e estamos a pagar a loucura de querermos estar no "pelotão da frente", como se um país, com históricas debilidades estruturais e com um longo caminho a percorrer na industrialização, pudesse jogar na primeira divisão da economia europeia, quando se sabia e sabe que outros estavam e estão à espreita para esmifrá-lo.
Meu caro, como dizem os amigos brasileiros, o "dinheiro não é tudo, mas é 100%". Pois, desde que a comunidade cresça em equilíbrio e desde que sintamos que não existe jogo escondido que nos esmague. De resto, quem sou eu para dizer que esta política de direita está errada, quando até Prémios Nobel da Economia assumem que este é o caminho certo para o desastre e para a auto-destruição do sonho europeu? Como poderei entender que depois de tanto sacrifício pedido ao Povo, do esmagamento da classe média, a nossa dívida ainda tenha aumentado 30 mil milhões e já ronde os 130% do PIB? Onde estão as políticas "radicais"? Na direita ou na esquerda, questiono? Será aceitável, perante este quadro, que o FMI e a UE declarem a necessidade de continuar o aperto com as ditas "reformas", quando está à frente dos nossos olhos que isto, em linguagem informática, só pode dar "erro"? Por razões distintas e muito complexas, é certo, mas não faz soar a campainha da consciência o essencial das razões que levam o Reino Unido a não querer a moeda única e até prognosticar a saída da UE? Mais, ainda, faz algum sentido que nada se faça no nosso País que não tenha de ser autorizado e fiscalizado por uns senhores estranhos ao País? Até as linhas fundamentais do nosso Orçamento de Estado!
Ora bem, no plano pessoal não me acompanha qualquer sentimento anti-UE, mas tenho como assumido que esta Europa tem mudar ou resvalará para a sua auto-destruição. Daí que não me pareça que seja o Dr. António Costa a figura que esteja em causa. Estão em causa, sim, princípios e valores com os quais a esquerda, de forma responsável, não deve permitir a sua adulteração. E sendo assim, no pleno respeito por quem venceu o acto eleitoral, que governe, mas distante de uma certa promiscuidade política que conduza a não se perceber onde terminam uns partidos no plano das suas "cartas de princípios" e começam outros. Eu não vou por aí e se tal acontecer irei posicionar-me. Aí, sim, radicalmente.
Esta conversa vai longa. Fico por aqui. Um abraço.
Ilustração: Google Imagens.
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