Saberá Nuno Crato, Ministro da Educação, o significado das suas palavras na Assembleia da República? Com que então... "a exigência é amiga dos pobres". Saberá Nuno Crato o que é um pobre? Conhecerá o drama de milhares de famílias que não podem pensar numa educação a vinte anos, porque têm de pensar a vida ao mês, à semana e, muitas vezes, ao dia? Saberá Nuno Crato o que acontece nas escolas e as condições sociais que ali chegam que colocam direcções executivas e professores em geral à beira de um ataque de nervos? Conhecerá a indecorosa política de acção social? E mais especificamente, quanto aos programas de Matemática, não desconfia, nem um pouquinho, que alguma coisa não bate certo quando milhares de professores e associações de matemática apontam o dedo ao ministro dizendo que o seu projecto está errado? Saberá o que significa o desemprego, a fome, a emigração e as consequências nas idades de formação? Dominará, minimamente, a necessária articulação e graus de exigência entre os diversos ciclos de estudo? Saberá alguma coisa de POLÍTICA EDUCATIVA? Não seria mais avisado ouvir os mais experimentados, as escolas, as associações, mesmo que para ele, ministro, constituam mais joio que trigo, quando os submete a ridículos exames?
Deixo aqui uma conhecida história que Nuno Crato deveria ter em consideração:
"Um homem, que tinha 17 camelos e 3 filhos, morreu.
Quando o testamento foi aberto, dizia que metade dos camelos ficaria para o filho mais velho, um terço para o segundo e um nono para o terceiro.
O que fazer?
Eram dezessete camelos; como dar metade ao mais velho? Um dos animais deveria ser cortado ao meio?
Tal não iria resolver, porque um terço deveria ser dado ao segundo filho. E a nona parte ao terceiro.
É claro que os filhos correram em busca do homem mais erudito da cidade, o estudioso, o matemático.
Ele raciocinou muito e não conseguiu encontrar a solução, já que a mesma é matemática.
Então alguém sugeriu: "É melhor procurarem alguém que saiba de camelos, não de matemática".
Procuraram assim o Sheik, homem bastante idoso e inculto, mas com muito saber de experiência feito.
Contaram-lhe o problema.
O velho riu e disse: "É muito simples, não se preocupem".
Emprestou um dos seus camelos - eram agora 18 - e depois fez a divisão. Nove foram dados ao primeiro filho, que ficou satisfeito. Ao segundo coube a terça parte - seis camelos - e ao terceiro filho foram dados dois camelos - a nona parte. Sobrou um camelo: o que foi emprestado.
O velho pegou seu camelo de volta e disse: "Agora podem ir".
Esta história foi contada no livro "Palavras de fogo", de Rajneesh e serve para ilustrar a diferença entre a sabedoria e a erudição. Ele conclui dizendo: "A sabedoria é prática, o que não acontece com a erudição. A cultura é abstrata, a sabedoria é terrena; a erudição são palavras e a sabedoria é experiência."
Moral da história: o ministro Nuno Crato deveria escutar os professores, repito, antes de enveredar pelas palavras, conceitos e programas aparentemente eruditos, mas sem qualquer sabedoria que só a experiência é portadora. É claro que esta história com camelos também funciona com burros, já que, segundo o ministro, em Portugal, parece existirem mais burros que camelos.
Quando manda pela borda fora os professores, quando reduz a intervenção pedagógica precoce, logo nas primeiras idades, quando o governo a que pertence deixa degradar o tecido social, quando reduz, substancialmente, o orçamento para a Educação, quando sobrecarrega os professores com desnecessários processos burocráticos e não pedagógicos, quando a autonomia das escolas é claramente mitigada, quando os alunos e as famílias não são o centro do processo educativo, quando aposta no privado e não no sector público, parece-me evidente que por maior exigência que seja feita ela não é, de todo, "amiga dos pobres". É paleio! Simplesmente porque existem numerosas variáveis que deveriam ser acauteladas para que a exigência, o rigor, o trabalho com resultados possa ser interligado e eficaz.
Ilustração: Google Imagens.
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