As hipóteses de fuga às responsabilidades são diminutas. Passos Coelho tentou ajudá-lo a que saísse desta situação de forma airosa. A droga do poder foi mais forte, mas hoje enfrenta uma ressaca que só Deus sabe. Vai ter de resolver as dispensas na função pública, o encerramento das sociedades de desenvolvimento e de outras empresas públicas, as taxas moderadoras na saúde, o gravíssimo problema do pagamento pela utilização de algumas vias construídas, o IVA, os despedimentos, enfim, vai ter de roer as carências sentidas pela população, mas sem um cêntimo no cofre. A pesadíssima factura não será fácil de liquidar: a factura das contas e a factura social. Ele que prometeu tudo e mais alguma coisa, que resolva!
O povo decidiu. Em democracia o povo é soberano no seu veredicto. Não quer dizer que o tenha feito em sua própria defesa, mas a verdade é que decidiu e concedeu, uma vez mais, a maioria a um partido e a um homem que, pelo menos do meu ponto de vista, atentou contra os interesses do povo que lhe concedeu a vitória. Tarde ou cedo, a manipulação da palavra e as técnicas de enganar os outros serão apercebidas por aqueles que hoje lhe deram a vitória. É uma questão de tempo. Li, algures, julgo que em um blogue, recortei e guardei. Peço desculpa ao seu autor, mas aqui fica o essencial: "(...) porque falsidades há que, de tão óbvias, nunca escapariam à atenção da mais desprevenida vítima. Daí que, não poucas vezes, o manipulador recorra às chamadas meias-verdades. Reduz assim o risco de ser desmascarado e, mesmo no caso de vir a ser descoberto, fica sempre com maior margem para engendrar uma qualquer escapatória. Basta-lhe, por exemplo, embrulhar a real intenção dolosa em mero acidente de discurso, distracção, confusão interpretativa ou até mesmo o desculpável erro. Mas as meias-verdades deixam ainda metade da manipulação à mostra. O ideal será, por isso, manipular com a própria verdade, à custa da credulidade natural das potenciais vítimas (...)". Ora, esta tem sido, grosso modo, a técnica utilizada por esse homem que trouxe a Madeira a esta situação de desgraça. E ganhou (em número de mandatos) utilizando todos os poderes: o Jornal da Madeira para a mais descarada promoção partidária, pagando o desvario com os dinheiros de todos nós; ganhou, comprando o silêncio da Igreja Católica com subsídios para novos templos; comprando as consciências à custa de muita telha, cimento, blocos e tinta; ganhou, fomentando o futebol profissional e multiplicando uma legião de caciques por todo o lado; ganhou impondo a lei da rolha a todos os colaboradores directos e indirectos; ganhou, gastando o dinheiro que tinha e o que não tinha em obras sem retorno económico e social; ganhou, distribuindo, em plena campanha eleitoral, milhares de cabazes aos mais pobres, dando de comer, em comícios-jantar de borla, a cerca de 30.000 pessoas; ganhou, "permitindo" a escolarização mas não a EDUCAÇÃO, condicionando o povo e não o libertando, fomentando, simultaneamente, ao longo de anos, a existência de um inimigo externo para que pudesse passar incólume ao desastre das suas políticas; ganhou ofendendo tudo e todos aqueles que se lhe opuseram; ganhou, oferecendo lugares e favorecendo, com as suas políticas, a existência de grupos económicos protegidos capazes de multiplicarem a "voz-do-dono". Ganhou, é verdade, nos mandatos, mas a sociedade perdeu em toda a linha. A sociedade não sabe o que lhe espera em função dos desvarios protagonizados por um homem, descredibilizado no plano nacional e incapaz de ser ouvido. Nem o seu partido o escuta.
