A propósito de um texto que ontem aqui deixei, recebi o seguinte comentário de um leitor "anónimo": "Na área do desporto devíamos seguir o exemplo de países mais avançados como a Dinamarca em que o desporto é gerido pelo ministério da Cultura! Da Cultura! Em Portugal é tudo ao contrário." Concordo. E diria mais, a Cultura na Educação e o "desporto" profissional no sector empresarial. É por isso que considero inapropriado quando vejo inscrições em viaturas de transporte de praticantes desportivos do tipo: "Ao serviço do desporto e da cultura", como se ambos os sectores fossem, necessariamente, distintos. Não são. Leio, em Manuel Sérgio, "Algumas Teses sobre Desporto", páginas 25 a 28: "(…) O desporto é, acima de tudo, um processo de criação cultural". E dirigindo-se ao desportista, sublinha: "Considera o desporto, sobretudo como um factor educativo insubstituível, que visa tanto a saúde como a promoção e a libertação dos agentes do desporto; que procura tanto o lazer e a reabilitação, como a construção de um espaço onde seja possível educar para a cidadania. Se na prática do desporto encontrares graves inconvenientes, encaminha-te (nesta sociedade, que vivemos, da informação e do saber) para normas, valores, produtos e símbolos culturais da sociedade. Verás, aí, com nitidez, as causas das causas das anomalias do desporto. (…) O desporto é parte integrante da cultura (a cultura nasce sob a forma de jogo, disse Huizinga): fundamenta-se na ciência, alimenta-se dos princípios que consubstanciam o humanismo contemporâneo, pode exercitar as liberdades fundamentais da pessoa, ajuda a um troca fecunda entre as várias culturas (…)".
O problema, disse e bem Agustina Bessa-Luís, sobre o analfabetismo, inclusive, o de natureza cultural: "(...) a par dessa chaga que tarde em sarar, temos o analfabetismo inculto, aquele que sabendo ler e escrever, licenciado ou não, ocupa posições de chefia nos governos, nas empresas, no ensino, e que não é capaz de produzir os valores reclamados pelos cidadãos e de que o País tanto precisa". O drama reside aí, nos que ocupam lugares de responsabilidade política, mas que evidenciam uma impreparação cultural que obsta a mudança de paradigma. Repetem o erro vezes sem conta, legislatura após legislatura, numa lógica absurda e concordante com os tempos que vivemos. Li um artigo do Professor Manuel Sérgio, Filósofo, na edição de O Desporto Madeira de 27.11.03: "(…) O interesse do capitalismo vigente é querer democratizar na medida em que quer vender. O desporto como mercadoria, a cultura como produto vendável, segundo as leis do mercado, é tudo quanto o capitalismo sabe de cultura e desporto (…)". Daí que se possa sintetizar que se a mentalidade que guia a sociedade está errada o desporto não pode estar certo. Mais, ainda, alguém conhecerá, na Madeira, Região Autónoma, pobre, assimétrica e dependente, uma carta orientadora dos princípios norteadores de um política cultural? O que existe é uma política de subsidiodependência que rebentou pelas costuras e que hoje coloca todo o associativismo em estado de angústia.
Ilustração: Google Imagens.
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