E perante este baixo instinto político que busca, até no futebol, o mais primário da ignorância, os outros que conseguem ver o tabuleiro do jogo onde ele se movimenta, os outros, é que são "canalhas". Já aqui transcrevi uma frase de Lucien Romier (1885/1944) cheia de ironia: "uma equipa de futebol por cada mil habitantes e o problema social está resolvido". A frase tem muito que se lhe diga e basta ligá-la a António de Oliveira Salazar com a defesa da "Família, Fátima e Futebol", na lógica de "pobrezinhos mas honrados" ou "remendados mas limpos". E o futebol que se discute em todas as esquinas constitui um poderoso meio para esquecer as coisas sérias, as dificuldades das famílias, os erros políticos, o desastre social do desemprego. Salazar também disse que "beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses". Para o caso pode ser "poncha" em função das declarações do presidente do governo terem sido produzidas em Câmara de Lobos! Simplesmente porque isso pode ajudar a esquecer o seu velho governo de 36 anos.
As declarações do presidente do governo regional da Madeira assemelham-se aos descontos do Pingo Doce e do Continente: temos de conceder 50% ou 25% de desconto. Certo é que esse desconto fica em cartão e um dia será cobrado. Assumiu que "em trinta e tal anos nunca andei a vos esconder nada" e que, na sua opinião, o que dizem os que o "odeiam" não é para levar a sério, porque fazem parte de uma gente desprezível, isto é, pertencem aos "canalhas". Aqui, pessoalmente, a quem o comprar tenho de conceder 100% de desconto. Leve de borla o produto, entretenha-se com ele, pois o que ficou recentemente demonstrado e assumido pelo próprio é que o governo escondeu largos milhões nas contas da Região e, por isso, entre outras causas mais remotas, estamos todos aí a pagar os custos de um plano de ajustamento financeiro. Não foi o povinho que escondeu a dívida e não foram os "canalhas" que trouxeram a Madeira a este ponto de dependência externa face ao estrangulamento interno. Não foram aqueles que politicamente o "odeiam" que são os culpados pelo desastre económico, financeiro e social. Metaforicamente, assumo que, nesta "venda", não estou a fazer "dumping", apenas a vender com 100% de desconto por tratar-se de um produto cujo prazo de validade está no limite. Alguém que fique com ele e que o leve para casa.
É claro que ele sabe onde fala e para quem fala. Conhece a idiossincrasia do povo, conhece os níveis de analfabetismo político entre outros analfabetismos, sabe que pode assumir num curto espaço de vinte e quatro horas, sobre o mesmo assunto, versões diferentes. E se ontem disse o que disse, hoje, na festa da cebola, ao descascar o seu discurso (se lá for, claro, pois poderá ser a vez do inefável MAC), poderá "chorar" na lógica do "ajudei-vos, ajudem-me" contra aqueles que me "odeiam", contra os "canalhas" da política que não querem que o povo ande "prà frente, sempre"!
É espantosa esta forma de exercer o poder. Sou do Marítimo, mas quero que hoje o Bairro da Argentina ganhe a Taça da Madeira de Futsal, simplesmente porque está a falar para as gentes daquele bairro. E surgiram os aplausos do povinho, aplausos que escondem o que ele na realidade pretende no plano político. E perante este baixo instinto político que busca, até no futebol, o mais primário da ignorância, os outros que conseguem ver o tabuleiro do jogo onde ele se movimenta, os outros, é que são "canalhas". Já aqui transcrevi uma frase de Lucien Romier (1885/1944) cheia de ironia: "uma equipa de futebol por cada mil habitantes e o problema social está resolvido". A frase tem muito que se lhe diga e basta ligá-la a António de Oliveira Salazar com a defesa da "Família, Fátima e Futebol", na lógica de "pobrezinhos mas honrados" ou "remendados mas limpos". E o futebol que se discute em todas as esquinas constitui um poderoso meio para esquecer as coisas sérias, as dificuldades das famílias, os erros políticos, o desastre social do desemprego. Salazar também disse que "beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses". Para o caso pode ser "poncha" em função das declarações do presidente do governo terem sido produzidas em Câmara de Lobos! Simplesmente porque isso pode ajudar a esquecer o seu velho governo de 36 anos.
Bom, mas estou para aqui a falar de Salazar quando deveria estar a escrever sobre Jardim. Será que bate certo ou será mera coincidência?
Ilustração: Google Imagens.
2 comentários:
Caro André Escórcio
O discurso de Jardim sempre foi agressivo e malcriado.
Mas, nos tempos que correm, piorou. O que parecia ser impossível, de tão reles que já era.
Os sinais de pânico são evidentes.
Só lhe falta dizer, a respeito dos madeirenses e parafraseando o velho ditador ( este ao menos era educado e tinha boas maneiras), "orgulhosamente sós".
Caríssimo,
De facto já não se pode suportar tanto paleio malcriado e, sobretudo, tanta ausência de vergonha. Sente-se a ilha a afundar-se no plano económico e financeiro e ele continua aí como se não tivesse responsabilidades...
Não há pachorra!
Um bom Domingo.
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