Mas, agora, terá de responsabilizar-se e de roer o monumental osso depois de ter extraído e distribuído toda a carninha. De nada lhe valerá dizer que não aceita imposições vindas de fora. O próprio secretário-geral nacional do PSD, José Matos Rosa, ainda ontem sublinhou: "(...) o PSD nacional encara o resultado destas eleições com muita humildade, mas também como uma nova oportunidade que é confiada aos sociais-democratas da Madeira para corrigirem os fortes desequilíbrios económicos, financeiros no território e para mudarem de atitude quanto à geração de responsabilidades financeiras futuras". Está tudo dito. Esta declaração, conjugada com outras do Ministro das Finanças, conduzirá a que, ao programa da troika no plano nacional, juntar-se-ão as imposições no plano da Região. Lamento o que se está a passar, pois a fragilidade da economia da Madeira e do seu povo não suportam novos agravamentos. Há pobreza e falta de liquidez em todos os sectores e este homem que conquistou 26 mandatos, porque não é confiável nem demonstra qualquer capacidade de negociação, das duas, uma: ou roe o osso e aí a população abrirá os olhos, ou demitir-se-á abrindo uma crise que, provavelmente, conduzirá a novas eleições. Até Março do próximo ano será definido o próximo futuro da Região. O homem que conduziu ao desastre está entre a espada e a parede. As hipóteses de fuga às responsabilidades são diminutas. Passos Coelho tentou ajudá-lo a que saísse desta situação de forma airosa. A droga do poder foi mais forte, mas hoje enfrenta uma ressaca que só Deus sabe! Vai ter de resolver as dispensas na função pública, o encerramento das sociedades de desenvolvimento e de outras empresas públicas, as taxas moderadoras na saúde, o gravíssimo problema do pagamento pela utilização de algumas vias construídas, o IVA, os despedimentos, enfim, vai ter de roer as carências sentidas pela população, mas sem um cêntimo no cofre. A pesadíssima factura não será fácil de liquidar: a factura das contas e a factura social. Ele que prometeu tudo e mais alguma coisa, que resolva!
Ilustração: Google Imagens.
12 comentários:
Meu Caro Amigo
Permita-me que subscreva, na íntegra,tudo o que escreveu.
Um abraço.
A dívida da REFER e dos Metros é maior do que a da Madeira: 5.8 mil milhões de Eur.
O PS-M tem e teve dentro de si as pessoas que deram força ao PND+PTP, partidos estes que ficaram com os descontentes.
Rui Caetano tem razão!
Caro André Escórcio
Com vitória eleitoral ou sem ela, o jardinismo estava condenado à partida. Não vai haver dinheiro para o regabofe e está tudo dito.
De certa forma, até tive algum gozo com esta viória de Jardim, embora a garrafa de espumante que tinha reservada para ontem continue no frigorífico à espera de melhores dias. Mas penso que será por pouco tempo, porque os presentes envenenados são fatalmente efémeros...
Quanto ao seu partido do qual não sou militante como sabe, lamento o resultado obtido. As oposições à direita do PS são muito pouco credíveis, a despeito da voz grossa de José Manuel Rodrigues que, diga-se em abono da verdade, arrecadou uma vitória de Pirro.
Quanto ao PS, ignorou todos os avisos, a despeito do alarme causado pelas últimas eleições presidenciais. Manteve o mesmo estilo. E a actual chefia, mal disfarçada por um candidato arrebanhado à pressa, apesar das suas reais qualidades, não convenceu muita gente, como se viu.
A não se fazer uma profunda remodelação dentro do seu partido, nas pessoas e nos métodos, a oposição madeirense ficará ferida de morte. E o futuro da democracia comprometido.
REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA: TUDO TEM O SEU TEMPO. ESTE PS JÁ TEVE O SEU.
Rua. Adeus...
Obrigado pelos vossos comentários.
Apenas uma nota ao "anónimo": O Dr. Rui Caetano não tem razão. É a minha opinião.
Quanto ao senhor "atento", respondo-lhe da seguinte forma: "não bem que sempre dure nem mal que ature". Embora lhe pudesse dizer que AJJ já teve o seu tempo! Aliás, o PS nunca foi poder, pelo que, não teve o seu tempo!
Este PS. Com estas pessoas...
Não outro, que se crie a partir do zero.
Este PS já teve o seu tempo.
Já colocou o partido em ridículos 11,5%, com o Coelho aos seus calcanhares...
A tarefa de Bernardo Trindade é, agora mais fácil, considerando o ponto de partida onde os senhores colocaram o PS. Pois, partindo de 11,5% qualquer ganho miserável poderá ser considerado uma vitória.
Esta é a realidade.
Está na hora de saírem todos. E virem outros.
Tem razão o dr Rui Caetano e o povo eleitor!
Se o PS-M continuar a desprezar o povo eleitor, a ser anti-regionalista e vaidoso, continuará como 3º partido da RAM e sempre abaixo dos 20%, o que é inacreditável.
Julgo ser razoável esperar que todos os que apoiaram a recente estratégia derrotada do PS-M se DEMITAM DE VEZ! Caso contrário, é "tachismo", desculpe que diga.
Não gosto do anonimato nem dos pseudónimos. Sabe, Senhor "Atento", aprecio a frontalidade, mas de rosto descoberto. Como eu faço. Nunca escrevi fosse o que fosse sob a capa do disfarce. Mais, ainda, não gosto de dialogar com pessoas que não analisam. Leia o meu texto, se puder e tiver paciência, com atenção e venha, depois, frontalmente discutir os problemas e o futuro. Bater por bater sem conhecer a realidade não faz o meu jeito.
Quanto ao último "anónimo", por favor... PS anti-regionalista e vaidoso para além de antro de tachistas, meu caro, desculpar-me-á mas não sabe o que diz, para além de ser injusto. Há centenas de pessoas que trabalham de forma séria e gratuita. Pessoas que têm profissão e que não fazem do exercício da política um espaço de sobrevivência. Pessoas que dão o melhor de si para que a Região tenha futuro e para que a sua população seja feliz.
Os resultados eleitorais devem ser analisados de uma forma profunda e não superficial. Devem ser contextualizados na realidade política que nos cerca. Se isso não for feito, obviamente que se cai na tentação fácil de fulanizar. Esse é o caminho que mais interessa ao PSD e nesse ninguém deve cair. Pelo mennos eu não caio.
caro dr Escórcio:
não fulanizei. Mas os partidos são feitos de "fulanos", pessoas. E hoje vota-se muito em "fulanos".
Então, se não cai nisso, nada vai conseguir fazer pela sua terra, pois vai perder sempre, orgulhosamente...
Até ouvi 2 ou 3 dirigentes do PS-M a dizerem que foi o povo eleitor que não compreendeu a mensagem do PS-M... Inacreditável! Talvez o PS-M actual queira demitir o povo... Mas não vai dar!
Enquanto o PS-M tiver nas suas hostes principais pessoas de Direita (neste momento, tem 2 pelo menos) e anti-regionais, será um partidozinho...
Obrigado pelo seu novo comentário.
Vamos lá ver: será sua opinião que o PS tenha de descer muito baixo, ao nível da linguagem e do pensamento político, para obter votos, ou deve assumir uma pstura de credibilidade política pelas pessoas que apresenta?
Vejamos o que aconteceu à CDU e ao BE! E que razões levam as pessoas a votar PAN quando estamos num drama económico, financeiro e social? Será apenas pela via da denúncia (PTP) que lá se chega?
Temos de ir mais longe e analisar as causas: a escola que temos, a cidadania que temos, o controlo de vários órgãos de comunicação social, a Igreja Católica, a pobreza, a idiossincrasia do nosso povo, enfim, há muito por analisar e por onde começar. É complexo, obviamente que sim, mas muito mais interessante para percebermos a engrenagem e o trabalho que deverá ser feito. Não se trata de mudar de povo, mas de compreender o seu estádio cultural.
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